Igrejas católicas, sinagogas, mesquistas, sempre que viajo procuro conhecê-las pois são fonte de aprendizado da história e cultura, além do encantamento produzido pela arquitetura e detalhes em vidro, cerâmica, madeira, gesso ou mármore. Neste post conto não apenas sobre a visita à Mesquita de Curitiba, mas sobre a reação das mulheres que o visitaram.
Estava fotografando a fachada da mesquita, tentando enquadrar suas altas torres e fazendo cara feia para os fios elétricos quando percebi a movimentação do grupo entrando no templo, o que foi uma surpresa, pois não era dia de visitas. Antes de entrar, todos retiraram seus sapatos. As mulheres foram convidadas a vestir uma espécie de manto, emprestada para que seguíssemos os costumes muçulmanos, afinal, “quando em Roma, faça como os romanos”.
Para escrever este post, descobri que a mesquita recebeu o nome do genro de Maomé, Ali Ibn Abi Talib, razão de os muçulmanos se dividirem em dois grupos, os xiitas e os sunitas. A mesquita foi construída em apenas 2 anos, sendo inaugurada em 1972. Além da sala de orações, onde ficamos, há escritórios, biblioteca e anfiteatro. Segue todas as características das mesquitas ao redor do mundo: cúpula abobadada cobrindo a sala de orações, azulejos com arabescos e escritos árabes, orientação das orações voltadas para meca – e espaço reservado para mulheres, separado por um biombo.
Mas como não faríamos orações, sentamos todos juntos em roda sobre os tapetes persas. Sobre nós o teto abobadado e arcos com arabescos e escrita ininteligível para meu cérebro leitor unicamente do alfabeto romano. O altar de madeira, mais parecido com um púlpito, também trazia inscrições e atrás dele um painel retangular ricamente decorado com azulejos parecia uma obra de arte exposta num museu.
Na parede onde começa a abóbada, frases do Alcorão nas duas línguas:
Tá, mas e as mulheres?
Tudo ia bem, o professor de teologia nos explicava que a mesquita fazia um trabalho educativo para que a religião muçulmana fosse conhecida, compreendida e desvinculada do terrorismo. Trabalho difícil, na minha opinião, lutar contra as forças da mídia. Quando ele fez uma pausa ou ao final de seu discurso, não me lembro ao certo, perguntei se esse trabalho gerava conversões ao Islã. Ele afirmou que muitas, uma porcentagem alta que não vou repetir aqui com receio de ser inexata. Mas aí fiquei muito inquieta e perguntei meio sem jeito:
‘dentre estas pessoas, há mulheres que se convertem ao Islã?’.
A pergunta estava incompleta, mas ele compreendeu o que insinuei – talvez até pelo meu desconforto visível em fazer a pergunta dentro de uma mesquita. Sua resposta foi surpreendente:
é natural que muitas mulheres queiram se converter. Na cultura islâmica elas são respeitadas, guardadas apenas para aqueles que as amam. (…) em nossa sociedade as mulheres estão sendo violentadas, estupradas (…) o Islã é uma forma de proteger a mulher, cobrindo-a, guardando-a.
Foi então que uma colega ainda mais incomodada do que eu, não resistiu e disse:
“mas o problema não é a mulher se mostrar, o problema é o homem não saber controlar seus instintos”.
Bem, eu pensei que seríamos expulsos dali naquele minuto. O guia que nos acompanhava agradeceu a oportunidade da visita e deixamos a mesquita de Curitiba. Isso foi há 4 meses, não tenho a transcrição exata da conversa, mas a essência é esta.
Sempre achei difícil aceitar as desigualdades entre sexo impostas aqui e de forma ainda mais acentuada em outras culturas. Não acho que tenha havido desrespeito em nossas perguntas ou afirmações, mas na minha opinião foi uma saia justa – e véu.
Como visitar a Mesquita Imam Ali IbnAbi Talib de Curitiba
A mesquita de Curitiba é aberta ao público aos domingos, das 10h30 às 13h30. Grupos precisam de agendamento prévio, e a visita é monitorada e conta com uma palestra de 1 hora. Fica na Rua Kellers, 383, Centro.
Leia os demais posts de Curitiba aqui no Mulher Casada Viaja
Este post faz parte da blogagem coletiva do Pequenos Grandes Viajantes, um grupo de blogueiros que a cada mês escreve sobre um mesmo tema. Em março foi templos religiosos, confira seus posts:
Respostas de 21
Muito interessante essa experiência eim!
Eu não conheço nenhuma mesquita, mas tenho muita vontade!
Adorei as fotos
Também foi minha primeira mesquita, Diego. Que estreia!
Fiquei felizona quando vi que íamos entrar na mesquita, pois nunca tinha entrado numa antes e, como você disse, tudo ia muito bem até que veio aquela resposta: as mulheres são cobertas para seu próprio bem etc. Affee… saia justíssima – e véu rsrsrs.
Ah, olha aí uma testemunha – e participante do diálogo! Obrigada pelo suporte, acho que nunca te agradeci. beijos
Adorei o diálogo, a saia justa e véu, rsrs. Acho que também faria perguntas constrangedoras, ainda bem que eu não estava neste grupo.
Mas, adoraria ter visitado esta mesquita, porque pude conhecer a de Foz do Iguaçu somente por fora, afinal não era dia de visita.
Fica para uma oportunidade futura então, muito linda a mesquita. Beijos.
Gisele, ainda bem mesmo que você não estava ali! ahaha Pelo pouco que te conheço, não ia ser tao sutil o diálogo. beijos
kkkk, amei a ousadia! Minha língua também iria coçar pra fazer essas perguntas. Da forma que eles falam parece ser um mar de rodas pra mulher né, mas na prática acho que não é bem assim que funciona. #prontofalei
Exatamente esta a sensação que tive: pronto, perguntei!