Yosemite: o melhor motivo para ir à Califórnia

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Conteúdo do Artigo

Tenho esperado por uma chance de ir à Califórnia novamente, mas como ela ainda não rolou, resolvi tirar da gaveta bilhetes aéreos, panfletinhos, mapas e recibos de hotéis da minha tão querida primeira viagem ao exterior, que tinha a Califórnia como o estado americano com mais círculos rabiscados no mapa: San Diego, Anaheinm, Los Angeles e a mítica HW 1, Monterey, Carmel, Sacramento, São Francisco, Solvang e o Yosemite National Park.

Atualização: Eu voltei, 20 anos e 2 meses depois voltei à Califórnia e trouxe na mala muitas dicas. Confira na página-índice Califórnia dicas de Yosemite e das cidades citadas acima.

O cinema sempre nos intriga com a ideia de viajarmos em máquinas do tempo e os cientistas com a teoria de um tempo não linear, mas acho que cada um de nós guarda a habilidade de viajar no tempo e de reviver boas e não tão boas experiências: encontrar velhos amigos, reler livros, dançar aquela canção, encontrar numa caixa empoeirada um diário perdido ou fotos das quais você nem lembrava da existência. Volto a 1996 para contar minha experiência em um dos parques nacionais mais bonitos do mundo, o Yosemite National Park, paixão antiga que revelo agora, e te convido para reviajar comigo.

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Maridão diante das raízes de uma árvore caída

Assim como as Montanhas Rochosas Canadenses, conheci Yosemite por meio da extinta revista Os Caminhos da Terra e foi também desejo à primeira vista. Se você já leu aqui alguns destinos escolhidos por mim, sabe que tenho uma queda por montanhas. E a natureza caprichou nessa região da Califórnia chamada Sierra Nevada: sequóias gigantes, vale entre paredões verticais de granito que parecem estar numa improvável competição de beleza, cachoeiras, trilhas entre sequóias com a possibilidade de um encontro animal – literalmente! A fauna é rica em ursos, lobos, linces, veados. Se fosse um safari, eu teria ganhado o troféu dos Dangerous Three. Leia mais abaixo em Saída pela Direita.

“O Lugar mais Bonito da Terra”
A frase não é minha, mas do presidente americano Theodore Roosevelt (para fins didáticos, aquele interpretado por Robin Williams no filme Uma Noite no Museu) ao se postar no mirante Glacier Point ao lado de John Muir, em 1903, tal qual os turistas da foto abaixo. Mas John  Muir é que era o cara! Maior naturalista americano, lutou pela proteção do Vale de Yosemite e seu nome está diretamente associado ao parque, assim como Pelé ao futebol. Sua primeira visita aconteceu em 1868 e já é uma viagem imaginar como deve ter sido subir a serra no lombo de um cavalo, numa distância de 314 quilômetros a partir de São Francisco.

Glacier Point, mas pode chamar de "lugar mais Bonito do Mundo"
Glacier Point, mas pode chamar de “lugar mais Bonito do Mundo”

Um pouco de Historia
O vale há séculos era habitado pelos índios Miwoks (olha que lindo o significado de Miwoks: gente), que o conheciam como “Ahwahnee” (uma fonte disse significar “lugar com boca larga”, outra “profundo vale atapetado de ervas”. O pessoal do Colorado, Washington e Oregon prefere a última versão?). Tudo parecia tranquilo e a vida corria como as águas do Rio Merced que corta o parque, até a explosão da Corrida do Ouro, que levou um exército de homens brancos à região. Esse tipo de historia você conhece bem: além da disputa por terras, as doenças trazidas pela cultura branca foram fatais à população nativa. Sentindo-se ameaçados, os nativos atacaram o forte de John Savage, mercador que abastecia os mineiros. Levaram a pior. Entre os primeiros contatos com o homem branco e o censo de 1910, os Miwoks haviam perdido mais de 90% de seus membros. Em 1864 o presidente Lincoln assinou um decreto declarando o Vale de Yosemite e Mariposa Grove pertencentes à Califórnia, hoje parte do Parque Yosemite.

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Os Miwoks de Yosemite e seus trabalhos de cestaria


Sequóias gigantes
Nunca ouviu falar em sequóias? São os maiores seres vivos do planeta, você deve ter visto nos livros de Geografia do EF II. As sequóias são nativas da América do Norte apenas, embora sementes tenham sido plantadas em outros continentes depois que foram descobertas em 1833. Eu vi algumas este ano na Ilha Vitória, região de Bariloche, Argentina. Em Canela, no RS, existe um parque onde foram plantadas sequóias há 70 anos, mas considerando que na Califórnia essas gigantes chegam a quase 3.000 anos de idade, as sequóias gaúchas estão apenas no começo da vida. Que assim seja! Além da longevidade, sequóias podem alcançar 80 metros de altura  e ter 30 metros de circunferência.  A foto analógica abaixo talvez dê uma ideia da circunferência delas. Estou numa espécie de porta, e esta árvore é uma grande sala, podendo-se caminhar dentro e abrigar umas 10 pessoas confortavelmente. Fotografá-las é extremamente frustrante, pois além da circunferência e altura, estão em mata fechada, impedindo que nos afastemos para alcançar uma área fotografável maior. Mas naquela época eu era péssima fotógrafa, mesmo. rsrsrs

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Não estava entre duas árvores, mas num vão de uma única sequoia

O que Fazer em Yosemite
Este pode ser um destino contemplativo, do tipo que você passa de carro, fotografa, roda um pouco, desce, fotografa, roda mais um pouco, faz uma selfie… Ou pode ser uma experiência mais rica, dependendo de sua disposição para caminhar e disponibilidade de tempo.

Nossa intenção era passar o dia, mas ficamos tão encantados que retornamos no dia seguinte, encarando o bate-volta de quase 2 horas até Sonora, onde ficava o hotel reservado. Abaixo, alguns pontos populares e por onde se chega de carro:

  • Tunnel View te deixa de queixo caído logo que você chega à entrada Sul do parque, pelo menos foi assim pra mim, que não tinha visto nenhuma foto daquele ponto em lugar algum. Internet é bom demais, mas tira o gostinho da surpresa algumas vezes. Em 1996 não tinha Google…
Oh, captain, my captain! à esquerda e HalfDome à direita
Tunnel View
  •  Yosemite Valley. Além do centro de informações onde se pode obter mapas e comprar livros educativos, bonés, cartões postais, etc., o Vale conta com museus e centros de educação ambiental. A Galeria de Arte Ansel Adams, fotógrafo que na década de 1950 fazia fotos PB incríveis do parque, é uma das opções.
Ansel Adams: man at work!
Ansel Adams: man at work!
Descansando na trilha para Yosemite Falls e admirando o Vale
Descansando na trilha para Yosemite Falls e admirando o Vale
  •  Bridal Veil foi outro ponto em que meus olhos se esbugalharam. É uma cachoeira em queda livre e que, diferente das demais tem um fluxo maior de água mesmo no verão, pois seu curso tem mais vegetação.
  •  Yosemite Falls são quedas d’água em cujas bases você pode chegar por trilha morro acima. Lower Fall em 20 minutos e Upper em 3 horas. O volume de água é maior na primavera, pois toda a água provém de degelo. Em Julho, quando estivemos lá, as cachoeiras já tinham seu volume reduzido. Aliás, primavera é também a melhor época para fotografar as montanhas espelhadas no Rio Merced. Voltando: nós fizemos a trilha para Lower Yosemite Fall e chegar na base não é o mais emocionante, eu garanto. Não se você avistar um leão da montanha na trilha, ali pertinho de você! OK, eu não entrei em pânico porque ele se parecida com um gato muuuito grande e porque não deu atenção à nossa presença. Eu tinha lido o que fazer no caso de um encontro como esse: “faça se parecer alto e grande, erga os braços. Se o leão agir agressivamente, balance os braços, grite e jogue objetos nele.” Acho que tivemos muta sorte em avistá-lo, pois como eles têm alimento farto, não se interessam por humanos e mantém distância. Esperto esses caras!
  • Camping, Trilhas, Rafting, Ciclismo, Cavalgadas e quem sabe você não é daqueles malucos que se penduram em rochas? Yosemite é a meca deles!
yosemite climber
  • Wawona é uma área mais ao Sul do Parque onde fica Mariposa Grove, o bosque de sequoias gigantes mais impressionantes de toda Califórnia. Lá também estão o Hotel Wawona, o Pioneer History Center e uma daquelas pontes cobertas tipo “As Pontes de Madison”, que foi feita em 1875, e o lugar tem um jeitão de velho oeste.

Foi lá que vivemos outra emoção animal:

Saída pela direita!
Era fim de tarde. Como todo vale, as montanhas escondiam a luz solar, filtrada também pelos pinheiros e sequoias. Mas mesmo assim insisti que pegássemos mais uma trilha: “a gente vai rapidinho, em trote, dá tempo de voltarmos antes de anoitecer”. Meu marido concordou mesmo contrariado, como sempre faz quando insisto demais em algo. Homem sábio, esse. A trilha levava a uma sequoia gigante histórica, e veja só que ironia, nem me lembro qual delas era e minhas anotações só revelam que ela havia caído em 1969… Mas hoje tenho uma historia pra contar: não havia ninguém na trilha. os grupos de excursão tinham partido, as pessoas estavam deixando o parque ou voltando para seus alojamentos e só os dois manés permaneceram por ali. Já tínhamos nos afastado um pouco do último ponto “civilizado”, uma cabana de manutenção ou algo parecido, quando um lobo (ou será que era um coiote?) repousou seus lindos olhos sobre nós. “Meu Deus, tá vendo isso, Márcia?”, “É um lobo?!, respondi meio perguntando e agarrei um galho no chão. Veja bem, naquela época não havia saga crepúsculo e eu fiquei profundamente preocupada. Se o bicho resolvesse nos atacar ali, o que seria de nós, não havia celular, spray de pimenta, nem um apito eu tinha comigo! Quando me reergui, ele nos tinha dado as costas e eu nem pensei em sequoia caída em 1969. Nunca corri tanto na minha vida! Não tinha coragem nem de perder milésimos de segundos para me voltar e olhar se ele estava nos seguindo. Eu só repetia “Ele tá vindo, ele tá vindo?” Mesmo com a negativa do Álvaro, eu não parava de correr.

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Tinha um túnel no meio da árvore. No meio da árvore, tinha um túnel. Apesar da negatividade, estamos evoluindo: hoje temos Internet e não serramos uma árvore para servir de túnel!

Como chegar a Yosemite
O percurso é prazeroso e a serra que pegamos para voltar ao hotel em Sonora é uma das lembranças que marcaram a viagem. Veja no website oficial de Yosemite como chegar lá, pois algumas estradas fecham no inverno. A foto abaixo foi tirada em nosso retorno a Sonora.

A caminho de Sonora
A caminho de Sonora, depois de um dia de encantamento


Retiro espiritual
Gosto muito de viajar a cidades e capitais européias, onde visito museus, admiro a arquitetura, procuro entender um pouco da cultura do povo, mas conhecer lugares como Torres del Paine, Grand Canyon, Machu Picchu e Yosemite é como voltar de um retiro espiritual. A conexão com a natureza é própria do ser humano, somos parte dela, e nossas vidas em cidades grandes, enfiados entre quatro paredes e cada vez mais conectados a máquinas nos distancia dessa sensação de pertencimento. Não é à toa que o mundo está desse jeito. Quando nos afastamos de nossa casa, ela vira uma bagunça.

Marcia Picorallo

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Escrevo o Mulher Casada Viaja com carinho desde 2014, compartilhando minhas impressões dos lugares por onde passei, inspirando e ajudando leitores a planejar suas aventuras.

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Márcia, a viajante

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COMENTÁRIOS

8 respostas

  1. Oi Márcia, td bem ? Muito legal e útil as suas dicas, estou anotando td ! Só posso ir para Yosemite nas férias escolares, ou seja, Janeiro ou Julho. Qual mês vc me recomenda ? Será que em Julho tem muita gente ?

    1. Yosemite é um parque muito popular e julho é bem cheio. Eu fui a primeira vez em julho de 1996, mas hoje se viaja muito mais. Mas o parque é grande e se você usar bike ou pernas imagino que não vai ser tão ruim, porque o problema é dirigir. Janeiro é inverno e algumas estradas estão fechadas e acho que só é legal para quem já foi em outras estações ou quer curtir a neve. Se for se hospedar lá dentro, reserve assim que a opção estiver disponível. Amanhã eu publicarei o roteiro de 2 dias por lá, não perca! bom planejamento pra vc!

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