Embora eu não seja fotógrafa, sempre gostei de ver fotos profissionais e de fotografar, desde antes das câmeras digitais, dos smartphones, das redes sociais, que democratizaram como nunca antes a fotografia. Se você tem menos de 40 anos já deve ter ao menos ouvido alguém dizer que registrar viagens nessa pré historia era mesmo uma arte. Ou se compararmos com hoje, uma m…! A gente economizava nos cliques porque podíamos tirar no máximo 36 poses em cada rolinho e a revelação era cara (ou eu que não tinha grana mesmo?) e o resultado muitas vezes frustrante. Comprei minha primeira câmera semiprofissional (analógica, claro) em minha primeira viagem ao exterior. Ela fotografava super bem e era bem mais intuitiva do que a EOS Rebel que uso hoje, a fotógrafa é que não tinha experiência: perdi todas as fotos de minha primeira parada, porque não encaixei o rolo do filme corretamente, e as que consegui revelar (quem aí ainda deixa escapar “quero revelar minhas fotos”? ahaha) tinham enquadramento ruim e nenhuma criatividade. Mas este post não é uma viagem ao tempo e o que eu quero é saber sua opinião sobre fotografar pessoas desconhecidas, pela rua, então vai lendo…
As paisagens são assunto preferido de qualquer viajante, afinal queremos guardar na caixinha mágica que é a câmera ou o smartphone todos aqueles lugares – e momentos – lindos e diferentes e maravilhosos para onde vamos em nossas férias. Mas alimentos, elementos naturais ou criados pelo homem também fazem parte do acervo deste museu interativo e fantástico que é o mundo. Gosto de registrar comidas, bebidas, caixas de correio, tampas de bueiro, janelas, portas, roupas no varal, enfim, tudo o que for característico e único de um lugar. E pessoas. Mas fotografá-las não é a mesma coisa que apontar a câmera para uma ponte ou para um drink, o que fazer, como fazer? Se você nunca se perguntou isso, talvez seja porque nunca tenha sido fotografado pela rua e se sentido invadido de alguma forma.Você está num parque, câmera na mão, e vê uma criança bebendo água da fonte, que sozinha já seria assunto de fotografia, uma vez que no Brasil poucas cidades contam com fontes para saciar a sede dos moradores. O que você faz? Tira a foto e depois fala com os pais da criança ou tira a foto dá meia volta e segue sua viagem?
Domingo na Plaza de Armas de Cusco, turistas se misturam aos locais, mas as roupas e a aparência te permitem claramente distinguir uns dos outros. Você tira a foto e ouve o xingamento da senhora e sai meio envergonhada pelo que fez, ou nem liga?
Casais também são assuntos interessantes para fotografar, mas me sinto a invasora do momento cheio de carinho que é tão só deles – e às vezes das redes sociais ahaha.
E por falar nisso, as redes sociais devem ter engrossado o caldo da discussão sobre a ética neste tipo de fotografia, porque se antes apenas umas poucas pessoas tinham acesso à imagem, hoje uma foto compartilhada é vista por um número sem fim de seguidores das redes sociais.
Se você tem uma teleobjetiva, é possível que ‘furte’ o momento sem ser percebido, o que invalida parte desta discussão. Seu assunto não vai notar sua presença, agirá naturalmente e não modificará “a cena” que você captou antes do clique. Mas se como eu, você denuncia a intenção de fotografar, vai ter que vestir sua melhor cara de pau e lidar com o humor dos fotografados. Abaixo, os londrinos até sorriram sem que eu pedisse – ou será que rolou uma piadinha?
O Vinicyus do Viagem.grafia fez esta foto linda usando zoom. Aproveite e confira o perfil dele no Instagram, você vai gostar!
https://www.instagram.com/p/BIsG5PkAv8R/?taken-by=viagem.grafia
E fotografar pobreza, miséria, tristeza, morte, pessoas expressando fé, pode? Não seria invasão de um momento tão particular? De certo que a fotografia tem o poder de emocionar, disparar empatia, compartilhar alegrias e denunciar horrores da humanidade, mas penso que eu não conseguiria ser jornalista fotográfica, pois sempre há polêmica em imagens fortes e impactantes. Acho que a mais recente é a imagem do corpo do menino sírio numa praia turca em 2015, mas me lembro bem daquela menina do Sudão espreitada por um urubu, cujo fotógrafo se suicidou um ano depois, de remorso, segundo dizem.
O universo de um turista é muito mais leve, mas já levei empurrão de vendedor em Praga por estar fotografando sua banca e já fui xingada por italianas à janela estendendo roupa no varal – va bene, quem é que elas não xingam?!
Mas como você faz para fotografar monges budistas, pessoas rezando, dançando, namorando, comendo? Já passou por alguma saia justa por causa disso? Conte aí nos comentários.
Respostas de 28
Bah, tu trouxe uma discussão bem legal aqui pro blog. As fotos que ilustram o blog, por exemplo, são muito legais e seria uma pena “desperdiçar o momento”. Eu acho que está tudo bem fotografar em espaços públicos, mas tem que ter bom senso da pessoa, de sentir que é melhor pedir autorização ou que a foto não vai prejudicar nem nada. É melhor pedir perdão do que permissão huieheiuheu
E ah, muito legal sua história no início do blog! Imagino que tenha sido muito complicado fotografar a viagem no passado hiuehuei, mas aposto que essas fotos antigas tem um valor sentimental muito maior do que as 1500 fotos que tiramos atualmente, afinal, escolhia-se um click pra cada lugar hueiheiu
Beijos, Vickawaii
http://www.neverland.com.br
Boa! Melhor pedir perdão do que permissão! Usemos a técnica!
Marcia, acho esse um ponto bem delicado da fotografia… Eu não fotografo pessoas exatamente por esse motivo, porque acho que registrar um momento de alguém sem autorização é algo extremamente invasivo. Eu não gostaria de ter fotos minhas circulando internet afora sem que eu soubesse. Caso as fotos não sejam divulgadas, aí ok. Por outro lado, se há a autorização da pessoa fotografada (de preferência por escrito), a história muda completamente de figura. Sou jornalista e quando trabalhava em revistas, as pessoas que eram fotografadas em lugares públicos (e nós não tínhamos autorização de imagem) tinham a face borrada para evitar reconhecimento.
Verdade, Mariana, mas em blogs de viagem não dá pra “borrar” a rosto das pessoas porque o enfoque está nas pessoas e suas expressões diante da paisagem, do lugar. Imagino que na revista em que trabalhou o assunto não era a pessoa em si, mas talvez o modo de se vestir, estou certa? E isso muda tudo. Mas você está certa, acho que pedir autorização é o melhor!
Não fotografo pessoas. Isso viola o direito à imagem q cada um tem e me irrito muito se me fotografam sem autorização. Já exigi q apagassem uma foto certa vez. Na minha segunda ida à Disney, fui levar marido para conhecer, e durante uma das apresentações uma moça de são francisco nos fotografou. Após a apresentação, ela me mostrou a foto, pediu autorização para ficar com ela e nos enviou ali mesmo, por email. Me senti respeitada e lisonjeada. É uma questão de respeito e educação pedir licença ao menos após o clique.
Concordo com você, Claudia. Tenho feito isso pra ficar à vontade com minha consciência. E tem sido legal, porque apresento o blog e já emendo um papo. Obrigada pela participação.