A manjada foto da gaivota pegando biscoitos das mãos de turistas que se equilibram num barco com uma vista de tirar o fôlego talvez seja a imagem mais recorrente quando se fala em navegar o Nahuel Huapi, o onipresente lago da cidade de Bariloche. E estava eu, buscando informações do que fazer entre 25 de junho e 10 de julho, quando soube que além do histórico Cruce Andino havia outros dois passeios lacustres, todos partindo do cinematográfico Puerto Pañuelo e todos operados pela Turisur. O primeiro deles e do qual falo neste post é o que vai a Puerto Blest, Lago Frías e Cachoeira Los Cántaros. Fiz o passeio a convite da Turisur, que tem escritório na Calle Villegas, 310, no centro de Bariloche.
Morando em um país tropical, com algumas praias acessíveis apenas pelo mar, lagoas mornas por jangadas e piscinas naturais por saveiros, tive poucas chances de navegar por lagos antes de visitar Bariloche. Além da beleza das montanhas, das florestas e dos lagos em si, o que causou boa impressão foi a organização dos passeios, o profissionalismo dos marinheiros e guias e a qualidade da frota da Turisur. Em nada lembrava os passeios de saveiro por Ilha Grande ou Angra dos Reis no estado do RJ, quando os saveiros aportavam um ao lado do outro e íamos pulando-os até chegar ao píer.
O barco utilizado para este passeio foi o catamarã Victoria Andina. Além dos assentos da parte frontal (foto acima), há assentos estilo lanchonete, com mesas, ideais para grupos e famílias grandes. O catamarã com capacidade para 260 pessoas tem sanitários, calefação e cafeteria. Acredite, você vai precisar de um chocolate quente depois de ficar no convés, com o braço estendido, segurando um biscoito, em oferta às gaivotas. Durante o trajeto, apresentam-se em vídeo as fotos tiradas por uma equipe de fotógrafos, que podem ser impressas se você quiser comprá-las.
Como fazia muito frio, logo que partimos, pontualmente às 10h, os vidros estavam embaçados, mas foram ficando translúcidos e pudemos apreciar a paisagem. Diferente de navegação em mar, não há balanço e não se enjoa. Apesar disso, as normas de se manter sentado na chegada e saída de cada porto precisam ser observadas.
O trajeto inicial até Puerto Blest leva 90 minutos e a navegação é feita pelo braço mais importante do Nanuel Huapi, o Braço Blest. Logo ao entrar nesse estreito, vemos a Ilha Sentinela, onde estão os restos mortais de Perito Moreno, grande herói dos parques nacionais e importante figura na demarcação da fronteira entre Chile e Argentina. O barco toca a buzina para prestar sua homenagem. E se você estiver imaginando onde foi que ouviu esse nome antes, ele está presente em ruas de Bariloche, nomeia uma cidade, lagos e é mundialmente conhecido pela geleira que fica no sul da Patagônia Argentina, a (surprise!) Perito Moreno. Aproveite e leia Perito Moreno: caminhando sobre gelo.
Tudo o que se tem para fazer é relaxar, apreciar a paisagem, fotografar e alimentar as gaivotas. Ao chegar a Puerto Blest, todo mundo quer um click com o visu da foto acima, mas temos só 10 minutos. Então sossegue e faça suas fotos no retorno, quando há tempo para lanche, fotos e até brincar na praia.
Pode-se usar os banheiros do único hotel da região, o Hotel Blest. Ao lado do hotel há um mirante para o rio Frias, que se origina de um dos glaciares do Cerro Tronador e termina no lago de mesmo nome e deságua no Nahuel Huapi. Nosso ônibus nos esperava para um percurso de 3 quilômetros, cerca de 10 ou 15 minutos por uma estradinha de mão única de terra, em meio à selva valdiviana, uma espécie de floresta úmida.
Chega-se a Puerto Alegre, parte norte do Lago Frías. Quem incluiu em seu passeio a navegação do Lago Frias embarca no Victoria del Sul, com capacidade para 110 pessoas. Quem não incluiu, depois de apreciar o lago Frias desse ponto, pode voltar caminhando pela trilha para ver mais de perto as espécies da região ou aguardar o retorno do Victoria del Sul para voltar de ônibus.
Às 12h10, deixamos Puerto Alegre para uma navegação rápida pelo lago Frías, de 70 metros de profundidade. Sua coloração esverdeada deve-se a partículas de rochas provenientes do glaciar do Tronador, que ficam na superfície da água.
Em Puerto Frías, sul do lago Frías, as pessoas que fazem o Cruce Andino se dirigem à aduaneira argentina para controle de passaportes e revista de bagagem, que é feita aleatoriamente. Os demais passageiros têm entre 10 a 15 minutos para caminhar, fotografar, usar o banheiro e comprar algo no quiosque local.
Percorremos o caminho de volta até Puerto Alegre e depois de ônibus a Puerto Blest. Temos então pouco mais de uma hora para almoçar e fazer as fotos do lugar com calma. A lanchonete fica no térreo do hotel.
O andar superior tem um restaurante (que estava fechado) e uma sala de estar com janelas que emolduram essa linda paisagem.
Realizei este mesmo percurso uma segunda vez quando fiz o Cruce Andino e posso dizer que além da mudança registrada pelas estações, a paisagem se transforma em dias de chuva, de sol e de neve. Escolha o que mais lhe agrada.
Às 14h30 partimos de Puerto Blest para uma breve navegação até as passarelas que levam aos mirantes da Cachoeira Los Cantaros. São cerca de 700 degraus, mas bem leves, com descanso a cada 4. Não é difícil para crianças ou idosos e como pode-se ver nas fotos, há corrimãos. De qualquer forma, sempre penso em como o mundo não está preparado para receber pessoas com limitações de mobilidade e como temos que agradecer por ter saúde para aproveitar as belezas da natureza.
Sei que a cachoeira é a grande atração, mas eu me encantei mesmo foi com o lago, que leva o mesmo nome. Pena que estava na contraluz, mas mesmo assim, consegui alguns ângulos legais.
E então é hora de voltar ao Victoria Andina, mais paisagens lindas, mais gaivotas. Na minha opinião este é um passeio para favoritar em qualquer planejamento de viagem a Bariloche. Mesmo que você faça o Cruce Andino, que considero (não gosto desse termo, mas ele é certeiro!) imperdível, não deixe de fazer o Puerto Blest para aproveitar o Los Cantaros e ter mais tempo em Puerto Blest, que no Cruce é apenas uma breve passagem.
PRÁTICAS RÁPIDAS
Compra de Ingresso
Você pode comprar os ingressos antecipadamente pela Internet ou no escritório da Turisur. Outras agências também comercializam, mas a Turisur é a concessionária autorizada a realizar navegação pelo Nahuel Huapi e demais lagos da região, até a fronteira com o Chile. Também é possível contar com a sorte e comprar no dia do passeio, no guichê da Turisur que fica no estacionamento do porto, mas é melhor garantir seu ingresso, não acha?
Preços (em pesos argentinos )
adultos: 580
crianças de 5 a 12 anos: 290
extensão a Lago Frias: 220 (opcional)
traslado do Centro de Bariloche a Puerto Pañuelo: 130
Taxas a serem pagas em dinheiro em Puerto Pañuelo:
– taxa de embarque: 32
– ingresso ao Parque Nacional: 100 (para integrantes do Mercosul). Menores de 16 anos e maiores de 65 não pagam.
Visite o site da Turisur para mais informações.
Horário
O passeio leva o dia todo. O barco parte às 10h de Puerto Pañuelo, em frente ao hotel Llao Llao, mas é preciso chegar com antecedência mínima de 30 minutos para pagar a taxa de embarque e de acesso ao Parque Nacional. Além disso, o porto é um lugar muito bonito, e faz parte do Circuito Chico.
Estrutura do Porto Pañuelo
Todos os passeios lacustres partem de Puerto Pañuelo, 25 quilômetros a Oeste de Bariloche. O porto construído em 1965 tem estacionamento gratuito para período igual ou superior a 90 minutos, um edifício com calefação e envidraçado com uma lanchonete, sanitários modernos e limpos, wifi gratuito e rápido e os guichês de pagamento das taxas de embarque e de entrada no Parque Nacional. O edifício tem vista para o Cerro Lopez, esse lindão da foto acima. Gaivotas do que imagino seja papier marche adiantam que suas versões reais estarão à espera de pão e biscoitos oferecidos pelos turistas que navegam o Lago Nahuel Huapi.
Respostas de 8
Que lindas paisagens !!! Vc fez o passeio por conta própria ???
Vou fazer o cruce andino em 2 dias e ainda ao decidi se durmo em Peulla ou em Puerto Blest. O que sugere? Estarei com minha filha de 2 anos, o que deve limitar um pouco os passeios… obrigada!
Oi, Taís, com uma criança de 2 anos, acho que é melhor fazer a parada, mesmo (eu fiz direto). Fique em Peulla, porque Puerto Blest é muito perto do início da viagem e em Peulla tem mais opções de passeios. Volte depois pra contar como foi, abraços e boa viagem!
ola, estou indo dia 07 de dezembro, vou ficar 7 dias, o cruce andino vale mesmo a pena, como tenho pouco dias na cidade, não sei se vale a pena perder 2 ou 3 dias fazendo esse passeio, pelos lagos,qual outro passeio indicaria?
abraços obrigada
Oi, Maria. O problema do Cruce Andino é o custo, se vc pode pagar, vale a pena, sim, pq vc conhece um pouco do Chile, também. Mas se preferir ficar apenas em Bariloche, além do Puerto Blest tem vários passeios, aqui no blog falo sobre eles. Vai alugar carro? Vá até Vila langostura, o único sobre o qual não escrevi.