Curitiba: a Serra da Graciosa de trem até Morretes

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O bate-volta em que descemos pela serra do mar de Curitiba a Morretes a bordo de um trem é um dos mais procurados para quem visita a capital paranaense e neste post você vai entender porquê e pegar dicas de onde comprar, em qual janelinha se sentar, o que fazer em Morretes e outras mais. Vamos?

Curitiba é uma capital cheia de atrativos e dentre eles oferece um passeio até a cidade histórica Morretes em trem turístico sobre trilhos construídos no final do século 19, serpenteando uma grande porção de nossa rica Mata Atlântica preservada, que aqui ganha o bônus das araucárias! Este passeio de trem tem seguramente o mais bonito trajeto do Brasil e está na lista dos 10 melhores do mundo, segundo jornais de prestígio como The Guardian e The Wall Street Journal. Aliás, enquanto eu subia a serra naquela tarde nublada e preguiçosa, com o estômago trabalhando para digerir o barreado, prato típico local, este era um pensamento recorrente: imagine um gringo aqui, como deve ficar boquiaberto com tanta beleza que só nossa floresta tropical consegue entregar. Sim, porque depois que visitamos algumas florestas em outros países é que percebemos como são monótonas no quesito diversidade e quanto precisamos preservar as nossas. Viajar para o exterior ajuda a valorizar o que temos de bom.

A Ferrovia Paranaguá

Em torno de 1870 havia uma grande produção de mate em Curitiba que era levada ao litoral em transporte animal por trilhas traçadas por tribos indígenas. A estrada da Graciosa estava sendo construída, mas o projeto de uma estrada de ferro até Antonina ou Paranaguá estava em trâmite em nosso Brasil imperial e foi em junho de 1880 que D. Pedro II lançou a pedra fundamental da construção em Paranaguá, e num ato inédito proibiu o uso de mão de obra escrava na construção. Foram os imigrantes poloneses, alemães e italianos que desbravaram este trecho de nossa serra do mar. Pena não termos uma Hollywood para contar nossa história… A inauguração do trecho completo aconteceu em 2 de fevereiro de 1885, mas meses antes a princesa Isabel acompanhada de sua comitiva real fez a viagem completa entre Paranaguá e Curitiba.

A ferrovia possui 108 km de extensão e passa por 13 túneis, dezenas de pontilhões e 41 pontes, dentre as quais se destaca a Ponte São João, com 113 metros de comprimento e um vão livre de 70 metros, um feito para os recursos da época.

Como foi minha experiência no passeio Curitiba-Morretes

Sempre quis ter esta experiência de descer a serra da Graciosa até Morretes, e a chance surgiu numa ocasião especial, um encontro de blogueiros de viagem sediado em Curitiba organizado pela Rede Brasileira de Blogs de Viagem, do qual o Mulher Casada Viaja faz parte. Chegamos cedo na estação rodoferroviária de Curitiba, onde pegamos a van que desceu a Serra da Graciosa numa manhã de muita neblina.

Em dias de sol, sem neblina, o percurso deve ser muito bonito, mas naquela primavera nem as hortênsias que ladeiam a estrada estavam em flor. Se você faz a estrada de carro, pode parar em vários pontos para ver cachoeiras ou praticar bóia cross, ou simplesmente avistar toda a baía de Antonina e Paranaguá a partir do mirante. Quem dá detalhes de como é o trajeto feito de carro com paradas é o Itamar do blog De Mochila e Caneca em Estrada da Graciosa- Uma das estradas mais bonitas do Brasil.

Depois do mirante, a única parada que fizemos foi a 800 metros do centro de Morretes, no Hisgeopar, que é um galpão onde uma família montou engenhosas miniaturas da Serra da Graciosa, contando a historia da economia, cultura e desenvolvimento da região em forma de bonecos de argila. São dezenas de figuras humanas, animais, moinhos e engenhos. Do outro lado da serra, outra grande atração do Paraná: a barragem de Itaipu e as cataratas de Iguaçu. Eu que adoro miniaturas achei a ideia muito legal, e didática. Paga-se uma entrada no valor de R$25 (grátis para crianças de até 5 anos) e um guia nos acompanhou explicando as representações. Informações pontuais estão expressas em plaquinhas, mas achei que poderia ter um pouco mais de conteúdo.

O que Fazer em Morretes

Típica cidade pequena turística, Morretes está aos pés da Serra e é muito visitada por moradores de Curitiba nos finais de semana, além de turistas do Brasil inteiro. Você vai passear pela praça com coreto, visitar as barraquinhas de produtos locais como as deliciosas balas de banana e cachaça artesanal, entrar nas lojinhas de artesanato e pisar o calçamento histórico de pedras entre o casario colonial.

Na foto acima vemos o rio Nhundiaquara e a igreja Matriz de Nossa Senhora do Porto, com sino proveniente de Portugal com brasão do Império e relógio que nunca parou de funcionar desde a inauguração da igreja em 1850.

A ponte de ferro sobre o rio Nhundiaquara é de 1912 e em torno dela estão os restaurantes mais antigos e tradicionais de Morretes. Note na foto abaixo a interessante mistura de vegetação: araucária e palmeiras.

Nós almoçamos no Madalozo, restaurante que fica em casarão do outro lado da ponte de ferro. O mais comum é pedir o rodízio de barreado e frutos do mar, comilança composta de 3 pratos. Pena que não dá pra subir a serra rolando, porque a sensação é de ter virado uma bola! O restaurante tem ótima estrutura, com salão para até 600 pessoas, estacionamento gratuito, playground e fraldário, canil com caixas individuais. Atende de terça a domingo das 11h30 às 16h e durante a temporada (janeiro a Carnaval) também às segundas-feiras.

O barreado é o prato típico local, que consiste numa mistura de toucinho, carne bovina, temperados e cozidos em panela de barro durante 12 horas. É servido misturado com farinha de mandioca acompanhado de arroz branco e banana.

Se você gosta de cachaça artesanal, aproveite a visita a Morretes para degustar as diversas versões, sendo a de bana a mais apreciada. Nós paramos na cachaçaria da foto abaixo, onde descbori que a Porto Morretes Premium, envelhecida por 3 anos em barril de carvalho, foi premiada em 2016 como a melhor cachaça artesanal do Brasil.

O trem de Morretes a Curitiba

A estação de trem de Morretes fica a 600 metros da ponte de ferro. Para um trem turístico, eu esperava uma estação em melhor forma. A arquitetura da fachada já não ajuda, pois substituiu a original do século 19 e parece uma fábrica. A tinta estava descolando da parede, janelas com vidros de padrões diferentes. A plataforma também não traz nenhum atrativo que mereça o esforço de uma fotografia. Fui pesquisar e descobri que há um projeto de restauro que promete devolver o tom ocre original das paredes e recuperar janelas e portas. De fato, parte da plataforma estava com tapumes.

O assento é até que macio, mas com a longa viagem e a ausência de ergonomia acaba cansando um pouco, mas como o trem é lento, você pode se levantar e circular pelo vagão. Não deixe de fazer várias fotos da paisagem, selfies na janela (cuidado, espere um momento em que o trem esteja parado para dar passagem a alguma composição de carga).

Como se vê na foto abaixo, há bagageiro para pequenas malas e banheiro no fundo do vagão, que é muito engraçado, pois a janela aberta ventila e expõe, na hora do número 1 ou 2, a parte mais reservada de nossos corpos, então atenção se não está lá bem na hora em que passa por um grupo de trilheiros ou trabalhadores fazendo a manutenção.

Leia outros posts com dicas de Curitiba
na página-índice Paraná

Afinal, subir ou descer de trem até Morretes?

Para subir a serra, o trem torna-se mais lento e por isso a viagem pode levar cerca de 4 horas, o que acaba sendo um pouco cansativo, então o melhor é você descer de trem, almoçar em Morretes e subir de van ou ônibus.

Onde comprar o bilhete do trem Curitiba a Morretes e quanto custa

Você pode comprar na estação rodoferroviária de Curitiba ou pelo site da Serra Verde Express. Há vários tipos de passeios e classes. Deixo abaixo alguns deles, mas visite o site para ver passeios sazonais. Tem até trem da cerveja!

No saguão da estação ferroviária de Curitiba, além de bilheterias há uma lanchonete e loja de souvenirs.

  • bilhete na classe econômica, sem guia ou serviço de bordo, custa R$21 o trecho. Da Rodoferroviária de Curitiba, o trem parte às 8h30, e de Morretes às 15h, mas é preciso chegar com 1 hora de antecedência.
  • o litorina de luxo é puro…. luxo. Assentos confortáveis, arandelas de cristal, decoração clássica que remete aos trens turísticos de luxo de outros países – que são mais do que você imagina, mais do que Orient Express.
  • No pacote Pôr do Sol você desce de van, ônibus ou microônibus e retorna de trem. O percurso é acompanhado de um guia e tem um lanchinho incluído. Você pode escolher a classe: turística, camarote, litorina luxo. Preços a partir de R$ 169. Foi o passeio que fizemos.

Para quem quer conforto e comodidade, este pacote comercializado pela Get you Guide inclui traslado a partir de hotel em Curitiba, acompanhamento de guia, passeio em Morretes e almoço às margens do rio Nhundiaquara para provar o barreado.

Melhor lado para sentar no trem

Sim, sou destas que pesquisa qual o melhor lado para se sentar em trens, ônibus e até avião para aproveitar melhor a vista, claro que no avião, nos momentos de decolagem e pouso, mas em voos curtos em que a altitude é mais baixa, já visualizei vulcões, lagos, geleiras e crateras abertas por mineração. Para subir a serra, o melhor lado para sentar é o direito (olhando para a frente do trem), então para descer o melhor é o esquerdo.

Outros passeios de trem no Brasil

Viajar de trem pelo Brasil é um sonho quase inalcansável, levando-se em conta o quanto não se investiu em estradas ferroviárias, e conseguimos contar nos dedos os passeios de trem turísticos disponíveis num país tão grande e de paisagens deslumbrantes como o nosso.

Sempre que posso faço passeios de Maria Fumaça, adoro uma nostalgia mesmo que seja emprestada. Perto de casa (Mooca, belo) tem um passeio curtinho que parte do Museu da Imigração de São Paulo e outros também perto da capital são os de Campos do Jordão e o trem dos Ingleses, em Paranapiacaba. Mas já curtimos trechos maiores como o Trem das Águas, que parte de São Lourenço a Soledade de Minas, em Minas Gerais. Outro mineirinho é o que liga São João del Rey a Tiradentes. Você pode aproveitar uma viagem à Serra Gaúcha pra passear de trem Maria Fumaça em Bento Gonçalves ou curtir o trecho ferroviário mais longo do Brasil entre Belo Horizonte e Vitória. Mas o trenzinho mais famoso do Brasil talvez seja o que sobe o Morro do Corcovado até o Cristo Redentor, no Rio.

Você já fez este passeio de trem? Diga como foi sua experiência aí nos comentários. Abraços

Marcia Picorallo

Marcia Picorallo

Escrevo o Mulher Casada Viaja com carinho desde 2014, compartilhando minhas impressões dos lugares por onde passei, inspirando e ajudando leitores a planejar suas aventuras.

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Márcia, a viajante

Márcia, a viajante

Bem-vindo a bordo - e nem precisa apertar os cintos! Escrevo o Mulher Casada Viaja com carinho desde 2014, compartilhando minhas impressões dos lugares por onde passei, inspirando e ajudando leitores a planejar suas aventuras.

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COMENTÁRIOS

19 respostas

  1. Fiz esse passeio em fevereiro e foi bem divertido. Realmente a vista é muito bonita. Morretes é uma cidade fofa mas beeeeeeem quente! Heheheheh

  2. Esse passeio de trem de Morretes foi mesmo muito lindo! Não consegui ir com vocês e perdi a parada no Hisgeopar. Gostei de saber que tem bóia-cross no caminho também. Fiz em Bonito e achei muito divertido! Boa dica. Quem sabe da próxima vez?

  3. Adorei saber o passado do caminho de ferro. Na falta de Hollywood, porque não um realizador nacional a contar essa história maravilhosa? É preciso valorizar as nossas riquezas.
    Concordo contigo Márcia, a natureza do Brasil é, sem sombra de dúvida, uma das mais belas do mundo.
    Beijinho

    1. Cinema brasileiro dá muito certo quando aponta nossa pobreza, criminalidade e corrupção. A TV produziou algumas séries históricas romanceadas, mas no cinema não rola.

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