Parques Nacionais dos Estados Unidos: Glacier

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Conteúdo do Artigo

O Glacier National Park não é dos mais famosos parques nacionais dos Estados Unidos – pelo menos não pelos brasileiros, mas recebeu quase 3 milhões de visitantes em 2018, ano em que fomos conhecê-lo de pertinho – o Brasil inteiro recebeu 6.62 milhões no mesmo período. Pra você, um relato cheio de dicas práticas sobre o parque localizado nas Montanhas Rochosas em Montana, fronteira com Alberta no Canadá.

O Glacier é um paraíso para os amantes da natureza, são 1.100 km de trilhas, 200 lagos, inúmeras montanhas e muita vida selvagem: ursos pardos, lobos, pumas e espécies cujo nome só sei em inglês, como o bighorn sheep e o mountain goat. Foi lá que vimos nossos únicos ursos desta viagem às Montanhas Rochosas, mesmo tendo rodado de Banff a Jasper, no Canadá, dias antes.

Nossa roadtrip até o Glacier Park

Atenção!!!

Se você chegou ao Canadá via aérea e vai reentrar no Canadá via terrestre após visitar Montana ou outro lugar nos Estados Unidos, certifique-se de que o agente de imigração do aeroporto canadense tenha carimbado seu passaporte caso você tenha emitido o eTA. Este parece ser um procedimento confuso ainda, sem padronização, e muita gente tem tido problemas.

Esta e outras informações importantes sobre a viagem Alberta-Montana, qando partimos de Calgary até o Glacier, você encontra no post Cruzando a Fronteira Canadá-Estados Unidos: roadtrip entre Alberta a Montana

Leia também o post Como Emitir o eTA, o visto eletrônico canadense.

Finalmente, o Glacier National Park

A poucas semanas desta viagem que aconteceu em setembro de 2018, um terrível incêndio florestal avançou sobre o lado oeste do Lago McDonald e provocou a interdição de extenso trecho da icônica estrada Going to the Sun, naqueles dias, de Apgar a Logan Pass. E não foi azar, não. Incêndios são muito comuns nesta região, a gente só não ouve tanto quanto os da Califórnia.

Em nossa primeira viagem ao Yosemite National Park, aprendemos com os rangers que os incêndios fazem parte do ciclo de vida deste tipo de florestas, mas confesso que dói ver quilômetros e quilômetros de árvores destruídas. No Glacier, alguns trechos estavam em plena recuperação, coloridos pelos tons do outono, e isso trouxe um pouco de ânimo e de aceitação dessa coisa de incêndio=ciclo de vida das florestas.

Eu havia alimentado minhas expectativas com várias imagens lindas da Going to the Sun e receber a notícia de que todo o trecho ao longo do lago McDonald estaria fechado foi frustrante, mas decidimos ir assim mesmo, pois não sabemos se teremos outra oportunidade de viver esta experiência. Dirigimos apenas um trecho da Going to the Sun, mas por outro lado conhecemos sua porção menos visitada, a Leste, onde fica o lindo Two Medice Lake, pois fomos obrigados a dar toda a volta no parque para chegar a Hungry Horse, onde tínhamos pago já pelo hotel – a estrada nem aparece no mapa abaixo!

Bem, depois de cruzar a fronteira, ainda são 31 km até estarmos em território do parque nacional, e chegamos a St Mary Village. Nessa bifurcação com a Going to the Sun, há um posto de gasolina, sanitários, mercado, loja de souvenirs, hotéis e um restaurante onde paramos para almoçar, o Snowgoose.

O Portal de entrada Leste – e bilheteria

Um quilômetro adiante, no St Mary Visitor’s Center, fica a cabine de cobrança do passe de entrada do parque. Se você tiver tempo, entre no Visitor’s center e aprenda sobre o Glacier. Compramos o passe de 7 dias por USD$35 por carro, porque ainda rodaríamos mais um dia e porque éramos 3 no carro e o individual sairia mais caro ($20). A ranger entregou o mapa do parque, , um jornalzinho com informações e o passe com uma fita adesiva para ser colado no vidro do carro. Se você por algum motivo sair dos limites do Glacier e entrar novamente, vai precisar apresentá-lo – ou pagar novamente, então não o perca.

A Going to the Sun

Este trecho inicial da Going to the Sun é plano e sem muitos atrativos, mas fique atento a acostamentos do lado esquerdo, com vista para o Lago Saint Mary e montanhas ao fundo, um ponto lindo do parque, com camadas e camadas de montanhas. Neste primeiro dia no Glacier, o ar estava esbranquiçado pela fumaça dos incêndios.

O Lago Saint Mary e a ilha Wild Goose – e o esfumaçado do incêndio

Depois de rodar pelas estradas das Montanhas Rochosas Canadenses, que na minha opinião só perdem para as Montanhas Dolomitas italianas, este trecho da Going do the Sun chega a ser acanhado em belezas, sendo muito sincera. Fiquei mais animadinha quando começam a aparecer as cachoeiras que desabam pelos paredões da estrada, próximo a túneis rústicos rasgados na rocha.

Neste primeiro dia, não fizemos muito porque estávamos preocupados com a estrada longa que teríamos que tomar, então fomos até o limite, Logan Pass, o centro de visitantes no ponto mais alto do parque, a 2 mil metros. É um ponto muito bonito, amplo, com vistas lindas e estava muito movimentado. Fotografei placas de carros de vários estados americanos, inclusive do Sul! De lá partem trilhas para o Hidden Lake e The Highline, mas não tivemos tempo para fazê-las.

Já que não podíamos seguir adiante, voltamos até St. Mary e pegamos a estrada 89 Sul, que contorna o Glacier. Esta parte é bem deserta e árida a princípio, quase nada de civilização. A 89 faz uma bifurcação pouco antes do Two Medicine Lake e pegamos a 49 Sul, e finalmente vemos civilização, na entrada East Glacier Park Village, quando a estrada volta a ser interestadual, a 2. Estamos então novamente dentro dos limites do Glacier, e as árvores voltam a nos fazer companhia dos dois lados da estrada, mas uma surpresa no caminho: um incêndio na floresta ao lado da estrada. Mal conseguíamos enxergar a estrada num trecho curto, os olhos ardiam e respirar foi bem difícil. Foi então que senti na pele – e nos pulmões – porque eles tinham evacuado partes do parque.

À noite é muito engarçado, porque dá um medo enorme de sair, já que os ursos costumam vasculhar as lixeiras de casas – e do hotel onde estávamos (leia mais abaixo). Depois do jantar, ficamos quietinhos dentro do quarto e escondi bem nossa comida, vai que um urso arromba nossa porta!

No dia seguinte partimos de Hungry Horse em direção a West Glacier, uma parte do parque que mais parece uma cidadezinha, com lojas, restaurantes, mercadinhos, ATM (caixa eletrônico). É ali que termina a Going to the Sun.

Seguindo pela Going to the Sun, chegamos ao Apgar Visitor Center, e só pra dizer que o vi, seguimos um pouco mais até o Lake McDonald. Vimos o lago, mas as montanhas estavam encobertas, parte por nuvens, parte por fumaça – o cheiro de fumaça era muito forte.

Fizemos o caminho de volta, para o Leste, e paramos no Two Medice Lake. Vários lagos oferecem passeios de barco e ali no Two Medicine tem o histórico barco de 1926, com capacidade para 49 passageiros. Amplie a foto para ver os preços e opções, pois é possível remar, também.

Ainda dentro dos limites do parque, finalmente avistamos vida selvagem: 2 ursos tomando o café da manhã à beira da estrada. Vou contar o maior mico que paguei, culpa da minha ansiedade pra ver ursos. No dia anterior, estávamos numa estradinha e vi uma bunda preta e saí gritando: é um urso. Era uma vaca… Virou meme em casa.

O dia estava mais limpo, acho que o vento mudou de direção e afastou um pouco a fumaça que esbranquiçou as montanhas no dia anterior.

Um pouco de história do Glacier Park

Os donos da terra

Quando os primeiros caçadores ‘brancos’ chegaram à região no início do século 18, a região onde hoje está o Glacier era habitada por diversas tribos, dentre elas os Blackfeet. O website do governo americano não fala em números da época, mas hoje 17 mil membros desta nação indígena vivem na reserva de 1.5 milhões de acres no estado de Montana, área superior à do Glacier e vizinha a ele pelo leste.

O parque das geleiras

Em 1850, o Glacier ostentava 150 geleiras, hoje apenas 25 delas estão ativas e a previsão é de que até 2030 elas sejam extintas. Vivendo num país tropical, uma viagem ao Parque dos Glaciares na patagônia argentina foi educativa para que eu entendesse o que são geleiras. Uma geleira se forma e se mantém ativa quando a quantidade de neve acumulada no inverno é superior ao degelo no verão.

A origem do Glacier e a estrada Going to the Sun

O Glacier é o décimo parque nacional dos Estados Unidos, estabelecido em 1910. Em 1932, o Glacier e seu vizinho canadense, o Waterton Lakes, se fundiram para formar o primeiro International Peace Park, conhecido como Waterton Glacier International Peace Park. Ambos parques são protegidos pela Unesco.

Com histórica paixão americana pelo automóvel, em 1920 a estrada Going to the Sun abria espaço para que as belezas do Glacier fossem conhecidas, e ainda hoje ela é considerada um marco da associação homem-natureza. A Going to the Sun tem 83 km de extensão, passa por diversas cachoeiras e paisagens de tirar o fôlego. Para complementar o cenário, ônibus retrôs, fazem passeios pela estrada para diminuir o número de automóveis circulando na estrada ou para aqueles que desejam apenas curtir a paisagem sem se preocupar com suas curvas.

Como Chegar ao Glacier National Park

de avião

Não há voos diretos do Brasil. Nós voamos para Calgary e retiramos um carro alugado no aeroporto. O aeroporto mais próximo é o Glacier Park International (FCA), a 30 milhas da entrada Oeste do parque.

de carro

Obviamente vai depender de onde você vem. Nós viemos de Calgary e decidimos pegar a A2, embora tivesse lido que a 22 e 93 têm mais paisagens, mas o trajeto ficaria mais longo. De Calgary ao centro de Visitantes St Mary são 290 km pela 2, e confirmei que a paisagem é um tanto monótona, pois estamos entrando nas grandes planícies, onde dominam as plantações de grãos. Em alguns trechos a estrada é a avenida principal de uma cidadezinha, como em Cardstone.

Se você gosta de parques nacionais dos Estados Unidos, uma sugestão é colocar no mesmo ‘pacote’ o primeiro – e talvez o mais famoso – o Yellowstone. A entrada oeste do Yellowstone fica na fronteira de Montana e Wyoming e são 570 km até St Mary Village.

Para informações de outros meios para chegar, consulte o site National Parks.

Glacier Park Shuttles

Os ônibus que circulam pelo Glacier não são apenas opcionais. Caso você esteja com um motorhome grande, não poderá circular na Going to the Sun, então leia as restrições mais abaixo. Os shuttles que partem do Oeste operam de 1 de julho ao feriado do dia do trabalho, na primeira semana de setembro. Os do lado leste começam em junho e vão até 20 de setembro. Mais informações no site do Glacier National Park Shuttle Service.

Ônibus Vermelho

Os 33 ônibus vermelhos do Glacier Park são charmosos carros dos anos 1930s e têm teto solar, ótimo para observar os picos das montanhas. Cabem 17 pessoas
Fiz um orçamento pelo site oficial, para 3 pessoas, uma rota de 6h30 de duração, chamada Crown of the Continent, partindo do vale St Mary às 10h e retornando a ele às 16h30. Há percursos mais longos e mais curtos e este custaria $74 por adulto ou crianças acima de 12 anos.

Parques Nacionais dos Estados Unidos

Restrições de veículos na Going to the Sun

Como a Going to the Sun é muito estreita, curvilínea e com túneis rochosos baixos, existem restrições para os veículos nestes trechos e com as seguintes medidas:
– entre Avalanche Campground e área de piquenique Rising Sun para veículos com mais de 6,5m de comprimento.
– de Logan Pass até Loop, para veículos com mais de 3 m de altura.

Parques Nacionais dos Estados Unidos

Melhor época para visitar o Glacier Park

O verão é a melhor época para visitar este parque nacional dos Estados Unidos, mesmo porque a Going to the Sun não tem todos os trechos desobstruídos pela neve até o final de junho. Assim, com tão pouco tempo para ser visitado, não é uma surpresa que Julho e Agosto vejam o parque bem cheio.

Fomos na primeira semana de setembro e as cores do outono estavam começando a enfeitar as florestas, mas evite final de setembro em diante, porque as pousadas e campings começam a fechar – e a neve a cair.

Quantos dias ficar no Glacier Park

Em 2 dias inteiros é possível conhecer os principais pontos do parque, mas se você puder, fique mais, pois parques nacionais, dos Estados Unidos ou de qualquer outro lugar, merecem ser curtidos.

Onde Ficar no Glacier National Park   

A primeira dica serve para todos os parques nacionais dos Estados Unidos – e espero que não seja tarde demais – faça a reserva com muita antecedência. Viajamos em setembro/18 e fiz a reserva em janeiro/18, e não havia muitas opções, não.

Há opções de hospedagem dentro do parque, em St Mary Village, Rising Sun, Lake McDonald Lodge e Apgar Village. Ficar fora do parque é mais barato e mais fácil de conseguir vagas, e além do There are many other lodging options in Columbia Falls, Whitefish and Kalispel.

Foi em Hungry Horse que achei um hotel com preço razoável e personalidade, o Historic Tamarack Lodge. Além disso, fica a apenas 13 km da entrada Oeste do Glacier. Em estilo motel americano (quartos com portas na varandinha), quarto simples, mas com microondas, geladeira, ótimo para pequenas refeições como o café da manhã. A área social é aconchegante e com cara de Montana: casa de toras de madeiras, com animais empalhados, galhadas e objetos de caça e neve. A surpresa ficou por conta da deliciosa refeição que fizemos no restaurante – e tem um salloon também!

Glacier parques nacionais dos Estados Unidos
fachada do hotel onde ficamos, no lado Oeste

Em frente ao nosso hotel, tinha uma loja de peles, um trading post (ahaha, vou trocar o que?) e uma escultura de bisão. Fui fazer minha foto jacu!

Camping no Glacier Park

Há 13 campings no Galcier e a a maioria não exige reservas, você escolhe um espaço vago e paga na recepção. Os que precisam de reserva são Fish Creek, St Mary, Apgar, Mary Glacier
Veja mais informações no site oficial do Glacier Park

Onde Comer no Glacier Park

Ao longo do parque há ‘vilas’ onde ficam pousadas e restaurantes, como em St. Mary e West Glacier. Nos campings existem lojas para abastecimento de alimentos e gêneros de primeira necessidade.

Em St Mary Village – Almoçamos no Snowgoose: angus burger por $13, caesar salad $16, Coca $2,50, cerveja $5

Em Hungry Horse – Jantar no restaurante do Historical Tamarack Lodge: Truta com legumes $25, Fish and Chips: $9,75, Fettucine Alfredo: $15

adoro selffeet

Outros Parques Nacionais dos Estados Unidos

Em 2019, havia 61 parques nacionais nos Estados Unidos, dentre eles reservas e monumentos históricos. O Mulher Casada Viaja tem dicas de alguns deles:

Vale a pena ir ao Glacier Park? Sem dúvida, principalmente se você, diferente da gente, tiver mais tempo para fazer trilhas e mais sorte de pegar a Going to the Sun desimpedida. Com esta dupla, você poderá voltar aqui e deixar muitas dicas. Eu gostaria muito de voltar, porque este 2 dias foram apenas um tira gosto.

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Marcia Picorallo

Escrevo o Mulher Casada Viaja com carinho desde 2014, compartilhando minhas impressões dos lugares por onde passei, inspirando e ajudando leitores a planejar suas aventuras.

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Márcia, a viajante

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COMENTÁRIOS

Respostas de 18

  1. As paisagens do Glacier National Park me pareceram lindas, mesmo que, comparativamente você não as tenha achada as mais, mais que já visitou! 🙂 Deve causar uma dor no coração ver tudo queimado, mas eu tenho uma estranha atração pelo fogo. Acho um agente transformador intenso… maluquice, né?!

    Bunda de vaca, bunda de urso?! rsrsrs Deve ter sido interessante ver os ursos em seu habitat natural. Confesso que colocaria a cara para fora do quarto do (muito fofo) hotel para ver se via algum fuçando a lata de lixo. Uma coisa Zé Colmeia. rsrsr

    Dos parques nacionais americanos só conheço Joshua Tree e Death Valley – os dois na Califórnia -, diferentes entre si e ambos muito bonitos em minha opinião. bjs

    1. Ana, tenho pavor de urso e como eles são muito frequentes nestes parques nacionais, não quis arriscar, não, dá muito medo. Mas se você estivesse lá comigo eu toparia o atrevimento, me faltou incentivo ehehe.
      O Death Valley eu gostaria muito de conhecer, já o Joshua Tree não sei, já me satisfiz com o álbum do U2 ahaha.

  2. Que lugar incrível, Marcia! Tipo da road trip apaixonante! Mesmo lendo sua explicação, também ficaria meio agoniada com essa história de incêndio como agente de renovação… Sensacional poder ver animais tão diferentes dos nossos em seu habitat natural.

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