Você deve ter visto ou ouvido falar da grande parada de abril de 2021 que transportou as múmias reais do Museu Egípcio para o novo museu do Cairo, o Museu Nacional de Civilização Egípcia (NMCE). As múmias receberam o destaque merecido e no museu têm um andar inteirinho pensado para elas. O restante do acervo do novo museu não deve ser desprezado. Confira o que ver por lá e outras dicas para sua visita.
O Museu Nacional da Civilização Egípcia
A pedra fundamental do Museu Nacional de Civilização Egípcia foi lançada em 2002, 20 anos depois do início de uma campanha da Unesco e do governo egípcio para seu estabelecimento, assim como do Museu Núbio em Assuã. Com uma área de 135 mil metros quadrados e acervo de 50 mil artefatos, conta a história da civilização egípcia do período pré-histórico ao atual.
A inauguração completa do novo museu do Cairo aconteceu no dia seguinte ao do desfile literalmente faraônico, em 4 de abril de 2021, mas sua inauguração parcial foi em 2017. O desfile envolveu um processo delicado que exigiu muito planejamento e recursos. Foi um espetáculo de luzes, som e performance, de arrepiar.
O exterior do edifício do MNCE tem desenho moderno e à noite a iluminação o deixa ainda mais bonito, uma praça ampla preparada para receber os grandes grupos de turistas. Aliás, isso foi algo que questionei: me surpreendi pelo contraste dele com o Museu Egípcio pois não havia grupos de turistas nem tours guiados, apenas viajantes independentes, ao menos no dia de nossa visita pela manhã.
A praça é dominada por colunas alinhadas que sustentam pirâmides invertidas. Na minha opinião poderia ter algumas árvores nesse espaço, pois em dias quentes e de muito fluxo provavelmente esta praça ficará tomada de gente aguardando para entrar no museu. Além disso, a aridez do Cairo incomoda quem vive em regiões cheias de verde, sem contar que no verão apenas caminhar da calçada até a entrada em temperaturas de 40 graus será um desafio.
Essa aridez continua nas paredes externas, tudo pálido, mas o interior do museu tem instalações modernas, com vidros e metais. Gostei do fato de a arquitetura interna não disputar com o acervo. Em museus palaciais, a gente tem que dividir a atenção entre as obras e o prédio, não é mesmo?
Não vi nenhuma exposição temporária, mas na entrevista publicada em agosto de 2021, o responsável pelo museu, Dr. Ahmed Ghoneim, prometia que elas existiriam. Ele também informa que o museu é um centro de restauração e de estudos científicos, com equipamentos encontrados em museus como o Louvre de Paris e de Abu Dhabi.
A proposta deles é que seja um museu não voltado apenas para turistas, mas para os egípcios, que poderão fazer inúmeras visitas graças às exposições temporárias e de um centro cultural, num espaço parecido com uma arena romana.
A área total do museu soma 490.000 m2, e fica junto ao lago Ain El Sira. Pelo pouco que li e vi por lá, a região foi revitalizada, muito possivelmente num processo de gentrificação.
Como é a visita ao Museu Nacional da Civilização Egípcia
Compramos o bilhete na entrada, na calçada, mas é possível comprar antecipadamente pelo site, embora eu não tenha conseguido. Como em todos museus, templos e shopping centers que visitamos no Egito – e até nos hotéis -, é preciso passar bolsas casacos, chapéus, etc. por uma esteira de raio X. Depois é a sua vez.
O que mais gostei no Museu Nacional de Civilização Egípcia é que ele é compacto e didático. Conseguimos ver todas as peças, to-das! ler as informações – que estão em árabe e em inglês – e ainda há totens com vídeos para quem quiser se aprofundar. Há também QR codes que você pode acessar para complementar seu aprendizado.
Por outro lado, achei o espaço aberto ao público pequeno em comparação ao tamanho do prédio do museu, e talvez isso se explique pela proposta de centro cultural e de estudos, que não vimos pois não estava disponível.
Encontre na página-índice Egito artigos para complementar seu conhecimento sobre o país, começando em Viagem ao Egito: dicas essenciais e roteiro. Também no Cairo, veja o artigo sobre nossa visita a um ponto turístico não tão famoso, mas que nos surpreendeu, o Palácio Manial. E claro que já escrevi sobre as protagonistas do Egito: Pirâmides de Gizé: o que saber antes de ir
O acervo do Museu Nacional da Civilização Egípcia
Além do Museu Egípcio, o Museu Coptic, Museu de Arte Islâmica e o Palácio Manial também transferiram peças de seu acervo para o MNCE. Na entrevista que citei, o responsável pelo museu dizia ter 50 mil peças em poder do MNCE, mas apenas 1.600 expostas.
Diferente do Museu Egípcio, cujo foco é o Egito Antigo, o MNCE conta a história de todas as civilizações que passaram pelo Egito, organizadas cronologicamente. As coleções permanentes estão dispostas em duas áreas apenas: o salão principal e o salão das múmias.
Salão principal
Comece pelo salão principal, à esquerda, seguindo a ordem cronológica:
- período pré histórico
- faraônico
- greco-romano
- Cóptico (cristão)
- islâmico
- Egito Moderno
Eu sugeri que fôssemos ver as múmias primeiro, pensando que o museu ficaria cheio, mas isso não aconteceu. Então depois de ver os corpos dos faraós acessamos o salão principal pela escada proveninete do salão das múmias, saindo no meio do acervo. Se você não for ansiosa como eu, deixe as múmias para o grand finale.
O salão das múmias do Novo Museu do Cairo
O salão onde estão as 22 múmias reais fica no subsolo, acessível por uma rampa de degraus largos que lembram as rampas dos templos do Vale dos Reis ou da Pirâmide Vermelha. Há pouca iluminação e paira no ar um silêncio respeitoso, como se estivéssemos mesmo em tumbas. Antes de descer, (re)veja a Linha de Tempo da história do Egito, no painel.
Fotografias não são permitidas, então a única lembrança material das múmias deste museu será o painel em 360 graus onde são projetadas suas imagens.
Mas apesar de eu ter uma memória fotográfica no sentido que eu dei a ela, ou seja, eu lembro de pessoas e lugares porque revivo o momento olhando imagens – acho que nunca vou esquecer deste encontro com corpos mumificados há 3 mil anos. O cabelinho grisalho meio amarelado do grande Ramses II, o crânio alongado de alguns faraós, os longos cabelos da rainha Tiye, o pé deformado de Siptah provavelmente devido a poliomelite. Marcas nos crânios. Unhas perfeitas.
Você pode ter visto documentários, lido artigos, visto fotos. Nada disso vai tirar a surpresa e a emoção de ver ao vivo estes corpos mumificados, de viajar no tempo, de se maravilhar por estar diante de um corpo preservado por milênios. Gratidão por este momento.
Que múmias estão no Museu do Cairo?
O faraó mais pop no mundo ocidental, Tutancâmon, não está entre as múmias exibidas no Museu Nacional de Civilização Egípcia. Desde 2019 você pode vê-la em sua tumba restaurada, no Vale dos Reis, em Luxor.
Abaixo, a planta do Museu Nacional de Civilização Egípcia e onde encontrar sua múmia preferida:
O que não deixar de ver no MNCE
Além das múmias, atente-se à figura de Akhenaton, a versão egípcia do imperador Constantino, pois ambos abandonaram o politeísmo. Sua originalidade vai além disso: sua representação é bem diferente das dos outros faraós, sempre fortes e guerreiros. Akhenaton se mostra com características desproporcionais, crânio alongado, barrigudo mas acinturado, e me parece ter seios. Atrás de sua estátua, há um poema de sua autoria.
Tenho certeza que uma ou mais das coleções expostas vai chamar sua atenção de acordo com suas preferências. Eu curti o expositor sobre os escribas – afinal sou uma contadora de histórias (de viagem) – e de construções, fosse da pré história, do período faraônico ou do moderno.
A surpresa em saber que existiam casas de 3 andares – e com técnica para minimizar efeitos de terremotos! E as ferramentas de construção, que se parecem muito com as atuais!
Visitar os Museus do Cairo antes ou depois dos Templos e Pirâmides?
Quando estivemos em Pompéia na Itália, tivemos a certeza de que uma visita ao Museu Arqueológico de Nápoles seria fundamental para completar a experiência. No Egito combinar museus e templos também é necessário.
Em nosso primeiro dia no Egito visitamos o Museu Egípcio da Praça Tahir. Foi emocionante, o entusiasmo que temos no início das viagens, a sensação de estar perante algo novo para mim, mas ao mesmo tempo tão antigo e relevante para a humanidade. Enfim, pela razão, talvez tivesse sido melhor visitar o museu no final do roteiro, mas pelo lado emocional foi o momento perfeito. O MNCE foi o contrário: visitamos no último dia no Egito, e tudo me pareceu mais familiar, mas a emoção foi bem menor. Enfim, não cheguei a um veredito, a não ser de que é importante conhecer os museus, como sempre.
Mais informações sobre o novo museu do Cairo
Onde fica o Museu Nacional de Civilização Egípcia e como chegar
O novo museu do Cairo fica na El-Fustat Road, cerca de 7 km ao sul do centro da cidade, na cidade antiga de Fustat. Nós tomamos um Uber e de nosso hotel, o Fairmont Nile City, até o MNCE foram EGP 74,70. Recomendo que utilize sempre Uber, porque o transporte público é deficitário.
Ingressos e horário de funcionamento*
Sábado a Quinta: das 9h às 17h
Sextas: das 9h às 17h e das 18h às 21h
*Atente-se para o mês de Ramadã, quando o Museu Nacional de Civilização Egípcia – e tudo o mais no Egito – fecha às 16h.
Os ingressos são vendidos antecipadamente no site oficial do Museu Nacional da Civilização Egípcia. Em Abril de 2022 ainda não era aceito o Cairo Pass e estrangeiros pagavam 200 EGP*, cerca de R$65. Há entrada gratuita para adultos acima de 60 anos, crianças abaixo de 6 e outros, veja mais detalhes no site.
*Atualização: em março de 2023 o ingresso para estrangeiros já estava custando GP 240.
Loja do Museu
Entramos rapidamente na loja do museu, que tem objetos lindos! Mas o que me chamou à atenção foi um artista que à porta da loja estava fazendo desenhos talhados num vaso. Ainda há trabalhos artesanais no mundo, que bom.
Outros Museus do Egito
E por falar em novos museus e transferência de acervo, estava prometida para 2021 – e agora para novembro/22 final de 2023 final da primavera de 2024 – a inauguração do GEM, o Grande Museu Egípcio, a apenas 2 km das Pirâmides de Gizé. O Barco Solar de 45 metros do faraó Quéops e a Estátua de Ramses II já repousam na nova casa, que contará com 100 mil objetos. Tá na hora de ir – ou voltar ao Egito!
Leia também sobre a visita que fizemos ao Museu Egípcio do Cairo, da praça Tahir
Onde Ficar no Cairo e outras dicas do Egito
Afinal, melhor ficar no centro do Cairo ou perto das pirâmides? Considerando o trânsito caótico da capital egípcia, a resposta certa é: fique nas duas regiões. Ainda vou dedicar um post exclusivo a esse respeito, por hora deixo links para os hotéis onde ficamos (fotos abaixo). Em frente ao Rio Nilo, no fantástico Fairmont Nile City, e com vista para as pirâmides o Steigenberger Pyramids Cairo.
Espero que tenha curtido as dicas do Museu Nacional de Civilização Egípcia. Se tiver dúvida ou quiser deixar um comentário, vai ser mais legal pra mim saber que o tempo dispendido para organizar este artigo não foi à toa. Abraços e bom mergulho na cultura egípcia.
Respostas de 17
Oi Márcia! Boa noite! Parabéns pelo site, tem nos ajudado bastante! Gostaria de tirar uma dúvida com você: estamos indo em abril de 2025 e fiquei na dúvida de qual museu visitar. Pelo que entendi, os principais são o Museu Nacional de Civilização Egípcia e o Museu Egípcio do Cairo. Qual deles você considera mais interessante? Ou vale visitar os dois?
Você pode me dar uma luz? Muito obrigado!
Oi, André, o Museu do Cairo é o principal, e agora foi inaugurado o Novo Museu do Cairo. O ideal seria ir em todos, mas se só tiver tempo pra um, o de Civilização Egípcia é legal pelas múmias e por ser mais didático.
Márcia, muito obrigado!