Deixo aqui sugestão para conhecer o centro histórico de Santos a bordo do Bonde Turístico, passeio que pode ser feito durante parada de cruzeiro ou num bate-volta a partir da cidade de São Paulo.
Este bate-volta estava pendurado no meu quadro de avisos cerebral há tempos, mas nunca acontecia, então aproveitamos a chegada a Santos de um cruzeiro que fizemos e descolei o post-it virtual, finalmente!
Diferente da maioria dos posts do blog, este não é cheio de entusiasmo e chega até a ser triste se pensarmos num centro histórico que apesar do abandono insiste em gritar: “Ei, eu sou importante, sou parte de seu passado. Não valho nada para muitos, mas ainda valho muito.”. Mas não desanime, leia o post; tristeza e indignação também são sentimentos que podem aparecer enquanto fazemos turismo.
Naquele mesmo cruzeiro visitei Salvador e quase chorei ao ver os azulejos do painel do século 18 da igreja Ordem Terceira de São Francisco. Esfarelando, sem manutenção há 15 anos. Assim como casarões históricos desabando nas proximidades do Elevador Lacerda e Mercado Modelo, o que indica que Santos não está sozinha.
Uma sociedade que não conhece sua História e que não valoriza seus monumentos históricos tem muito a ver com não se orgulhar de seu passado, me ensinaram enquanto eu crescia. Décadas e viagens depois, não acredito que seja uma questão de não ter razões para se orgulhar. Quantos países passaram por momentos vergonhosos em suas histórias (genocídios, segregação racial) e abrem-se esplêndidos para o turismo? Falta mesmo é comprometimento dos órgãos oficiais para resolver o problema. E não tem desculpa: Argentina também é país em desenvolvimento e Buenos Aires revitalizou a região de Puerto Madero, uma das mais visitadas hoje. O porto do Rio de Janeiro, nosso maior cartão postal, ganhou vida após a Copa do Mundo e vi satisfeita famílias circulando pela região em pleno Domingo. Pena que precisamos de uma Copa e de uma Olimpíada para isso – e de toda grana suja que rolou.
O município de Santos tem um programa chamado Alegra Centro, e segundo o website Viva Santos, oferece incentivos fiscais para que os edifícios sejam mantidos em bom estado, promove eventos culturais e outras ações. Eu fiz apenas um passeio, mas pelo que vi, os incentivos não estão surtindo muitos efeitos. Há vários prédios literalmente caindo aos pedaços, afinal, não é fácil lidar com a burocracia que uma reforma de edifício tombado pelo patrimônio requer e é no mínimo arriscado investir num bairro ao lado de um porto com galpões abandonados. Mas vamos lá.
Descendo do navio, pegamos uma van para ir até o estacionamento onde havíamos deixado o carro uma semana antes (leia o post Estacionamento no Porto de Santos) e deixamos em novo lugar, perto do Museu do Café, nossa primeira parada.
Museu do Café no Centro Histórico de Santos
Situado na antiga Bolsa do Café, onde aconteciam os pregões para venda de grãos que movimentaram fortunas e tanto influenciaram na história não só de Santos ou de São Paulo, mas do país, o Museu do Café é um passeio que vai agradar a quem curte história, cultura, arquitetura, arte e… café. Bons motivos para visitá-lo, não?
Para saber mais, leia o post Museu do Café na Parada do Cruzeiro em Santos, onde relato a visita de forma completa.
Casario da Rua do Comércio
Saímos do museu e caminhamos pela rua do Comércio, onde fica(va?) o tradicional Café Paulista, de 1911. O lugar foi ponto de encontro de políticos e celebridades e seus painéis de azulejos ainda bem conservados apresentam tema rurais, sobretudo do cultivo do café, e bandeiras do estado de SP. Pesquisando sua história pra escrever aqui, acabo de ler artigos de várias fontes que nesta segunda semana de novembro o Café Paulista fechou suas portas. Uma pena, uma pena. Eu avisei que seria um post mais triste, mas quando escrevi isso ainda não sabia desse fechamento. Se quiser ler a respeito, visite o São Paulo Antiga.
Também na Rua do Comércio, você verá a Casa da Frontaria Azulejada, de 1865, residência e armazém do comendador português Manoel Joaquim Ferreira Neto. Os azulejos vieram de Portugal e a construção em formato de U avançava até o porto, facilitando o embarque e desembarque das mercadorias. Depois de décadas de abandono – mesmo durante tombamento por inúmeros órgãos públicos – em 1986 foi finalmente desapropriada pela prefeitura e em 1992 teve sua fachada recuperada, com novas 7 mil peças de azulejos instaladas e recuperação da estrutura e portas. Como se vê na foto, árvores estão crescento na estrutura e alguns azulejos faltando. Lá se vão 25 anos sem manutenção.
Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada… Me fala se não é pra chorar…
Estação de Trem Valongo e o Bondinho Histórico
Ao final da Rua do Comércio, à direita, você já avista a estação de trem Valongo, nomeada como o bairro em que fica o centro histórico de Santos. Do outro lado da rua, fica outra atração, o Museu Pelé, mas não o visitamos.
Construída no estilo neoclássico em 1867 por investidores ingleses, a estação pertenceu à São Paulo Railway, a primeira estrada de ferro paulista que ligava Santos a Jundiaí, no interior do estado, e por ali passaram os imigrantes europeus e o café que enriqueceu São Paulo e parte do Brasil. Desde 1996 encontrava-se desativada para uso de passageiros e depois de negociações passou em 2006 a abrigar a Secretaria Municipal de Turismo. Há também um restaurante-escola no local, que não chegamos a conhecer desta vez, e claro, é o ponto de partida dos bondinhos.
São vários tipos de bondes vindos da Escócia, Itália e de Portugal, que percorrem 5 km pelo Centro Histórico de Santos em cerca de 40 minutos, com um guia a bordo.
Nós tomamos o 38, bonde doado pela cidade de Votorantim (interior de SP), mas não foi uma escolha, acho que eles colocam em circulação um tipo de bonde de acordo com a quantidade de turistas, ou se há passageiros com necessidades especiais (bonde Arte), naquele horário de partida.
Durante o percurso, há algumas paradas, mas não se desce do bonde – se você quer fotos boas, faça o percurso a pé, depois.
O Outeiro de Santa Catarina é uma dessas paradas e acabei de aprender que ‘outeiro’ se trata de um morro, uma elevação no terreno. É o marco inicial da da cidade de Santos, mas não se engane pela foto, o que se vê hoje não retrata o passado, quando o morro pedregoso foi desaparecendo para ceder material para calçamento de ruas, e a capela que ali havia no século 17, demolida. A casa que se vê hoje foi construída no final do século 19 e apenas em 1985 foi tombada e reformada pela Prefeitura, onde hoje é a Fundação Arquivo e Memória de Santos.
A atual sede da Câmara Municipal de Santos fica no Castelinho, onde por um século funcionou uma unidade do Corpo de Bombeiros, no edifício projetado pelo arquiteto alemão Maxiiliano Emílio Hehl, responsável também pelas Catedrais de Santos e São Paulo.
O bonde seguiu, mas descemos na Praça Visconde de Mauá, onde fica a sede da Prefeitura de Santos, porque a fome bateu, afinal, tínhamos tomado café da manhã no navio, bem cedo. Mas há várias paradas além das que ilustrei. Ali na praça há um ponto de informações turísticas, caso você precise de algum apoio
Ingresso para o bondinho de Santos
Dias e horário de funcionamento do bondinho: Terça a Domingo, das 10h às 17h (último bilhete às 16h30)
Valor do ingresso: R$ 7. Maiores de 60 anos, professores e estudantes pagam meia. Grátis para crianças até 5 anos.
O ingresso é vendido no Museu Pelé, que fica em frente à estação Valongo (aproveite para usar o banheiro ali).
Onde comer no Centro Histórico de Santos
Da praça, caminhamos até a Rua Quinze de Novembro para conhecer o restaurante português Tasca do Porto. Foi uma boa escolha: o restaurante fica num casarão antigo, com pé direito e outros elementos arquitetônicos que impressionam, e até curtimos música portuguesa ao vivo. Foi um bom fechamento para uma manhã de história e emoções.
Mas se você quiser, ainda tem mais atrações no centro histórico de Santos. Numa delas você se lembrará dos tempos de criança: que tal ver com seus próprios olhos a fonte do Itororó, onde não tinha água, mas tinha uma morena! rsrsrs Veja esta e outras atrações no mapinha que deixei para você, que depois pode voltar aqui e contar nos comentários o que achou!
Ah, confira outras sugestões de bate-voltas a partir de SP ou viagens pertinho, nos blogs da Paula e da Nathalia, que escreveram sobre:
- Os 10 Melhores Bate-voltas no estado e SP
- Campos do Jordão a partir de SP
Respostas de 22
Eu amo o centro històrico de qualquer cidade e fico muito triste quando me encontro com o descaso!
Nunca circulei por Santos (talvez tenha ido quando criança), mas sempre o imaginei parecido com o centro do RJ…. Pelas tuas fotos, até que parece, mas doi mesmo ver um prédio totalmente abandonado e destruìdo.
Claro que, como vc comentou, a culpa deste abandono pode ser a burocracia de tentar arrumar um prédio tombado (o meu é e vejo a dor de cabeça que é tentar modificar qualquer coisa inclusive para a nossa segurança).
No entanto, quando comecei a ler teu texto, achei que o centro fosse muito mais abandonado. Até que tem locais agradàveis!
😉
Um passeio bem bacana!
Acho que eu amenizei um pouco no decorrer do texto (e escolhi as fotos, claro), porque, apesar de muitas casas estarem degradadas, acho que vale o passeio, sim, e o leitor merece um incentivo para conferir com seus próprios olhos. Obrigada pelo comentário.
Santos – e muitas cidades de SP e MG – tem dessas… falta um carinho especial com algumas construções e atrações. Mas tem lugares legais tb… que bom que alguns lugares salvaram esse passeio!
Ótimo post! Realmente tendemos a não valorizar nossa história, tive o mesmo sentimento de tristeza com os casarões de São Luis. Uma pena pois o passado construiu lindíssimas histórias.
Mais um comentário sobre São Luís, que pena…
Muito lindo este centro histórico! Achei muito bonito o edifício da estação e algumas casas que parecem de arquitectura colonial. Bom artigo, parabéns.