Colmar pode ser mais popular dentre as imagens compartilhadas no Instagram, mas Kaysersberg é na minha opinião – e na dos franceses – a mais encantadora das cidades da Alsácia, dentre outras dezenas de cidades encantadoras.
Para que você saiba onde Kaysersberg entra na minha história, o objetivo principal desta viagem era percorrer a Rota Romântica Alemã, mas uma coisa puxa a outra, esticamos até Stuttgart para curtir a Oktoberfest deles, e a fronteira com a França era logo ali, não resisti.
Viajar de carro economizou minutos preciosos que teriam sido desperdiçados à espera de transporte coletivo e deslocamentos (sem contar que destas, muitas não têm estação de trem), então em 14 dias, além dos destinos citados acima, conhecemos também Salzburgo e Hallstatt na Áustria, além de lagos alpinos, castelos incríveis e muitas cidadezinhas nos Alpes.
Para te situar sobre a Alsácia, seria legal você ler, antes deste, o post França: Dicas e Roteiro de 3 dias na Alsácia e sua Rota do Vinho, que explica a localização e traz breve histórico de toda região, dá informações de como chegar lá (inclusive de transporte público), fala sobre alimentos típicos, compras e outras dicas mais. Na página-índice da Alsácia. encontre dicas das demais cidades que visitamos naquele início de outono.
Feitas as apresentações, venha comigo pra Kaysersberg!
A cidade de Kaysersberg tem um conjunto de casas em estilo enxaimel dos mais conservados e está aos pés das montanhas Vosges e das ruínas do castelo, cuja torre redonda pode ser vista de quase toda vila. Em 2017 foi eleita a vila preferida dos franceses, dentre outras 12 finalistas, e recebe cerca de 700 mil turistas ao ano. Parece pouco, mas Kaysersberg é uma vila de apenas 24 km², áreas rurais consideradas.
Subir a colina proporcionará um belo panorama de Kaysersberg e para mim estar entre estas casinhas, à beira do rio Weiss, sob os ‘olhares’ da ruína do castelo me fez ‘ter certeza’ que ali teria surgido a inspiração para a história dA Bela e a Fera. Numa breve Gogglada descobri que a cidade de Conques, em Aveyron, fora a inspiração, pelo menos para o filme de 2017 com Emma Watson.
Breve relato da história de Kaysersberg
A primeira menção a Kayserberg registrada é de 1227, quando o castelo foi comprado por sua posição estratégica. Em 1293, tornou-se cidade imperial livre graças a Adolfo de Nassau, rei dos romanos e da Germânia, quando ganhou também o direito de erguer seus muros de defesa. Em 1354 entrou para a Aliança Décapole, formada por 10 cidades alsacianas, uma espécie de Mercosul da época, eu acho, que acabou em 1678. Sua localização geográfica rendeu-lhe importância comercial, exportando sua produção vinícola pelo rio Reno. A expansão econômica acabou com a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e o crescimento se deu vagarosamente nos anos subsequentes. Com a Segunda Guerra Mundial e a Alsácia ocupada pelos alemães mais uma vez, Kaysersberg precisou ser reconstruída e ganhou nova força, passando a ser a cidade preferida da região pelos franceses.
Nosso roteiro por Kaysersberg, Alsácia
Não é difícil circular pela cidade, mas o Centro de Turismo, na rua principal da cidade (39, Rue du General de Gaulle), oferece um mapa com circuito a pé, que fotografei pra você:
Chegamos a Kaysersberg às 13h30, depois de visitar Ribeuavillé e Riquewihr, 9 km ao Norte. As vilas são pequenas, por isso é possível conhecer 2 ou 3 no mesmo dia, mas com certeza o fato de estarmos de carro foi essencial para ganhar tempo.
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Voltando a Kaysersberg, estacionamos no bolsão Porte Basse (à direita, no mapa), arborizado e bem localizado, pois entramos pela rua principal da cidade. Poucos passos depois, lojas de presentes, restaurantes e cafés, e já se avista a torre do campanário de 41 metros da Igreja da Invenção da Santa Cruz (Sainte Croix).
O escritório de Turismo (e o banheiro público) ficam ao lado da Prefeitura (Hotel de Ville), construída entre 1604-05, com uma bela bay-window na fachada para a Rue Charlles de Gaulle, numa praça enfeitada com muitas floreiras – e era outono…
Monumento histórico francês, a igreja Sainte Croix começou a ser construída em 1227 e foi restaurada depois da Segunda Guerra Mundial. Na fachada, há uma estátua moderna da imperatriz Helena, relembrando a lenda de que ela descobriu a verdadeira cruz de Cristo em 327, em Jerusalém.
Em frente à igreja, a fonte (1521) com imagem do filho da imperatriz Helena, o imperador romano Constantino, obra de Jean Bongart, é dos pontos mais fotografados da cidade. Durante a Revolução Francesa foi retirada e substituída por uma pirâmide tricolor.
A igreja sofreu várias transformações no século 15. O portal e seu tímpano são originais, feitos por volta de 1235. O tímpano (ornamento acima na porta) apresenta a coroação da Virgem, sentada à esquerda de Cristo, cercados pelos arcanjos Gabriel e Miguel.
O imponente altar também é criação do escultor Jean Bongart, concluído em 1518, e os painéis contam as etapas da Paixão de Cristo, de sua chegada a Jerusalém até a crucificação.
A foto acima é da casa Loecken (século 16), que abriga hoje uma famosa boulangerie com produtos gastronômicos típicos da Alsácia, como foie gras, cognac e geléias caseiras.
No fim da rua, a General de Gaulle faz uma curva e encontra o rio Weiss e vemos a ponte fortificada (1514), construída para evitar a entrada de barcos inimigos na cidade, que é um dos pontos mais fotogênicos da cidade – como se fosse possível não fotografar cada centímetro – e onde eu tive a tal certeza da inspiração para a Bela e a Fera.
Na foto acima, várias informações:
1. uma tradição da Alsácia, o ninho de cegonha no telhado da casa, construído por humanos para recebê-los em sua rota migratória. Daí o símbolo da Alsácia ser a Cegonha, encontrado no artesanato e fachadas de casas.
2. No meio da ponte, um abrigo com emblemas do Império Romano (águia) e de Kaysersberg, que somando à imagem do imperador Constantino com a Cruz Sagrada de Cristo prometiam proteção ao povo – ou demonstravam seu poder sobre ele, claro.
3. o muro medieval da cidade e a montanha apelidada de Sangrenta pelas tropas alemãs da segunda guerra. Ali há um memorial em homenagem às tropas americanas que ajudaram a libertar a Alsácia do domínio nazista.
4. a torre do Castelo de Kaysersberg.
No final da Segunda Guerra Mundial, os nazistas planejavam explodir a ponte antes de sua retirada, mas moradores convenceram o comandante a construir uma vala antitanque pouco depois da ponte, e o símbolo da cidade foi mantido intacto.
Onde Comer em Kaysersberg – e tomar vinho
Em vez de procurar um restaurante pra almoçar, as floreiras e fachadas em estilo enxaimel nos enfeitiçaram. Resultado: todos os restaurantes já não serviam almoço depois das 14h e só conseguimos comer em uma Brasserie, as mesinhas à esquerda na foto abaixo em frente à prefeitura (20, Rue du General de Gaulle) – e só tinha flammé.
Nada de errado com o flammè, mas já tínhamos comido tanto… Trata-se de uma espécie de pizza, às vezes em formato retangular, sempre servida numa tábua fina de madeira.
O Castelo de Kaysersberg
Castelos foram construídos como fortificações, diferente de palácios que eram erguidos para moradia, e o chateau de Kaysersberg foi erguido no século 13 como barreira para uma das rotas que iam das Montanhas Vosges até Lorraine. A torre é a construção mais antiga do castelo e tem 11 metros de diâmetro e suas paredes 4 metros de largura (ooohh!), mas o bom é que você pode curtir a vista do alto de seus 100 degraus e apreciar Kaysersberg também do alto. Que pena que não fui…
Veja no mapa no início do post outros pontos para conhecer, como as torres de vigilância ainda existentes
Onde ficar em Kaysersberg ou região
Nós passamos duas noites em Estrasburgo e 1 em Colmar. Leia o post Onde Ficar em Estrasburgo e veja sugestões de hospedagem em Kaysersberg e região no Booking.com, site que sempre uso para reservar meus hotéis. Gosto que há opção de tarifas mais baratas e tarifas totalmetne reembolsáveis, então pesquise com calma.
Como chegar a Kaysersberg
O ideal é fazer esta região de carro, mas se você estiver usando transporte público, saiba que Kaysersberg não tem estação de trem, mas você pode usar um ônibus de linha (#145) em direção a Bohomme, que para no mesmo ponto onde estacionamos.
Leia Pela França de Carro: aluguel, pedágio, combustível e não passe perrengue!
Se tiver alguma pergunta ou dúvida sobre sua viagem a Kaysersberg ou Alsácia, ou quiser participar deixando dicas, deixe um comentário.
Respostas de 19
Bom, as fotos não enganam!! Lindíssimas! Nunca fui a Colmar e nunca tinha ouvido falar de Kaysersberg.Bela dica! O aeroporto de Freiburgo afinal tem ainda mais encantos 🙂
Só passamos por Freiburgo, sem tempo para conhecer, uma pena, e nem me lembrava disso, obrigada pelo comentário, passou um filminho na cabeça agora.
bahh essa região me chama muuuito! ainda bem que não fui, pois se não iria só pra colmar e ia cometer o erro de não pasar em kayserberg! vou ter q ler tudinho sobre a sua viagem pra montar bem o roteiro sem deixar essas belezuras!
Angela, tenho acompanhado suas andanças pela Europa e você tem ido a lugares incríveis. Acho que vale mesmo esperar e fazer um roteiro mais completinho na Alsácia.