Foi ali, na exposição permanente do Museu da Imigração, que encontrei mais um indício do porquê de gente como eu gostar tanto de viajar. Não é nenhuma novidade, mas é boa esta reafirmação: está em nosso DNA: somos nômades. Criar raízes é algo muito mais recente e conveniente para a organização social.
Viagens existenciais à parte, este post fala sobre minha visita ao recém restaurado Museu da Imigração em momento especial: a 20º Festa do Imigrante, evento em que o maior destaque são as barracas de alimentos de origens diversas. Afinal, estamos em São Paulo, centro da gastronomia nacional. O próprio panfleto recebido na entrada confirma isso: o espaço destinado à gastronomia toma 1/3 do espaço da programação. São 40 barracas com pratos típicos de países como Grécia, Moçambique, Lituânia, Peru, Bélgica, Inglaterra, Itália, Espanha, Índia, Chia, Rússia…
Mas eu não fui direto ao prato pote, não. Na penúltima vez em que fui à festa, o museu estava com a exibição fechada pois estavam renovando o espaço desde 2010 e agora, um ano depois de sua reabertura, fui conferir a mudança. Ficou muito legal, um espaço bonito, educativo, acolhedor e confortável.
Além dos objetos expostos no Museu, como cadeiras de dentista e instrumentos médicos, itens usados para auxiliar e tratar quem se passava pela então Hospedaria dos Imigrantes, muitas salas têm vídeos interativos e estações de áudio e vídeos contanto a história da formação do povo brasileiro. Para as crianças que estão aprendendo sobre a expansão territorial no Brasil colonial é uma forma interessante de rever o que está nos livros, em linguagem coloquial e imagens.
Uma das estações mais interessantes, na minha opinião, é a que exibe depoimentos de imigrantes sobre a viagem de navio até o Brasil, o desembarque, a viagem de trem até uma fazenda no interior do estado, a chegada à então Hospedaria do Imigrante e como foram os dias desses bravos japoneses, italianos, russos, espanhóis até que seguissem suas vidas em terra nova.
Uma estação interativa mostra três portos de origem: Itália, Japão e Alemanha e o percurso até chegarem a São Paulo. Nos depoimentos, histórias de gente que veio com a roupa do corpo, sem comida, sem dinheiro. Outros que carregavam até armários cheios de objetos de valor (russos). Pessoas que devem se lembrar muito pouco, afinal, eram crianças quando seus pais os trouxeram para o Brasil. Escrevendo aqui, percebi como o museu poderia ter mais informações se houvesse um trabalho de pesquisa não só documental mas também de entrevistas. O museu ficou lindo, mas poderia ser mais completo.
Terminada a exposição, era hora de comer e além das 40 barracas que nos esperavam, o histórico refeitório da hospedaria recebeu toalhas plásticas xadrez verdes e vermelhas para servir polenta mole, aquela que a nona fazia e cobria com molho ragu, antepasto de berinjela e o doce com gosto de infância, o sonho. Mas vamos às barracas!
Fish and Chips ou salsichão alemão? Paella ou bacalhau ao forno? O bom é ir em turma e escolher um prato diferente para cada um, tendo a chance de fazer degustações. Sobremesa? Doce sírio ou pastel de Belém? Apfelstrudel ou waffle belga? Um belga de Bruges me atendeu, aliviado por poder falar Inglês, para me informar que os waffles haviam acabado, para minha tristeza. O irmão é casado com uma brasileira e ele estava de férias no Brasil, inconformado com o calor de 27º de nosso inverno.
Ah, bebidas! Tomei um pisco sour delicioso, minha bebida preferida, preparada por um chileno divertido.
Essa grande oferta de alimentos é bem-vinda, mas a desproporção entre o número de barracas e as poucas atividades culturais da Festa mostra o quanto o Governo do Estado de São Paulo deixa de investir em Cultura. Apenas uma contadora de Histórias apresentava duas sessões por dia sobre a origem do mundo sob a óptica de diferentes culturas. Duas oficinas de artesanato (pintura em ovos, dobradura em tecido) e dois workshops de dança (três na próxima semana) por dia. É pouco para uma Festa que poderia ser tão rica culturalmente e que recebe tanta gente.
Em maior número, as 10 apresentações de dança e canto que acontecem no palco central acabam sendo o grande atrativo. Na próxima semana, serão 15 grupos a se apresentar. Só assistimos às danças irlandesas e da Ilha da Madeira, mas grupos folclóricos lituanos, bolivianos, japoneses, árabes também subiram ou subirão ao palco, entre tantos outros. Confira a programação no site oficial do Museu.
Um galpão abriga uma feira de artesanato com itens tradicionais de alguns países. Eu, que adoro suvenires, não me empolguei muito com o que vi por lá.
Dica: as mesas próximas às barracas de alimentos ficam sempre ocupadas. Do lado esquerdo do palco muitas ainda estavam vazias. Próximo ao refeitório as chances de encontrar uma mesa vazia também são grandes, pois o espaço lá é maior.
Não usei os banheiros do local, mas minha filha, sim. Ela disse que a iluminação é ruim e que o vaso não tinha assento. Mas estava limpo e tinha papel higiênico e sabão líquido. Essa menina vai longe! Logo vai abrir um blog para avaliar seus passeios (rsrsrs). Espero que tenha o gene do viajante, o DNA dos nômades e que se lance no mundo antes de criar raízes.
Práticas Rápidas
A Festa do Imigrante acontece todos os anos e 2015 teve sua 20º edição. Estive lá no primeiro dia do evento, 14 de junho. Dias 20 e 21 de junho trazem mais apresentações. A festa começa às 10h e termina às 17h. É programa para o dia todo!
Horário de funcionamento do Museu
Terça a sábado, das 9h às 17h e Domingo, das 10h às 17h
Ingresso
R$ 6,00 (inteira), que dá acesso às exposições permanentes e à Festa do Imigrante. Gratuito aos Sábados, exceto durante a Festa do Imigrante. Para os alimentos, você precisa trocar seu dinheiro real por dinheirinhos, como disse meu marido, brincar de banco imobiliário. Funcionários avulsos perto do palco aceitam apenas dinheiro (têm uma placa escrito Cashier, olha como estamos nos internacionalizando!), mas no caixa central cartões são aceitos.
Preços (em reais)
– polenta: 10
– pastel de Belém e quindim: 6 a 7
– doce sírio: 1,50 a 2
– massa: 15
– paella: 28
– pisco sauer feito na hora: 15
– empanada: 6
– meia baguete com salsicha alemã: 12
– cerveja em lata: 5
– refrigerante: 4
Ali perto
Não há atrações nos arredores, mas se você for com crianças talvez queira fazer uma passeio de Maria Fumaça que fica ao lado do Museu. A paisagem não é das mais agradáveis e não sei como está a manutenção dos vagões agora. Quando minha filha tinha poucos anos o passeio foi bem legal, mas há três anos o repetimos e achamos os vagões bem mal tratados.
Informações sobre os passeios: (11) 2695-1151.
E você, já visitou algum museu de Imigração, como o Ellis Island em Nova Iorque? Deixe seus comentários.
Respostas de 15
Que legal esse museu! Não tive oportunidade ainda de conhecer mas depois dessa dica já quero incluir no meu próximo roteiro a São Paulo. Adorei conhecer ele atraves do seu olhar. Muito bem explicado! Obrigada pela dica!