atualizado em jan/22
Visitar os Jardins de Luxemburgo em Paris sabendo o que representam as estátuas, a fonte e ‘aquele palácio lindo’ vai transformar sua experiência. Não vai a Paris? Não faz mal, venha conhecer virtualmente o segundo maior parque parisiense e se inspirar. Sonhar ainda é de graça e manter o sonho costuma ser o melhor impulsionador para torná-lo real. Sim, Paris ainda desperta suspiros, mesmo depois de várias visitas e de muuuita gente.
Veja o que você encontra neste post:
O portão do parque tinha acabado de abrir naquela manhã fria de primavera e éramos os únicos por ali, muito diferente da primeira vez em Paris, quando o dia estava quente e o parque cheio de vida, com música ao vivo no coreto, parisienses tirando um cochilo nas cadeiras verdes metálicas e crianças brincando com seus barquinhos de vela em volta do lago, tulipas colorindo os canteiros em frente ao Palácio de Luxemburgo, atual sede do senado francês.
As estátuas dos Jardins de Luxemburgo
Naquela terceira vez nos Jardins de Luxemburgo em Paris não tive muitas distrações e parei em frente à estátua de Marguerite como quem encontra a foto de um velho amigo e fica a sorrir relembrando os momentos compartilhados. Infelizmente não tenho mãquina do tempo nem o dom de Claire Fraser (da série de livros e Netflix Outlander) para voltar séculos atrás e viver uma história em que ninguém acreditaria. Foram os romances históricos de Jean Plaidy sobre a saga dos Plantagenetas que me permitiram conhecer um pouco sobre os primórdios da monarquia na França e Inglaterra.
Marguerite é apenas uma das 20 rainhas francesas escolhidas pelo rei Luís Felipe em 1843 representadas em estátuas nos Jardins de Luxemburgo, e muitas delas foram o que hoje se gasta chamar de empoderadas, em séculos em que as mulheres, inclusive rainhas, mal sonhavam com direitos iguais entre os sexos, mas algumas reinavam com mão de ferro quando o rei por uma razão ou outra não o fazia. Sugiro que assista na Netflix ao documentário She-Wolves para saber sobre algumas delas.
Além das 20 estátuas reais, os Jardins de Luxemburgo de Paris têm outras dezenas de esculturas e monumentos que foram sendo acrescentados ao longo dos anos, como o primeiro estudo da Estátua da Liberdade de Nova Iorque, uma versão francesa da Boca da Verdade de Roma e bustos de escritores e cientistas. Confira abaixo tudo o que o Luxemburgo tem a oferecer:
Uma figura marcante e controversa que ganhou uma estátua nos jardins é a escritora/marquesa de Dudevant, Amantine-Lucile-Aurore Dupin (1804-1876), que usou não apenas um pseudônimo masculino, George Sand, mas circulava por Paris com roupas masculinas, fumava em público e dividia opiniões de ilustres escritores, como Baudelaire e Balzac.
A escultura abaixo é muito fotografada por causa do Pantheon que aparece imponente ao fundo. Representa um ator grego ensaiando suas falas, com o manuscrito em mãos e uma máscara que usará durante a apresentação. A pomba, bem, a pomba também está fazendo seu papel…
No outro extremo do gramado, outra estátua popular, o Fauno Dançante. Não sei se você conhece o Conexão Paris, um blog escrito por mãe e filha brasileiras que compartilham dicas da cidade onde vivem. Foi lá que li há alguns anos a história sobre a estátua do fauno. Assim como o ator grego, esta talvez seja um ator representando um fauno, que é uma figura mitológica metade humana e metade bode, sempre tocando uma flauta. Reproduzo aqui o trecho curioso de uma lenda um pouco mais urbana e contemporânea, com a licença concedida pelo autor, na época em que li o post:
“Desde que aí ele foi colocado, testemunhas afirmam que à meia noite em ponto ele dança. As testemunhas afirmam também que para vê-lo dançar é necessário beber um odre de vinho. O odre é feito de couro de bode ou de cabra. Em seguida o couro é curtido com azeite. Uma vez cheio de vinho, é extremamente difícil se equilibrar em cima dele. Nas Dionisíacas na Grécia, as festas de Dionysos, o deus da uva, do vinho e do excesso, havia um prêmio para quem ficasse mais tempo em equilíbrio sobre o odre cheio.”
Tenho certeza de que você vai se lembrar disso quando estiver frente a frente com o fauno. Pena que à meia noite o parque está fechado, mas se você tiver bebido um odre de vinho, pode tentar ver a dança pelas grades na Rue de Médicis.
Os Jardins de Luxemburgo são um parque, então além de espaço contemplativo da natureza e de arte, oferece quadras de tênis, pomar de maçãs e peras, café com mesas ao ar livre, teatro de fantoches e carrossel, um gramado pequeno onde se pode pisar, sentar e deitar para tomar sol, e música ao vivo no coreto durante o verão.
A Fonte de Médici
Se você não tiver muito tempo para explorar os Jardins de Luxemburgo, visite ao menos a fonte de Medici, desenhada pelo florentino Tommaso Francini em 1630. Dois séculos depois estava em ruínas, tendo sido recuperada por Napoleão Bonaparte em 1811, quando foi transportada para a atual localização no parque.
O lugar é bem sombreado pelos plátanos (lindos no outono!) e acabei estourando a foto, mas assim dá pra ver as heras pendendo em arcos adornando o entorno do espelho d’água, e o reflexo de elementos do mito grego.
O grandão aí é o ciclope Polifemo, espiando sua amada Galateia e Ácis curtindo uma daquelas lindas praias gregas, antes de esmagar o pobre jovem com uma rocha – se fosse nos dias atuais, o alvo teria sido outro e Polifemo teria cometido feminicídio… A mãe de Àcis, ninfa dos rios, o transformou em um rio e o lançou ao mar, para nunca mais retornar à terra.
Breve histórico dos Jardins de Luxemburgo em Paris
E já que falamos em rainhas, o Luxemburgo foi construído por uma, na primeira metade do século 16, a florentina Maria de Medicis, logo após seu retorno do exílio de 4 anos. Sua intenção era ter perto de si uma referência a sua antiga residência, o Palazzo Pitti, mas não conseguiu impor o estilo arquitetônico tão característico de Florença, tendo no máximo convencido o arquiteto a italianizar alguns detalhes.
Depois de servir como palácio para a aristocracia francesa, o Luxemburgo transformou-se em prisão durante a Revolução e tem sido a sede do Senado desde 1852 e a residência oficial de seu presidente. Quintalzinho legal, esse, não?
Afinal, tem planos de ir a Paris? Confira as dicas da capital francesa na página-índice Paris e na da França, caso vá esticar a viagem à linda Alsácia ou fazer bate-voltas ou viagens a partir de Paris
Horário de Funcionamento dos Jardins de Luxemburgo
O horário de abertura e fechamento varia ao longo do ano. Veja no site oficial do Senado francês se há alguma atualização de quando pesquisei:
Eventos Culturais nos Jardins de Luxemburgo
Os eventos que haviam sido suspensos por ocnta da pandemia Covid-19 estão de volta desde o final de 2021. Exposições de fotografias, pinturas e esculturas são organizadas no Orangerie e concertos no Coreto. Quando atualizei este post em jan/22 ainda não havia sido publicada a programação anual. Se tiver interesse, vá até a página de exposições dos Jardins de Luxemburgo.
Como Chegar aos Jardins de Luxemburgo
O Luxemburgo fica no ‘meu’ bairro preferido de Paris, o 6º, bastante central e cheio de pontos turísticos, mas se estiver longe dali tem transporte fácil. De ônibus, use as linhas 21, 27, 38, 58, 82, 83, 84, 85, 89. De trem desça na estação Luxembourg-Sénat (RER B). O metrô mais próximo é o Odéon (linhas 4 e 10).
Paris tem muitos turistas e fugir para um de seus jardins é uma boa para relaxar um pouco. Confira outros jardins de Paris sugeridos pela Luciana do blog Let’s Fly Away.
Au Revoir!
Respostas de 23
Que jardim maravilhoso, vou ver o documentário na Netflix sim, parece legal e interessante 🙂
É um documentário, então pode dar um soninho, mas vai mostrando alguns pontos turísticos, castelos, igrejas. Eu gosto.
Estive diante desse fauno e a sensação é real: parece que ele vai começar a dançar a qualquer momento e levar-nos junto no seu frenesim. Lindos detalhes do meu jardim preferido de Paris.
Não sabia um monte de coisas sobre ele
Ruthia, quanto vinho você bebeu, confesse! rsrsrs
Que coincidência! Minha primeira vez em Paris foi em 2009, mas no verão. Adorei a sua abordagem! Normalmente as pessoas passam por essas estátuas e não dão a devida atenção, ou não sabem a que elas se referem.
Eu não sei o que mais me impressiona, se são as flores tão bem cuidadas ou se são as estátuas que parecem de carne e osso.
E o legal é a cada época do ano os jardins têm flores diferentes!