Cruzando a Fronteira Canadá-Estados Unidos: roadtrip entre Alberta a Montana

Confira como é a roadtrip entre os parques Glacier e Banff, nas Montanhas Rochosas dos Estados Unidos e Canadá e obtenha informações relevantes sobre a fronteira e estradas entre Alberta e Montana.

montanhas rochosas estados unidos placa glacier park

Roadtrips idealizadas

Roadtrips são tão deliciosas porque personificam um objetivo que perseguimos a vida toda: viver o presente. Percorremos algumas centenas de quilômetros não apenas para chegar, mas na esperança de curtir o momento e viver a incomparável sensação do novo, do inesperado, e o que mais a natureza nos apresentar. Você pode ver milhares de imagens de uma cidade, um monumento, uma fachada de edifício, ou seja, do destino, mas raramente se registra o caminho, o processo para se chegar, e é este o objetivo deste post.

Tudo o que vemos em publicações escritas ou visuais de turismo é editado: apenas um recorte do melhor, do mais belo, do ápice das viagens é transmitido ao leitor ou espectador e geralmente com filtros, produzindo expectativas altíssimas – e talvez frustrações quando se chega ao destino. Eu não esperava muito desta roadtrip porque acabamos pegando a estrada mais rápida (2 South) entre Alberta e Montana, mas sabia que ao final dela paisagens incríveis do Glacier Park estariam nos esperando.

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A estrada

Eu tinha lido que fazer esta roadtrip entre Calgary e o Glacier pela autoestrada 2 era a opção mais rápida, mas também a mais sem graça pela distância das montanhas e consequente ausência de paisagens. Não que eu me canse de montanhas, quem lê o Mulher Casada Viaja sabe que sou a Moana das montanhas, mas já tínhamos nesta viagem em setembro de 2018 feito Alasca e a porção das Montanhas Rochosas do Canadá, então sacrifiquei as vistas a favor da rapidez.

montanhas rochosas estados unidos e canadá estrada

Esta ausência de atrativos é justificada porque embora estejamos bem perto das Montanhas Rochosas dos Estados Unidos e do Canadá, a região por onde passa a estrada 2 também abre as portas para the great plains, uma porção ao sul do Canadá que se estende até a fronteira mexicana e cujo relevo é bem sem gracinha, dominado por plantação de grãos, tal como aprendemos na escola.

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paisagem entre o Glacier Park e Calgary

O horizonte pode ser fitado a maior parte do tempo, sem montanhas ou construções que o obstruam. Um celeiro aqui, elevadores gigantes de grãos, uma usina que exala cheiro ruim ali, algumas poucas cidades muito pequenas, mas com centrinho bem preservado no melhor estilo western, como Cardstone.

montanhas rochosas estados unidos e Canadá
Humor é sempre bem-vindo!

A estrada segue com pista simples nos dois sentidos, mas pelo menos naquele início de setembro estava bem tranquila. Em algumas prates o vento é tão forte que há placas pedindo cautela – e realmente o carro chega a balançar pela ação do vento. Abasteça o carro ainda perto de Calgary, ou aproveite que a estrada passa na avenida principal das cidadezinhas para isso.

Logo após cruzar a fronteira, a estrada (I-89) fica mais próxima das Montanhas Rochosas e como que do nada surge a Chief Mountain, na época envolta pela fumaça produzida pelos incêndios floretais que tiraram meu sossego antes da viagem porque causou o fechamento de metade do Glacier Park e o acesso a grande parte da estrada Going to the Sun e lago McDonald. A montanha não chama a atenção pelo seu tamanho (apenas 1.500m), mas por seu formato, e a maior parte dela está localizada dentro dos limites do Glacier Park, tendo apenas uma pequena porção na reserva dos índios Blackfeet.

montanhas rochosas estados unidos Montana
a Chief Mountain, na ida, com muita fumaça
montanhas rochosas estados unidos Chief Mountain
e na volta, um pouco melhor, mas ainda assim com visibilidade bem prejudicada pela fumaça

Cruzando a fronteira

Eu já tinha cruzado a fronteira entre Canadá e Estados Unidos diversas vezes, mas sempre de avião, então quando desembarcamos no aeroporto de Calgary, no processo de controle de passaportes, fiz questão de dizer que cruzaríamos a fronteira de carro, porque se o funcionário não carimbar sua chegada em seu passaporte via aéreo, você não poderá reentrar no Canadá via terrestre.

Leia sobre esta questão do carimbo e sobre a emissão do eTA, o visto eletrônico canadense, num passo a passo de como solicitá-lo.

Placas sinalizam que você está se aproximando da fronteira, em ambos os sentidos. Não é preciso parar no guichê canadense se você estiver cruzando na direção Canadá-EU, assim como não é preciso parar no americano se estiver indo no sentido EU-Canadá. Observe que o serviço não funciona 24 horas, então programe-se.

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Nas duas fronteiras, o carro passa por um guichê, como de um estacionamento de shopping. Não é preciso pagar qualquer taxa e não solicitaram a documentação do carro alugado, apenas o passaporte. Não havia filas, até o deserto do Atacama tinha mais gente do que aquele canto do mundo naqueles dias, talvez afugentados pelos incêndios.

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O funcionário americano não estava no guichê e o vidro espelhado estava fechado. Desci do carro para ver se conseguia alguma informação e aí ele, com toda a classe de um cowboy do oeste, me ordenou que eu entrasse no carro. Começamos bem, pensei. O sotaque dele era terrível e ele não fazia a menor questão de se fazer compreender mais claramente – e olhe que sou professora de Inglês! Mas ele só queria saber porque a gente tinha chegado ao Canadá, tomado um avião pro Alasca, voltado pro Canadá e agora indo pros Estados Unidos de novo. Eu podia ter simplificado e dito que sou mulher, louca por montanhas e blogueira, mas achei melhor dizer o que eles sempre esperam: viagem de férias. Perguntou sobre bebidas, armas, ou seja, muito parecido com o que se pergunta no aeroporto. Não carimbou nada – droga, adoro um carimbinho no passaporte!

No retorno, o funcionário canadense nos atendeu de primeira. Falou pausadamente, olhando nos olhos – ah, como os canadenses são gentis… Observou os passaportes e disse que nem sempre os funcionários do aeroporto carimbam a entrada e que se tivesse sido este nosso caso não poderíamos reentrar no país da folha de bordo. Eu disse que sabia dessa regra, mas nem quis polemizar dizendo que os funcionários to-dos deveriam carimbar no aeroporto, já que o e-TA tem esta limitação.

Além deste ponto de fronteira para ir até o Glacier Park, existe um mais a oeste, mas que não usamos justamente por causa da intensidade dos incêndios florestais que fecharam todo o lado oeste do parque, para nossa tristeza…

montanhas rochosas estados unidos
Nas proximidades de Logan Pass, limite da Going to the Sun naqueles dias de incêndio

O Glacier Park

O Glacier Park fica a noroeste de Montana, porção das Montanhas Rochosas dos Estados Unidos. Se você nunca ouviu falar neste parque, mas conhece os clássicos do cinema, certamente já o viu na abertura do suspense O Iluminado (The Shining), quando o fusca amarelo do personagem vivido por Jack Nicholson sobe a Going to the Sun. Confira no YouTube, embora a trilha tenebrosa dê outra energia ao lugar.

Passamos apenas 1 noite no Glacier e dois dias incompletos, e foi o suficiente para saber que este e outros parques nacionais americanos nos esperam para outras roadtrips, de preferência, com mais tempo.

Leia sobre o Glacier Park em Parques Nacionais dos Estados Unidos: Glacier.

19 COMENTÁRIOS

  1. Eu AMO roadtrip americana! Acho uma maneira super fácil de viajar por lá. Engraçado lendo seu post sobre cruzar a fronteira vi que nem sempre a experiência é a mesma. Em outubro voei pra Vancouver (usando o eTA) e cruzei pros Estados Unidos. Não carimbaram meu passaporte na chegada ao Canadá, mas consegui entrar em Victoria de barco depois. Eu mandei um email para o consulado e eles não falaram nada da necessidade de carimbo. Claro que fica mais chato, o policial canadense teve que acessar o computador para confirmar nossa entrada. De todo jeito é bom pedir pelo carimbo então.

    • Também adoro roadtrips! Bom você ter mencionado isso, porque é a maior dúvida. Espero que resolvam logo essa questão. Facilitaram com o e-TA mas pode ter esse perrengue.

  2. Que confusão essa do carimbo do passaporte. Eu não entendi bem… quando você chega no aeroporto só carimbam se você pedir?

    • Oi, Lu. Pelo que andei lendo e como o próprio funcionário da fronteira confirmou, às vezes o funcionário do aeroporto não carimba o passaporte na entrada do Canadá e, sabendo disso, fiquei de olho para que carimbasse.

  3. Parece cenário de filme, cada lugar maravilhoso, além do mais adoro aquelas palhas gigantes na beira da estrada, vi muito quando fui a Espanha de Portugal. Me faz pensar no filme do cão covarde. ???
    Parabéns pelo post. Como foi a imigração aliás? Teve revista?

    • Ahaha, sou a louca das palhas! Fotografava cada campo da Toscana com elas. Cão Covarde?
      Quanto à imigração, como eu disse a gente nem sai do carro, só responde as perguntas e apresenta os passaportes.

  4. Que delícia, Marcia! Também adoro uma road trip, justamente porque o caminho já é a viagem… Fiquei bem interessada pela região, obrigada por compartilhar!

  5. que viagem mais que maravilhosa Márcia, a fronteira dos dois países é realmente fantástica, eu ainda quero fazer uma roadtrip na Europa e na América do Norte, mas tenho que me planejar muito e tirar a minha carteira de motorista daqui! Abraços

    • Maravilhosa mesmo, Flavia, vale a pena o investimento em tempo e dinheiro. Aí é mão inglesa, nunca dirigi em mao inglesa, deve dar um nó no cérebro. bjs

    • Bom, eu sempre digo que para quem é de SP ou Rio, pode dirigir em qualquer país desenvolvido. Meu marido é quem sempre dirige, assim eu fotografo e berro pra ele parar quando vejo um bom frame ahaha, mas eu dirigi na Itália de boa. Dá medinho mas passa logo. E dirigir nos EU, Canadá, Alemanha é uma delícia: bons motoristas, boa sinalização, estradas impecáveis. Pode ir sem medo.

  6. Oi Marcia, estamos planejando uma viagem pelas Rochosas, Glacier e Yellowstone, a grande preocupação era ir do Canadá para USA e retornar para o Canadá só com e-TA mas lendo seu blog tomamos coragem, afinal também adoramos uma estrada, e qual vc acha o caminho mais bonito saindo de Calgary em direção ao Glacier, obrigada.

    • Oi, Inês, que viagem maravilhosa vocês vão fazer! Ahaha, já vi que você é das minhas, e quer o camihno mais bonito. Eu pesquisei bastante sobre isso, como comentei no post, mas acabamos fazendo o caminho mais rápido. Se não me engano, o mais bonito pela 93. Não se esqueça de pedir ao agente do aeroporto para carimbar sua chegada no eroporto do Canadá, explicando que tem só o ETa e que vai aos EU de carro. Depois volte aqui e me conte como foi.

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