Quando as amigas-blogueiras do 8on8 sugeriram o tema “turistando perto da minha casa”, eu logo pensei em falar sobre São Roque, mas meu coração pediu para descrever a experiência de viver em uma chácara, mais especificamente no condomínio Porta do Sol, onde moramos desde o início da Pandemia Covid-19.
Então, talvez, este post ajude mais quem esteja pensando em comprar um pedacinho de paraíso por aqui do quem quer fazer turismo. Mas depois de 10 anos publicando sobre turismo, acho que mereço um espacinho pra falar da minha Toscana, como eu chamo carinhosamente nosso pedacinho de terra no Porta do Sol.
O condomínio Porta do Sol fica no município de Mairinque, tem a principal portaria no km 63,5 da Rodovia Castelo Branco. Basta atravessar a portaria para mergulhar na natureza! Quando volto para casa, cruzo a portaria, sorrio e agradeço pelo privilégio de viver aqui. Porque em São Paulo, eu morava e trabalhava.
O Porta do Sol é um condomínio de luxo?
Luxo é um conceito subjetivo. Para quem não tem onde morar, qualquer teto é um luxo. Na minha opinião, viver perto da natureza é um luxo. Para outros, luxo é uma casa cinematográfica de 10 suítes, piscina de borda infinita, quadra de tênis e outras mordomias, algo raro no Porta do Sol. A grande maioria das casas tem cara de casa de campo simples, com 3 dormitórios, muitas são de madeira, e não se encaixam na qualificação típica de casa de luxo.
Não há lotes menores do que 2 mil metros, então não é daqueles condomínios com casas coladas. Seu projeto dos anos 1970 teve a planta urbanística assinada por Oscar Niemeyer e Burle Marx, e da área de 16 milhões de m2, 7,5 milhões foram reservados para os lotes e 8,5 milhões de m2 para matas de preservação ambiental. Também temos uma cachoeira, aonde se chega por uma trilha fácil. Um luxo raro, não acha?
Cada lote/chácara tem seu próprio pomar, que alimenta pássaros e animais silvestres, que por sua vez ajudaram a reflorestar o espaço. O resultado depois dessas décadas todas é contar com flora e fauna abundante, abastecimento de água proveniente de nascentes e verde por todo lado.
Também acho um luxo ter um projeto de reciclagem, com vários pontos de coleta – cuja implantação tenho a alegria de dizer que influenciei, cobrando um amigo próximo que na época pertencia à diretoria administrativa. Há primaveras sobre os muros, canteiros floridos, árvores nas ruas, grama no lugar do cimento.
Afora isso, acho um luxo poder ver o horizonte, respirar ar puro, pisar na grama, colher legumes e verduras na horta, não ter grades nas janelas. Encontrar sempre as mesmas pessoas no clube, gente feliz por viver aqui.
Como é viver na Porta do Sol
Viver aqui e ter uma casa de temporada é muito diferente. Compramos nossa chácara em 2007, quando o Porta do Sol já estava bem estruturado, com calçamento na maior parte das ruas, abastecimento de água, iluminação pública. Vínhamos poucas vezes ao ano, mas era aqui que aconteciam as festas de aniversário, as fogueiras de festa junina, e onde passávamos os dias quentes de verão. Em SP era trabalho, aqui vivíamos os momentos alegres e reuníamos amigos e familiares.
Durante a pandemia, a população do Porta do Sol triplicou. 30 mil pessoas estiveram no Residencial nas festas de fim de ano de 2022! Passada a pandemia, muita gente ficou por aqui, como nós, diante da possibilidade de trabalho remoto – ou porque se encantou com a vida simples e segura.
Viver numa chácara não é pra todo mundo. Como diz a personagem da Renata Sorrah, algumas pessoas precisam ver gente, sair, bater perna. Se você é assim, talvez seja difícil se acostumar à quietude do Porta do Sol.
Mas isso não significa que não haja vida social por aqui. Acabamos fazendo amizade com vizinhos, marcamos almoços e passeios. Quem vem apenas passar os fins de semana quer se isolar, mas quem mora aqui quer confraternizar, quer ver gente rsrsrs. Além do contato com outros moradores por meio de grupos de whatsapp, nos encontramos nos espaços desportivos e culturais do condomínio, no clube. E como todo mundo aqui se sente meio isolado, é comum estarem abertos a conversas e dispostos a fazer amigos.
O Clube do Porta do Sol
Esportes
Desde que a pandemia arrefeceu, comecei a frequentar a academia do clube, a que todos os associados têm direito. Uma equipe de profissionais da educação física acompanha nossos treinos na musculação, e todos os dias há aulas diversas, como alongamento, corrida, step, hit, yoga, etc. Durante a semana, encontramos invariavelmente sempre as mesmas pessoas, o que facilita os vínculos de amizade. Já aos sábados e domingos, a frequência muda um pouco com os que vêm esporadicamente.
Ainda para os esportistas, há quadras de beach tennis, tênis, squash, campo de futebol e quadra poliesportiva coberta. E uma pista de corrida à beira do belo lago do clube.
Restaurante, bar e praça de alimentação
No clube, também temos um restaurante, uma lanchonete, e às sextas à noite uma praça de alimentação com vários food trucks e música ao vivo. Viva! nem preciso sair do condomínio para comer! O restaurante, de terça a domingo oferece pratos executivos e de quinta a domingo serve também pizzas e porções. Aos sábados, domingos e feriados uma variado buffet por quilo, em geral acompanhado por alguma atração, com música ao vivo ou karaokê.
Mas para variar o cardápio, podemos ir até o Outlet Dona Catarina, que fica a 13 km de casa, aos muitos restaurantes da Rota do Vinho de São Roque, ou ir a cidades vizinhas, como Itu (41 km), Sorocaba (44 km).
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Eventos especiais
Além de alimentar nossos corpos, todos esses espaços do clube são lugares para confraternização. Não é difícil ver moradores jogando cartas ou bilhar na sala de jogos ao lado do restaurante.
Nos finais de semana de feriados, há sempre algum evento, para adultos e ou crianças, como festas de Halloween, festival da primavera, carnaval e festa junina, acantonamento na semana das crianças, exposição de carros antigos e outros.
Não sei se você percebe, mas eu que sempre vivi em São Paulo, acho doce essa ‘intimidade’ gerada pela circunstância de ter um número reduzido de pessoas compartilhando dos mesmos problemas e benefícios de viver numa cidade-condomínio.
A Hípica
Embora nossa família não frequente a hípica, ela é outro espaço para confraternizar, e é aberta a todos os associados do Porta do Sol. Muitos cavalos podem ser montados como aluguel, desde que previamente agendado.
Por alguns anos, a hípica realizou um trabalho lindo junto da Apae Mairinque, oferecendo equoterapia, não sei exatamente porque acabou. O método terapêutico utiliza a vinculação do cavalo como forma de o paciente ativar seu tônus muscular, melhorar a coordenação motora, ampliar a concentração e autoconfiança, além de aliviar o estresse e diminuir a ansiedade.
Comércio
Não é permitido estabelecimento comercial nos limites do condomínio, por isso temos que nos deslocar. Da minha casa até o centro comercial mais próximo são 4 km, talvez a mesma distância que você percorra numa cidade grande – com a vantagem de não ter trânsito ou correr o risco de ser furtada num farol. O mercado tem tudo? Sim, o básico.
Em geral, os moradores fazem compras maiores ou de itens mais aprimorados nos supermercados de São Roque, Mairinque ou até mesmo de Sorocaba. Ou quando vão a São Paulo. Os supermercados mais próximos são limitados e mais caros, então recorremos a eles em casos de emergência.
Quando compramos a casa no condomínio Porta do Sol, precisávamos ir até o bairro Dona Catarina para fazer compras, pegando a Rodovia Mario Covas, que ainda nem era asfaltada. Vimos a chegada de comércio na portaria 2 intensificado pelo aumento da população do condomínio durante a pandemia. Hoje contamos com padaria, mercados, comércio de produtos de agro e de materiais de construção, produtos para piscina, veterinário e outros. Essa rodovia é importante para o condomínio porque faz a ligação entre as Rodovias Castelo Branco e a Raposo Tavares.
Condomínio Porta do Sol?
Bem, na verdade não somos um condomínio, mas uma associação de moradores. Não vou entrar nesse quesito, mas se você tiver interesse, procure a administração no Clube da Porta do Sol.
Segurança no condomínio Porta do Sol
Além do contato com a natureza, viver na Porta do Sol é muito tranquilo, mas não graças ao governo. A associação de moradores contrata empresa de segurança privada, que faz rondas permanentes e regulares pelas ruas e presta atendimento em casos diversos em que é solicitada. Desde que moro aqui, ficamos sabendo de apenas um caso de invasão à propriedade, e os bandidos foram presos e os objetos roubados recuperados.
Já esquecemos portão aberto diversas vezes, ocasião em que a segurança toca o sino (não temos campainha ehehe) para conferir se tudo está certo.
Ter casa sem grades nas janelas é um benefício que valorizo por morar no Porta do Sol.
Saúde e Educação
A escola municipal Felipe Lutfalla fica dentro do residencial e é frequentada majoritariamente por filhos de caseiros e prestadores com vínculos com a Porta do Sol. É lá também que os moradores que transferiram seus títulos de eleitor para Mairinque votam.
Muitos moradores estudam em São Roque, e universitários em Sorocaba, a cidade grande mais próxima da Porta do Sol.
Ao lado da escola fica o Posto de Saúde onde mantemos nossa vacinação em dia, mas muita gente usa o posto para consultas simples ou para consultas com especialistas e exames no SUS em Mairinque.
A associação dos moradores do condomínio Porta do Sol mantém também uma ambulância e equipe técnica para atender casos de primeiros socorros e encaminhar o paciente a hospital público mais próximo. Já usamos o serviço diversas vezes para meus pais, uma tranquilidade a mais quando se vive fora de regiões urbanas.
Quanto a consultas médicas e exames regulares, a maior parte dos moradores continua indo a São Paulo para isso ou tem Unimed, convênio médico e hospitalar forte no interior de São Paulo.
Transporte
Ter um carro ou moto é fundamental. Seria excelente usar bicicletas, não fosse o relevo uma coleção de subidas e descidas acentuados. Mas os moradores organizam grupos de carona para quem precisa ir a São Paulo ou outras cidades.
O Porta do Sol é muito grande. Da portaria 1 à portaria 2 são 7,5 km. Para viabilizar a prestação de serviços, o condomínio – não a prefeitura – oferece transporte em ônibus circular em horários restritos pela manhã, na hora do almoço e no final do dia.
Na portaria 1, a da Rodovia Castelo Branco, ônibus de viagem fazem parada para passageiros que precisem ir a municípios vizinhos, como São Roque, Araçariguama e até São Paulo.
Problemas
Nada é perfeito, claro. Temos vários problemas no condomínio Porta do Sol e eu cito a prestação de serviços como um dos principais. Ao fazer um orçamento de reparo, por exemplo, basta dizer que é Porta do Sol para o valor ser inflacionado. Quem constrói ou faz grandes reformas, prefere trazer mão de obra de SP.
Uma queixa comum nos grupos de proprietários é sobre os jardineiros e caseiros. Muitos aceitam prestar serviço de podas, corte de grama por horas semanais inferiores à prevista na legislação como trabalho com vínculo empregatício, mas depois entram na justiça alegando que faziam mais tempo semanal do que o contratado e efetivamente realizado.
Eu fiquei mais de 1 ano sem faxineira, porque não aguentava mais o troca troca. Depois de ter a mesma faxineira por 20 anos em SP, foi uma experiência desagradável ter tantas pessoas entrando e saindo da minha casa. E esta é outra queixa por aqui, afinal, elas preferem limpar casas ocupadas poucas vezes ao ano do que limpar as casas de quem vive aqui.
A coleta de lixo orgânico no residencial é obrigação da prefeitura de Mairinque, e várias vezes temos interrupção do serviço pelos motivos mais variados. Eu enterro cascas de frutas e legumes para reduzir o lixo, mas mesmo assim contamos com o serviço que deixa a desejar.
Outro serviço de qualidade ruim é a CPFL, responsável pela rede elétrica da maior parte do residencial/condomínio Porta do Sol. Além de a energia ser muito instável, com picos e quedas constantes, a cada serviço realizado nos postes eles desconectam os fios de redes da prestadores de Internet como a Vivo e a local 4Net. Mas no começo as quedas de energia eram mais constantes, e até hoje tenho velas e fósforos em cada cômodo da casa.
Por fim, mas um dos problemas mais graves do residencial, é o abastecimento de água. Embora não seja exclusividade do Porta do Sol, durante períodos de seca sentimos acentuadamente a ausência de água, porque temos muito verde que precisa ser regado. Meu terreno é alto, e quando falta água é um dos últimos da rua a receber água e dos primeiros a tê-la retirada. A vista compensa. Para minimizar o problema, implantamos em casa a coleta de água de chuva e a reaproveitamos para regas e até para lavar calçadas.
A fauna do residencial Porta do Sol
Para algumas pessoas os insetos e animais silvestres pode ser um problema, eu encaro como parte do pacote. Na primavera tem muitas aranhas, do tipo armadeira, venenosas. Algumas casas com mata no fundo do terreno recebem visita até de cobras.
Eu tenho que varrer a casa todos os dias, pois dedetizamos constantemente, então cada inseto que entra morre. Mas também fazem parte da fauna local quatis, tatus, pacas, capivaras, macacos e esquilos e mais raramente veados, lontras e iraras.
Há alguns meses nossa cachorrinha cheirava enlouquecidamente a máquina de secar (sim, quando chove aqui a umidade impede que as roupas sequem) e quando eu a arrastei vi um rabão de lagarto. Tirá-lo da área de serviço foi uma aventura que rendeu muitos risos. Já tivemos que tirar gambá e maritacas do forro do telhado, também. Quatis são os mais engraçados: presenciamos um no alto da mangueira, jogando as frutas para os que estavam abaixo, parecia coisa dos minions! Porcos-espinho vivem deixando sua defesa em cães que se atrevem a se aproximar. Adoro ouvir os tucanos e ainda hoje corro para avistá-los, e todo mundo de casa já aprendeu a socorrer pássaros que entram em casa ou filhotes que caem de ninhos.
Diante do desmatamento promovido pela construção do aeroporto executivo São Paulo Catarina, vimos algumas alterações na fauna, e até uma onça foi captada por câmeras do condomínio à época. A luta dos proprietários-moradores contra o aeroporto foi em vão, embora a região seja considerada Área de interesse ambiental por decreto do governo municipal. Esse decreto proíbe, entre outros, o desmatamento, a caça, captura ou extermínio da fauna, queimadas, fogos de artifício e regula ações que promovam a manutenção das nascentes. Mas não é fácil lutar contra os gigantes…
Afinal, como é viver no condomínio Porta do Sol?
Não é para qualquer um, tem gente que não se adapta. É para quem gosta do contato com a natureza, mesmo que isso signifique encontros com insetos e grandes aranhas que nunca vê em grandes cidades (mas não temos baratas ou ratos!). É para quem está aposentado ou trabalha remoto e não se incomoda com vida social pacata. Acima de tudo, viver no Porta do Sol é para quem percebe que o que uma metrópole como São Paulo oferece pode ser aproveitado sem ter que viver lá.
Para mim, é onde estão as maiores recordações dos encontros de família, de filha e sobrinhos brincando e colhendo frutas, de cães da família correndo felizes. É onde a natureza grita, por meio das plantas, flores e árvores, que tudo tem um começo, meio e fim. Onde a passagem das estações é mais notada, assim como o tempo. Enfim, onde a vida realmente acontece, embora pareça que nada acontece.
Turistando perto de Casa
Veja as dicas compartilhadas pelas autoras dos blogs do 8on8 participantes neste dia 8:
- Let’s Fly Away – Como é visitar a Casa Roberto Marinho no Rio de Janeiro?
- Travel Tips Brasil – Parque da Cidade Niterói: 1 paraíso em nossa cidade
- Destinos Por Onde Andei… – Igreja Matriz de Santo Antônio, Santa Bárbara, MG
- Entre Mochilas e Malinhas – O que fazer em São José dos Campos com crianças
Respostas de 4
Nossa o Por do Sol é um condomínio super completo! Gostei da referência à Renata Sorrah, eu adoro esse meme. rs
Achei super interessante que a planta urbanística tenha sido projetada por grandes nomes como Niemeyer e Burle Marx. Isso sim é um luxo! 🙂
E por fim, casa é o lugar em que a gente se sente bem. Não é mesmo?
Adorei seu relato
Beijocas
Mari
Eu particularmente achei um luxo morar num lugar projetado por Oscar Niemeyer e Burle Marx rsrs Confesso que fico morrendo de vontade de morar num lugar como o Porta do Sol quando leio um texto assim ou visito alguém com uma casa cheia de espaço e próxima à natureza, mas no meu momento de vida ainda não dá – não daria para gerenciar trabalho e escola das crianças (e as outras mil coisas que eles fazem) morando num condomínio onde tudo tem que ser feito de carro. Eu amo a comodidade de morar perto das coisas: as crianças vão a pé até a escola, eu corro no supermercado que fica a meio quarteirão, posso escolher entre as várias padarias a pouca quadras, se precisar dou um pulinho em uma das várias farmácias por perto. O preço dessa comodidade é morar em apartamento, mas é o que nos atende agora. Quem sabe quando ficarmos só eu e marido, aposentados, a gente não se anima?
Muito legal sua experiência de viver no Condomínio Porta do Sol, realmente tem a beleza da Toscana, que por do sol belíssimo vocês têm por aí.
Já pensamos em viver em um condomínio aqui perto de BH, até adquirimos o lote, mas achamos que ainda não estávamos preparados para morarmos longe do agito da cidade, rsrs.
Ficou para um projeto futuro, só Deus sabe quando, mas que seria uma ótima idéia, temos certeza que sim.
Aproveite dessa maravilha! Beijos.
Que susto com essa aranha! Imagino a Jade enfrentado ela! Como você disse é um luxo poder viver em um lugar tão bonito e calmo, em meio da Natureza. Amei saber mais sobre como é viver no Condomínio Porta do Sol em Mairique