“Será que consigo fazer essa tilha?” Assim como muitas coisas na vida, só saberemos se tentarmos. Comecei a trilha Panorâmica no Oeschinensee pensando em ir apenas até Heuberg Viewpoint, esse da foto, e voltar. Mas como muitas outras coisas na vida, olhei para o caminho que tinha percorrido e para o caminho ainda a percorrer – e fui em frente.
O Oeschinensee é um lago de montanha a 1.578m de altitude, em Kandersteg, no cantão de Berna, pertinho de outro lago que tem outra pegada, o Blausee. Muito popular entre turistas devido à acessibilidade, basta caminhar uns poucos quilômetros para estar diante do Oeschien. Mas eu queria a experiência completa!
Leia Lago Oeschinensee, Kandersteg: o mais lindo da Suíça?, onde tem todas as informações de como chegar, distâncias, preços, e o que fazer no nível do lago e onde ficar em Kandersteg.
Como é a trilha Panorâmica no Oeschinensee
distância | 8,5 km, mas parece 3541798676 |
nível de dificuldade | moderada/intermediária |
tempo | no mínimo 3 horas, sem considerar paradas para fotos ou outros |
máxima altitude | 2 mil metros |
elevação | 430m de subida e 430m de descida |
melhor época | final de junho a outubro, mas funciona a partir de maio |
A trilha panorâmica do lago Oeschinensee é circular, começa e termina na estação de montanha da gôndola (A, no mapa abaixo), que durante a temporada de verão funciona das 9h às 17h/18h. A trilha pode ser feita em qualquer direção, mas fazendo o percurso no sentido horário traz a garantia do grand finale no lago, muito mais impactante. E a grande maioria faz assim, mesmo. Só vi algumas pessoas caminhando no sentido anti horário entre o lago e o refúgio Ober Bärgli.
Para ir direto ao lago, sem fazer a trilha panorâmica, pegue à direita na bifurcação logo após a estação de montanha. Não deixe de olhar para trás, enquanto desce, as vistas são estonteantes!
Para fazer a trilha panorâmica do lago Oeschinen, siga pela esquerda na bifurcação. As placas amarelas indicam Heuberg – Ober Bärgli. A linha vermelha no mapa acima é uma trilha rápida que fiz até o mirante sobre o lago. Ela passa pelo Restaurante Zur Sennhütte, e não é obrigatória, mas como eu não sabia se faria a panorâmica completa, fui até ali para ver o lago de cima. Tem uma trilha a partir dali que desce ao lago, mas achei muito acidentada. Esta é a vista a partir desse mirante:
Início da trilha panorâmica do Oeschinensee
Depois das fotos, fiz o caminho de volta e comecei a trilha panorâmica. E ela já mostra que não será fácil, é só subida. O caminho é de pedras pequenas, médias e grandes, muitas soltas desde esse começo. Na altura das árvores, muitas raízes, por isso atenção sempre!
Ninguém quer se machucar numa trilha, mas quando se viaja sozinha, o cuidado e a atenção têm que ser redobrados. Para me distrair e ficar focada ao mesmo tempo, eu falava comigo mesma “Are we there yet?” ou “don’t fall, don’t fall, don’t fall”.
E por falar nisso, além de ter cobertura pelo meu cartão de crédito, comprei um seguro viagem. Em qualquer viagem é importante, mas viajando sozinha, num roteiro de trilhas, é essencial. Cotei e contratei com a Real Seguros, achei bem fácil fazer orçamento e gostei do atendimento, também. Acabei fazendo parceria com eles e leitores *têm desconto*, já aplicado no link acima.
Em alguns trechos da trilha não se avista o lago, e há quase nenhuma sombra pela manhã. A primeira sombra que encontrei fica entre a bifurcação e o mirante Heuberg – e não tem vista do lago.
Mas a maior parte da trilha tem um visual incrível, que vai mudando, com vistas para diferentes faces de montanhas, ou de ângulos do lago, com aquele intenso azul, e até geleiras.
Mirante Heuberg
O mirante mais lindo é, sem dúvida, é o Heuberg, um lugar muito popular para descansar e comer um lanche e para muitas, muitas fotos. Viajei com um tripezinho, mas neste mirante tem muita gente, então pedi a alguém para tirar uma foto minha com pose de quem faz trilha, esta que abre a matéria. Me vejo mais linda do que de salto alto, maquiada e cabelo feito. Porque ficamos lindas quanto estamos felizes, não importa a roupa, o cabelo, felicidade sai pelos poros e amo essas caminhadas nos Alpes, demorei a descobrir.
Demorei uns 60-80 minutos para chegar ali. Também na abertura do post, falei que o plano era caminhar só até o Heuberg, mas a curiosidade foi maior e eu já tinha feito o mais difícil, que é subir, então segui em frente.
Lembro que em um ponto antes da descida, um cordão servia de apoio para cruzar um riachinho e que avistamos algumas cachoeiras depois desse trecho. Em algumas partes da trilha, sentimos respingos de água provenientes de cachoeiras, uma delícia! Imagino que na primavera o volume deva ser bem maior, por causa do degelo. Tudo bem se você não entende a poesia disso tudo, mas há chances de você entender, uma vez que chegou a este post.
Muitas pessoas mais jovens ou preparadas me ultrapassavam, o que não me incomodou. O importante é viver o momento, seguir se próprio ritmo.
Algum tempo depois do mirante, há outros pontos bem bonitos, com lindas vistas, como esse montinho da foto acima, mas me poupei do esforço de subir ali.
Mais à frente, o caminho fica bem estreito e pode ser difícil para quem tem medo de altura, com declives acentuados nas laterais e sem grade ou cordão de segurança. E já estamos descendo. A foto abaixo mostra o ponto da trilha onde a descida começa a ficar bem acentuada, como num zig-zag.
Abrigo Bärgli
Passamos por uma cabana onde havia alguns cabritos, pouco antes da cabana Bärgli, a 1.978m de altitude. Já estava na trilha há mais de 2h30 e minha água tinha acabado, então a parada foi muito bem-vinda. As mesas estavam todas ocupadas, inclusive pedras grandes do terreno em volta que serviam de assento. O sábado de sol estava perfeito para trilhas e muita gente marcou presença no Oeschienensee. Pedi uma cerveja no balcão e me encostei em alguma pedra, esperando uma vaga para fazer a foto na bandeira suíça! Quando ela está hasteada, significa que o refúgio está aberto, um convite para quem sai do lago àquela direção.
Pensei que estava terminando a trilha panorâmica do Oeschinensee, já se via o lago mais próximo e tinha descido bastante, além do clima de conclusão que a bandeira e uma cerveja trazem. Mas a placa amarela indicava ainda 1 hora para o lago Oeschinensee! Foi meio desanimador, mas não mais do que ter que descer por uma trilha de pedras pequenas e escorregadias, que despencaram do penhasco. Todo mundo vai andando pela graminha ao lado da trilha neste trecho, mais macia e livre de escorregões.
Mas quando você pensa que não tem mais paisagem bonita além do lago, a trilha vira uma espécie de varanda, com bancos e tudo:
Quando finalmente cheguei ao lago Oeschinen, mais de 3h30 depois do início, estava tão cansada que nem parei para curtir o lago. Mas eu tinha ido até ali para fazer a trilha, mesmo, não para descansar. Além disso, o céu estava cinzento, e eu não queria um banho de chuva. Acelerei em direção ao Berghotel.
O sistema dos restaurantes de montanha em geral é pegar algo ou pedir um prato, e pagar no balcão, não há serviço nas mesas. Veja sugestões de Restaurantes de Montanha na Suíça e explico como funcionam. Pedi um rösti (23 CHF) e peguei uma cerveja (6 CHF). O banheiro ali é bem limpinho.
Segui 2 km estrada acima até a estação das gôndolas, onde mais paisagens maravilhosas apareciam a cada curva. Depois gôndola e caminhada até a cidadezinha Kandersteg, onde tomei o trem em direção a Interlaken.
Por que ‘perder’ horas na trilha em vez de curtir o lago?
Um amigo desaprovou meu roteiro de 1 trilha por dia. Na visão dele, eu estaria perdendo tempo em trilhas em vez de conhecer a Suíça. Bem, minha primeira viagem à Suíça foi como ele imagina, um roteiro por quase todo canto do país. Mas desta vez eu queria as montanhas, não a Suíça, se é que é possível dissociá-las. Eu queria ter o máximo de tempo possível ao ar livre, com a sensação de quase poder tocar as montanhas. Usar meu corpo não apenas para dar um passo e após o outro, mas estar em comunhão com a natureza, sentir o ar fresco das manhãs, observar a mudança do tempo ao fitar as nuvens avançando sobre o céu azul, ficar em uma conversa silenciosa comigo mesma. Adivinha qual roteiro eu curti mais?
Foi uma experiência incrível fazer esta trilha sozinha, aos 54 anos, 2 anos depois de terminar radioterapia contra um câncer de mama. Caminhei agradecida, sentindo a força retornada em meu corpo, pela vida pulsando dentro de mim, pela persistência, pelos momentos de ter todos sentidos proporcionando sensações prazerosas e inesquecíveis.
A natureza é o melhor templo para um encontro com nosso divino.
A Suíça, um dos melhores lugares para isso.
Como se preparar para a trilha circular do Oeschinensee
Não é uma trilha técnica ou difícil para quem está em boa forma física. Seu nível intermediário se deve ao desnível puxado em poucos quilômetros.
- antes da viagem, treine bastante em terreno ou ruas com subidas íngremes, ou mesmo na esteira de inclinação. Músculos fortalecidos e equilíbrio são essenciais numca trilha de nível moderado como a panorâmica do Oeschinensee
- as placas podem nos confundir em alguns pontos, então é legal memorizar nomes como Bärgli, Berghotel Oeschinensee, Heuberg e saber suas posições na trilha (no mapa acima, tem)
- leve um par de bastões de caminhada para auxiliar nos desníveis, eles fazem toda a diferença
- de preferência, use roupas próprias de caminhada. Na primavera e no outono as temperaturas são baixas pela manhã, subindo aos poucos, por isso aquelas calças com zíperes que viram bermudas e jaquetas corta vento são essenciais
- nada de tênis comum, leve sua bota de caminhada. Eu fiz a trilha de Torres del Paine de tênis comum, escorregava sempre e não sentia segurança nas pisadas – e quando terminei estava com muita dor nos pés
- confira a previsão do tempo. Usei o app MeteoSwiss durante minha viagem
- leve uma garrafa grande de água, alguma fruta ou barra de castanhas para manter a energia.
Quer uma trilha mais fácil? Veja de Iseltwald à Cachoeira Giessbach, no lago Brienz
Veja também a Trilha no Lago Seealpsee, em Ebenalp, cantão de Appenzell.
E se você curte pontes suspensas, a trilha na região de Zermatt até a Charles Kuonen, em Randa é deslumbrante!
Vai a Kandersteg conhecer o lago Oeschinensee? Se tiver alguma dúvida, entre em contato pelos comentários a seguir, terei prazer em ajudar. E se precisar de um roteiro personalizado pela Suíça ou consultoria, conte comigo!
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Respostas de 12
Ai Márcia, não podia estar mais em desacordo com o seu amigo. Trilhas nas montanhas grita Suíça em cada passada, paisagem e fotografia. E que maravilha apreciar tudo isso sozinha. Eu curti imenso a minha jornada no Caminho de Santiago precisamente por causa dessa suposta solidão.
Ah, e também fui muitas vezes ultrapassada nas caminhadas. Não é uma corrida, afinal, né?
Acredito que essa forma de viajar, mais pausada, caminhando é uma das soluções para apreciarmos mais os destinos e causarmos menos impacto negativo. Lindo esse Oeschenensee
Ruthia, quem sabe um dia faço essa caminhada histórica de Santiago, mas as montanhas me chamam, você sabe…
Marcia, estou planejando minha viagem para Suíça em no final de maio deste ano. Encontrei seu blog e amei! Você escreve muito bem e nos traz muitas informações importantes. Não encaro as trilhas. É possível chegar ao lago sem tanto esforço? Tem um caminho normal, sem ser de trilha? Você faz consultoria em roteiros? Eu teria interesse.
Olá, Ana Karolina
Sim, muita gente faz apenas o caminho do teleférico até o lago, que inclusive tem uma jardineira (paga)pra quem não quer ou não pode caminhar.
Quanto à consultoria, vou enviar uma mensagem por email a respeito, OK?
Oi Márcia , estou na Suíça e gostaria de fazer a trilha de volta a pé , do lago até o estacionamento … vc sabe me dizer quanto tempo é se é possível ?