Procuram-se cidades pequenas…
…em que o horizonte não esteja escondido por detrás de edifícios altos, ou sob a espessa camada de poluição. E se a paisagem se parecer com uma pintura, ainda melhor!
… onde haja tempo para cultivar flores na janela, para que sejam a primeira coisa que vemos ao nos levantar pela manhã, lembrando-nos que tudo nasce, cresce e morre, e que se bem cultivadas, cuidadas, alimentadas, terão a chance de uma vida longa e saudável, assim como nós.
…cujos bancos de praças deixem de ser cama para sem tetos, e passem a ser um assento na sala de estar que é a vida ao ar livre.
…onde a vida siga num ritmo calmo, tão lento quanto as águas de um rio no início do outono…
Procuram-se cidades pequenas…
…onde o ser humano é observado como visitante, e por isso deve respeito a todos os seres que ali habitam.
…onde o capricho seja reflexo do amor pelo seu trabalho, pela sua casa, pela sua cidade.
…onde a gente possa se locomover com os pés ou sobre duas rodas, o que é bom para a saúde da cidade e de seus moradores.
…onde haja alegria por colher o que plantamos, adubamos e regamos
Este post faz parte do projeto fotográfico 8on8, quando bogueiras publicam no dia 8 de cada mês 8 imagens para ilustrar o tema escolhido. Eu tinha pensado em escrever sobre 8 cidades pequenas para visitar, ou algo do gênero, mas escolhi compartilhar meu apreço pelas coisas mais simples, tão presentes em cidades pequenas.
Nascida, criada e envelhecida 48 anos na cidade de São Paulo, acho que nunca me achei aqui. Talvez por alguns poucos anos, quando descobri as oportunidades culturais que uma metrópole como ela pode proporcionar a uma adolescente. Mesmo assim, enquanto Natasha do Capital Inicial era o hino de muitas amigas, envolvidas com a vida noturna recém descoberta, eu entoava Amor de Índio de Beto Guedes ou Quero de Elis Regina (embora o mais óbvio seria mesmo Casa no Campo) na vitrola lá de casa todas as tardes depois da escola.
Essa vontade de virar as costas para a cidade grande não é sentimento novo, só estava adormecido enquanto eu me ocupava das coisas práticas da vida – ou elas se ocupavam de tomar minha vida. Agora é uma surpresa perceber que a essência do que somos nunca se perde, não importa o quanto nossa vida mude ou quantas décadas se passem.
O desconforto e a insatisfação de viver na cidade é algo que me incomoda levemente quase todos os dias, mas se intensifica quando passo muito tempo sem viajar para destinos de natureza. Abrir a janela do quarto pela manhã e ver telhados e mais telhados, tantos outros prédios (= gente vivendo sobre as cabeças de outras gentes, sempre achei a coisa mais estranha do mundo olhar para um edifício residencial e ver nas janelas as pessoas vivendo sobre as outras), horizonte espreitando-se entre eles, depois pelas ruas ver paredes pichadas, emaranhados de fios elétricos, pessoas invisíveis pedindo ajuda, ouvir barulho incessante de carros, inalar ar que ninguém deveria respirar. Sei que há muitas facilidades em cidades grandes, mas sempre acreditei que o caminho mais fácil nem sempre é a melhor escolha.
Viver numa cidade grande é certeza de ruptura com a natureza, não apenas a que está lá fora, que transformamos, agredimos, da qual subtraímos e à qual raramente somamos. Não é só a condição de não estarmos cercados por árvores e rios despoluídos ou da ausência do contato com animais silvestres ou mesmo domesticados. O distanciamento da natureza nos afasta de nossa condição de seres humanos, e a cidade impõe não somente um ritmo, mas convida a ser mais uma máquina, que precisa produzir e consumir. E mesmo que você consiga se desvencilhar dessa armadilha vivendo numa cidade grande, o que te resta é procurar, como eu, alguns momentos de paz, satisfação, encontro com a natureza e com seu ser humano. Um dia eu encontro essa cidade pequena e é pra lá que eu vou, como se estivesse em férias constantes, porque, afinal, são as cidades pequenas que sempre me encantaram mais.
Leia o que as outras blogueiras escreveram sobre o tema Cidades Pequenas:
- Diário de Polly: 8 on 8 Cidades pequenas Haarlem, Holanda
- Let’s Fly Away: Paraty morrer de amores
- Turistando.in: 8 pequenas cidades da Basilicata no Sul da Itália
- Quarto de viagem: 8 Cidades Pequenas Espalhadas pelo Globo
Respostas de 29
Seus posts são lindos e inspiradores. Amei as suas reflexões ao final e concordo com os seus pensamentos. Não cresci numa cidade grande, mas também não era pequena o suficiente para que pudéssemos aproveitar as vantagens que vc foi citando com as imagens, ou seja, era um meio do caminho, o que no final era pior. Ainda bem que hoje temos a oportunidade de viajar para lugares que nos agradam mais, enquanto a chance de morar neles não chega.. Espero que, para vc, chegue logo! Beijo grande
Polly, obrigada pelo comentário e pela visita. Verdade, meio termo é bem ruim – em tudo! Seja quente ou seja frio, mas morno, não dá! abraços
Muito legal as fotos e a reflexão. Sempre vivi em São Paulo também e as vezes sinto falta de uma cidade pequena. Ai vem as viagens né haha
Obrigado por compartilhar esse texto.
Ainda me sinto bem atraída pelas grandes cidades, mas Roma na verdade não é uma megalopole, então ainda vivemos bem.
Pois é, mas Roma tem o agravante de estar sempre invadida pelos turistas, o que não sei se chega a ser um problema ou algo interessante. Acho que gostaria de viver em Roma um pouco para saber ahaha
A vida nas cidades grandes é muito corrida e, apesar da oferta cultural ser maior, também sinto muito a falta do contacto com a natureza. O sentido de comunidade perde-se, os vizinhos não se conhecem, a poluição e o trânsito envenenam-nos aos poucos…
Gostei muito da sua inspiração e, sobretudo, da foto das gazelas a observarem curiosas os visitantes!!
Obrigada, Ruthia. Elas estavam assustadas, pois pularam na estrada bem na nossa frente, uma a uma. Enquanto meu marido olhava assustado pra mim, que me preparava pra fotografar a cena, o segundo apareceu na frente do carro e o terceiro, o filhote, atravessou a estrada calmamente, juntando-se aos adultos.