A cidade de Praga é farta em igrejas e templos religiosos e quando estivemos lá tive a chance de visitar a Sinagoga Espanhola, a mais nova da cidade e talvez uma das mais bonitas do mundo. Confira as dicas para a incluir em seu roteiro.
São Paulo, cidade onde nasci, cresci e permaneço crescendo, tem a maior comunidade judaica do Brasil, mas eu nunca tive qualquer contato imediato com ela. Minhas fontes a respeito da cultura judaica provém de filmes e livros sobre o nazismo ou que apenas pincelavam costumes e tradições como bar mitzvah e Hanukkah. Pinturas de Marc Chagall e uma música infantil em inglês chamada Dreidel, também deram pistas dessa cultura, mas as informações vinham como um quebra-cabeças, em que eu precisava juntar as peças junto com o que tinha aprendido nos livros da escola. Então fui a Praga e visitei a Sinagoga Espanhola e a escolhi como tema desta blogagem coletiva – e aprendi um pouco mais.
A Sinagoga Espanhola – Španělská synagoga
A Sinagoga espanhola é a mais nova de Praga, construída em 1868, e leva o nome Espanhola devido à inspiração mourisca que a torna a mais bela da Europa. Foi construída no lugar da mais antiga sinagoga de Praga e passou por restauração em 1998.
A Sinagoga Espanhola tem uma planta quadrada com um domo dominando o espaço central.
Nas três laterais há galerias que se abrem para a nave. Ricos detalhes em gesso nas paredes e as abóbadas tiveram inspiração no Palácio Alhambra, Espanha.
Há vitrines com objetos nas laterais nos dois andares, e o espaço central fica livre para circulação e observação da arquitetura.
Mas a Sinagoga Espanhola não é só um rostinho bonito e seu interior abriga um museu, e visitá-la permite conhecer a Historia dos Judeus na cidade, e vou beeem resumidamente enumerar os pontos principais. Se você não quiser saber sobre os judeus em Praga ao longo dos séculos, pule o próximo item.
Judeus em Praga
Os primeiros assentamentos são apontados como anteriores à popularização do Cristianismo, pois quando as Cruzadas chegaram à região (isso lá no século 10), já havia uma comunidade judaica próspera, mas de cujos ataques só se recuperou no século 13. Maaas, sofreu uma nova perseguição, desta vez em forma de altos impostos em troca da ‘proteção’ real. O século seguinte é marcado por um sangrento massacre em 1389, quando a população não judaica pilhou, queimou o bairro, e assassinou cerca de 1.500 judeus.
Apesar de tudo, a comunidade continuou a se desenvolver e prosperar e no século 16 já era o centro para aprendizado dos livros sagrados judeus e até o século 19 experimentou períodos alternados de hostilidade e liberdade, tendo permissão para frequentarem universidades e participar da vida política.
Em 1850 o bairro passou a ser chamado Josefov/Josefstadt, em homenagem ao imperador Joseph II que através do ato de Tolerância, em 1782, trouxe liberdade comercial e religiosa aos Judeus, mas impôs obrigatoriedade da criação de escolas primárias em alemão ou que enviassem as crianças a escolas cristãs. Leis posteriores aboliram a autonomia das comunidades judaicas – que antes tinham sua própria legislação, taxas e sistema escolar – e obrigaram os judeus a se alistar no exército. Queria ter uma máquina do tempo para dar um pulinho lá e saber o que os judeus acharam disso tudo, mas uma das fontes que usei informa que uma das figuras importantes do projeto da demolição foi August Stein, importante líder da comunidade de então, e que grande parte da população aprovou a reforma.
Entre 1893 e 1913 o gueto foi demolido, assim como muitas outras áreas decadentes de grandes cidades que também passaram por transformações radicais, já digo antes que você ache que foi motivo de persegiuição (será que foi?). O número de 1.822 habitantes por quilômetro quadrado e as péssimas condições sanitárias justificou a reestruturação do gueto judeu. Infelizmente, sinagogas e outros edifícios históricos foram destruídos.
Fontes: http://www.praguecityline.com https://news.expats.cz/czech-tourism/josefov-pragues-jewish-quarter/ https://en.wikipedia.org/wiki/Patent_of_Toleration
Exposição Permanente da Sinagoga Espanhola
A exposição permanente está dividida em duas coleções:
- a historia dos Judeus na Boêmia e Morávia nos séculos 19 e 20
- objetos de prata religiosos usados em sinagogas
Concertos na Sinagoga Espanhola
Pesquisando para escrever aqui, descobri que é possível assistir a um concerto na sinagoga, imagine que experiência inesquecível! Informações no link acima.
Endereço da Sinagoga Espanhola e como chegar
Fica na parte mais antiga da cidade, conhecida como Praga 1. A fachada principal está na Dušní, mas a bilheteria e entrada ficam ao lado do monumento a Kafka, na Vězeňská.
A partir da praça da Cidade Velha (onde fica o famoso Relógio Astronômico) são apenas 500 metros. Metrô linha A, estação Staromestska.
Ingressos
Você pode comprar seu ingresso na bilheteria da sinagoga, mas eu aconselho comprar um tour de 2h30 guiado pelo bairro judeu, que inclui também o cemitério Judeu e o Museu Judaico. Assim você vai aprender muito mais sobre a historia da comunidade judaica de Praga.
Confira este tour que inclui o Museu Judaico, o cemitério e a Sinagoga Espanhola e outros passeios em Praga na Tiqets, empresa com quem temos parceria.
Atenção para visitas aos sábados e feriados judaicos, quando o Museu Judeu ou sinagogas não estão abertas ao público.
O que Vestir/Dress code
Mulheres devem cobrir os ombros para entrar na Sinagoga Espanhola ou em qualquer outra sinagoga ou mesmo no antigo cemitério judeu.
Homens precisarão usar a quipá (‘chapéu’ redondinho que homens usam) no Cemitério e na Sinagoga Pinkas. Pode ser adquirido por CZK5 ou tomar emprestado na entrada do cemitério.
Outras sinagogas de Praga
Além da Espanhola, outras 5 sinagogas foram poupadas no processo de reconstrução de Josefov: – a Alta é do século 17 e abriga uma coleção de tecidos, cortinas e objetos de prata
– a Klausen também é do século 17 e exibe uma coleção de textos hebreus e desenhos de crianças que vieram do campo de concentração Terezin
– a Maisel também tem uma grande coleção de objetos e livros da comunidade judaica
– Pinkas está na entrada do Cemitério Judeu e é um memorial ao holocausto. Seu interior tem as paredes tomadas por inscrições de nomes de 77.297 judeus mortos durante o nazismo. Como em Klausen, expõe desenhos das crianças de Terezin
– Sinagoga Velha-Nova é a mais antiga da Europa ainda em funcionamento, de 1270.
O cemitério Judeu
Outro ponto muito visitado – e comovente – do bairro judeu é o cemitério. A limitação de espaço para enterrar seus mortos ao longo dos séculos rendeu um terreno acima do nível da rua, pois os novos corpos eram enterrados sobre os túmulos antigos. Lápides se amontoam umas sobre as outras.
A Blogagem Coletiva
Este post faz parte da Blogagem Coletiva do grupo Pequenos Grandes Viajantes, e os blogs listados abaixo também escreveram sobre algum templo religioso que visitaram, então se liga em suas dicas:
- Destinos por onde andei… – Chen Tien, o Templo Budista de Foz do Iguaçu
- Fui ser viajante – A Catedral de São Bavão, o tesouro gótico de Haarlem
- London, sô! – 15 dos mais impressionantes templos do Japão
- Cantinho de Ná – A Capela Sistina das Américas em Andahuaylillas – Peru
- Turistando.in – As igrejas de Florença que você tem que conhecer
- Uma Viagem Diferente – Visitando a Catedral de Maringá
- Viagens Invisíveis – Abadia de Melk na Áustria, patrimônio mundial
- Ligado em Viagem – Templos hinduísta Sri Veeramakaliamman e Shree Lakshminarayan no bairro Little India em Singapura
- guia&turismo – Mosteiro Zen Morro da Vargem, o primeiro mosteiro budista da América Latina
- Vem que te Conto! – Visitando a Mesquita Muçulmana e o Templo Budista de Foz do Iguaçu
Respostas de 15
Marcia, fiquei encantada de verdade com a arquitetura dessa igreja. Quantos detalhes, quanta beleza! Com certeza vai pro meu roteiro em Praga! Parabens pela linda fotografia em todo o post!
Obrigada pelas palavras e pela visita, Klécia, beijinho
Que Sinagoga extraordinária!!! Ao vivo imagino que seja ainda mais impressionante, mas as imagens estão maravilhosas. Achei curiosa a inspiração moura! História forte a dos judeus! Adorei este texto e saber deste templo e de tudo o mais que aconteceu! bjinhos
Também achei inusitada a inspiração, Ana.
Quando estivemos em Praga colocamos a Sinagoga Espanhola em nosso roteiro mas acabamos não indo, nos ‘perdemos’ pelas ruas do centro e quando vimos a hora já estava avançada. Gostei muito de ver mais sobre ela, temos um motivo pra voltar.
Esse ‘se perder’ está sempre no roteiro de quem sabe viajar!
Fiquei ainda mais encantada com este passeio após ver o seu blog!
Mas tenho uma dúvida: estarei com uma mala de mão com rodinhas, pois iria direto do aeroporto. É permitida a entrada com malas desse tipo, mesmo que pequenas? Obrigada.
Oi, Bia, segundo o site deles não são permitidas peças grandes ou de rodinhas? “Wheeled cases and large items of luggage are not allowed on Jewish Museum premises..”
Você não tem como deixar no locker da estação de trem ou do aeroporto?