Já ouviu falar em Stockbridge? Não, né? E Norman Rockwell? Então fica aqui que vou te apresentar ambos.

Meus anos como aluna e depois professora de inglês em um instituto que além da língua originalmente difundia a cultura americana teve grande influência na minha vida e isso se refletiu até nas escolhas de viagem. Quando sugeri visitarmos a Nova Inglaterra no outono para ver a mudança das cores das árvores, as decorações de abóboras nas varandas de madeira das cidadezinhas de New Hampshire e Massachusetts, fiz questão de incluir Stockbridge só para conhecer o museu Norman Rockwell.
Caso você não o conheça, ele ficou famoso com as ilustrações das capas da revista Saturday Evening Post ao longo de quase 50 anos. É muita coisa! Ver suas obras é como dar um passeio por uma inocente e idílica cultura americana, com imagens de crianças pescando em rios, ou exibindo o primeiro dente de leite caído, ou o soldado descascando batatas na cozinha da mãe, o peru à mesa no feriado de Ação de Graças.
Suas obras eram vistas como irreais, retrato de uma América que não existia. A curadora do Museu Norman Rockwell em Stockbridge diz que ele pintava a vida como ele queria que ela fosse. Saber que o autor cresceu e viveu na grande Nova Iorque talvez endosse essa afirmação. E me identifico: nasci e cresci em SP, mas são as coisas do campo que me encantam. E me identifico também com a opinião do diretor de uma galeria que expos alguns trabalhos de Rockwell:
“Quem fica esperando que lhes digam o que é boa arte ou arte ruim, está perdendo tempo.
Arte é simples: Ou ela significa algo ou não.”
Não tenho conhecimento de Arte e não é este o propósito do post, mas não posso deixar de apontar que embora Norman Rockwell tenha sido um artista talentoso e de grande sensibilidade, o fato de ter sido um ilustrador comercial não lhe rendeu o respeito merecido da crítica. O público pensava diferente: publicações do The Saturday Evening Post cujas capas eram de sua autoria vendiam em média 250 mil exemplares a mais.
O respeito como ilustrador – não artista – por parte da crítica surgiu nos anos 1960, quando suas obras se tornaram sócio-políticas, com temas como racismo e religião. The Problem We All Live With também foi criada para a capa de uma revista, a Look, mas retrata a icônica caminhada de Ruby Bridges à escola, escoltada por delegados.

O Museu Norman Rockwell
O museu é pequeno, não é necessário pular nenhuma sala para ganhar tempo. Está organizado cronologicamente. A sala com as capas do The Saturday Evening Post foi onde mais nos demoramos. Não só pela quantidade, mas porque são mesmo ótimas!

O humor era sempre presente em seus trabalhos para o Saturday Evening Post. Fico imaginando a que matérias suas ilustrações se referiam. O menino conferindo se o médico tem mesmo um diploma, o marinheiro tatuando nome do novo amor no braço – e riscando o velho, são alguns exemplos.


Um dos trabalhos de Rockwell de que gosto – mas que não vi no museu (tem apenas o estudo) – é Girl at Mirror, de 1954. A composição é fantástica: a menina se olha no espelho, possivelmente imaginando seu futuro como mulher, se seria atraente como a atriz da revista em seu colo. Entre a infância e a vida adulta, a puberdade fez com que abandonasse a boneca, deixando mais perto de si as novas ferramentas: batom, escova e pente de cabelo. O mobiliário na composição está fora de lugar, assim como nos sentimos nessa fase.

A inocência presente nos primeiros trabalhos não foi abandonada apesar da mudança dos temas. Norman Rockwell continuou transmitindo o desejo de um mundo mais bonito, justo e leve. “Faça aos outros como você gostaria que fizessem a você”. Simples, não?

O Museu Norman Rockwell fica em Stockbridge, cidadezinha onde Rockwell viveu seus últimos 25 anos, e existe desde 1969, na Main Street. Foi só em 1993 que se mudou para a área rural de hoje, onde também fica seu estúdio. Para visitar o estúdio é preciso agendar um tour pelo site. Mas programe-se para o período de maio a meados de novembro, pois fecha no inverno.

Tem estacionamento gratuito e sombreado. Nos jardins há várias esculturas, canteiros e áreas agradáveis para caminhar. A loja de presentes tem itens lindos, vale passar por lá antes de ir embora.
Os ingressos custam US$25 (19 a 64 anos; gratuito para crianças e jovens até 18 anos) e podem ser comprados na bilheteria do museu ou pelo site do Museu Norman Rockwell. Abre diariamente das 10h às 16h, exceto às quartas-feiras, Natal, Ano Novo e Ação de Graças.
Ir a um museu e ver obras queridas é como encontrar um velho amigo. Com você é assim, também?


Outros Museus
Para celebrar a Museum Week, o grupo de blogueiras do 8on8 selecionou alguns museus pelo Brasil e pelo mundo para falar a respeito:
- Travel Tips Brasil – Por Dentro do Museum of Pop Culture em Seattle
- Destinos Por Onde Andei… – Museu da Memória e dos Direitos Humanos em Santiago, Chile
- Entre Mochilas e Malinhas – Museus de Futebol no Brasil
- Turistando.in – Conhecendo a Pinacoteca de Brera em Milão
- O Berço do Mundo – MoMA, o museu de arte moderna de NY
- Chicas Lokas na Estrada – Museum of Science em Boston
- Viajante Econômica – Museu de Bolzano preserva Ötzi, o homem de gelo
- Let’s Fly Away – Quais as principais obras do British Museum: o que não deixar de ver
Respostas de 8
Oi Marcia, que trabalho maravilhoso do Norman Rockwell, eu não conhecia.
Fiquei encantada com a obra que você destacou da menina. Muito interessante. Acho que meu marido adoraria esse museu e essa região da Nova Inglaterra é incrível. Vou colocar Stockbridge num roteiro futuro.
Valeu a dica!
Bjs
Realmente as obras do Museu Norman Rockwell parecem um passeio pela cultura americana, retratos de um cotidiano perfeito. Gosto muito desse tipo de arte contemporânea, pois é relativamente fácil relacioná-la com a época com que foi criada. Não conhecia nada do artista e achei interessantíssimo!
Eu nao conhecia este museu e nem mesmo este artista. Na verdade, nao conheço praticamente nada relativa à cultura norte-americana.
Adorei o “The Problem We All Live With”… tao antigo, mas infelizmente tao contemporâneo!
E eu nao sei se classificaria os quadros que tanto desejo ver como “velhos amigos”, mas eu te entendo: a emoção de ver presencialmente aquilo que sempre víamos em livro é indescritível!
Respondendo sua pergunta inicial, eu nunca tinha ouvido falar de Stockbridge e de Norman Rockwell, mas gostei de conhecer as obras do artista/ilustrador. Muito interessante o museu! Uma caminhada pela história recente norte-americana!