Difícil o turista que venha a Sampa e deixe de visitar o Mercado Municipal de São Paulo pela beleza, oferta de produtos, relevância histórica – ou para um substancioso sanduíche de mortadela ou pastel de bacalhau que alimentariam uma família europeia. Mas e quem vive por aqui, como vê o Mercadão? Foi este o enfoque que decidi dar para o tema Minha Cidade proposto pelo grupo 8on8 para a blogagem coletiva de abril.
Nos primeiros anos de vida da minha CTPS, trabalhei na Rua 15 de Novembro, no centro histórico de São Paulo, e como tinha 2 horas de almoço sobrava tempo para zanzar pelas redondezas. Infelizmente ainda não tínhamos os centros culturais como os de hoje (Banco do Brasil, Farol Santander), então se eu quisesse alguma atividade cultural me deslocava às quartas-feiras para a Praça da República onde havia música ao vivo em seu coreto, ou vagava pelos corredores da Galeria do Rock, antes de ela ter a atual fama. E quando eu queria um programa mais mundano, mas bem mundano, eu descia a Ladeira Porto Geral e visitava os arredores da rua 25 de Março e o Mercado Municipal.
Se para Caetano ainda não havia Rita Lee, para mim não havia uma São Paulo como turismo. O Mercadão era um edifício robusto onde se comercializam produtos e demorou alguns anos e certa distância para que eu pudesse enxergá-lo como pontos turístico e histórico que é. O último restauro veio anos depois, o que melhorou muito sua forma, mas ainda enxergo seus defeitos: as calçadas e ruas ao seu redor passam longe de ser um lugar instagramável: caixotes de madeira amontoados, muita sujeira jogada pelo chão. Passar ali num sábado à tarde é de chorar. E Renato Russo perguntaria: Aculpa é de quem, a culpa é de quem? #jogueolixonolixo
Caso você não conheça mercados de outras cidades, eu te garanto que não é assim – não deveria ser assim – não tem que ser assim. Seja no lindo mercado de Budapeste, seja na hermana Santiago do Chile ou na nossa Curitiba, as calçadas são livres e desempedidas e, pelo menos durante o dia, nada no entorno deles se aproxima de uma má impressão. Aqui, o rio-esgoto Tamanduateí, que até no começo do século 20 era via de transporte fluvial de mercadorias que abasteciam a região da rua 25 de Março, também não contribui no quesito beleza. Moradores de rua que fizeram suas casas transitórias debaixo de viadutos e inúmeros vendedores ambulantes nos faróis e calçadas completam a paisagem.
Fotografar São Paulo é outro problema, eu não tenho coragem de tirar a câmera da bolsa a não ser que eu esteja em um grupo – e aproveito passeios e tours organizados para fazer isso. E foi só quando fiz um curso básico de fotografia no Senac que levei minha câmera para passear no Mercadão. E são estas as imagens que você vê aqui. Aliás, sugiro que, se você quiser fotografar, vá em grupo ou participe de um tour organizado pela Secretaria de Turismo. Sempre mais seguro fotografar quando tem um amigo de olho no que rola em volta.
Mas este post não é para te convencer a não ir ao Mercado Municipal de São Paulo, pelo contrário. Só não adianta dourar a pílula, quem segue o blog sabe que eu fico deslumbrada com os lugares que visito, mas se vejo problemas não hesito em compartilhar.
Uma vez lá dentro, você esquece dos problemas da cidade e enche seus olhos diante das cores das barracas de frutas, que no mínimo merecem sua apreciação pelo primor na exibição de seus produtos.
Breve histórico do Mercado Municipal de São Paulo
O primeiro mercado da cidade de São Paulo funcionou na parte baixa da Ladeira General Carneiro de 1867 a 1907, quando foi demolido e deu lugar à Praça Fernando Costa, que na última vez em que passei por lá estava em piores condições que o Mercado Velho. Também chamado de Mercado dos Caipiras, era um retângulo cercado de pavilhões arcados e um grande pátio onde se expunham as mercadorias. Uma fonte completava o ar de piazza del mercato. A imagem abaixo é do livro Lembranças de São Paulo e mostra como era o Mercado Velho.
O atual Mercado Municipal de São Paulo foi projetado por Felisberto Ranzini, do Escritório de Ramos de Azevedo (o mesmo do Teatro Muncipal e da Pinacoteca), e inaugurado em 25 de janeiro de 1933, um edifício majestoso e elegante, que passou por restauro finalizado em 2004, que envolveu sua fachada (eu até agora não entendi aquele painel vermelho de aço na fachada da Av do Estado), limpeza dos vitrais e construção do mezanino, que abriga diversos restaurantes, uma ótima opção para quem visita esta parte do centro de São Paulo.
Detalhe característico de igrejas, o mercadão ganhou 32 painéis feitos pelo artista russo Conrado Sorgenicht Filho, que também fez vitrais para mais de 300 igrejas brasileiras. Enquanto em igrejas medievais os vitrais contam as historias do evangelho, no Mercadão eles exibem cenas de cultivo, colheita e transporte de café, bananas e de gado bovino.
O primeiro restauro dos vitrais aconteceu antes mesmo da inauguração do Mercadão: com a Revolução Constitucionalista de 1932, o mercadão serviu como paiol e as representações humanas nos vitrais serviram como prática de tiro ao alvo (!).
A empresa responsável pelo projeto luminotécnico do Mercadão é a mesma que ilumina o Coliseu e o Arco do Triunfo. Merecidamente, afinal é um marco na história da cidade e um belo edifício.
Comer no Mercado Municipal de São Paulo
Qualificado como templo da gastronomia, a variedade de produtos comercializados no Mercadão é imensa: frutas, verduras, cereais, carnes, temperos, bebidas, embutidos, mas tem lojas de souvenirs para agradar aos turistas, claro. Os números também impressionam: são mais de 12 mil metros quadrados, 300 estandes, 350 toneladas de alimentos que transitam diariamente, 50 mil visitantes a cada semana e 1.500 funcionários!
Além dos restaurantes do mezanino, no térreo você encontrará lanchonetes com mesinhas pelos corredores, e os campeões de venda são os pastéis com recheio de 3 cm (preços de $18 a $38) e os sanduíches de mortadela. Veja abaixo o preço de um PF.
Adoro circular pelos corredores das frutas e provar os morangos recheados com tâmara passa. Claro que depois disso é preciso comprar uma porção ou se desvencilhar do vendedor, a escolha é sua! Mas muita gente vai ao Mercadão para comer o tradicional lanche de mortadela ou um dos pastéis mega recheados. Já aprovetei uma manhã de compras para comer comida árabe e há quem se satisfaça apenas provando os queijos, salames, e outros alimentos ofertados como degustação nos estandes.
Mais sobre o Mercado Municipal de São Paulo
Acessibilidade – O Mercadão é acessível a pessoas com mobilidade reduzida, pois tem elevadores para o mezanino.
Sanitários – No subsolo do mercadão tem um mundo e é lá que ficam os banheiros públicos. Em minha última visita, no final do dia, eles estavam limpos, tinha papel (embora do lado de fra do cubículo, então pegue antes!), e sabonete líquido.
Souvenirs – uma loja de souvenirs no térreo oferece a chance de levar pra casa uma lembrancinha de São Paulo.
Endereço e horário de funcionamento – O Mercadão fica na Rua da Cantareira, 306, e funciona de segunda a sábado das 6h às 18h e aos domingos e feriados das 6h às 16h. Por volta das 17h, muitas ‘barracas’ já estão fechadas, então prefira ir mais cedo.
O que fazer perto do Mercadão, no centro de São Paulo
Além do Mercado Municipal, a região é uma ótima opção para compras – não, não estou falando da multifacetada 25 de março, estou falando de alimentos, mesmo. Do outro lado do rio Tamanduateí, fica um quarteirão conhecido como Zona Cerealista, principais lojas estão na Av. Mercúrio, da rua do Gasômetro (adoro, tudo para marceneiros!) à Rua Santa Rosa. Quem quer produtos mais exclusivos a preços legais, pode visitar um dos empórios que ficam por ali.
Confira outros pontos turísticos do centro de São Paulo:
– Pontos Turísticos no Centro de São Paulo
– Dia de Chuva em São Paulo: visita ao Teatro Municipal
– Mosteiro de São Bento em São Paulo
– São Paulo: roteiro pelo bairro da Luz
– Um dia no Museu Catavento de São Paulo
Blogagem coletiva
Os demais blogs participantes desta blogagem coletiva do grupo 8on8 também falaram sobre suas cidades, te convido a visitá-los:
Let’s Fly Away: Super Museus do Rio de Janeiro
Entre Polos: Minha Cidade em 8 Fotos
Destinos Por Onde Andei: Bares em Belo Horizonte – Minhas 8 dicas
O Berço do Mundo: 8 Motivos para visitar Guimarães
Turistando.in: 8 charmosos cafés no centro de SP
Respostas de 24
Adorei o post! Quando estou em São Paulo, sempre que posso passo pelo mercado. Realmente não é a região mais limpa da cidade, mas as cores, aromas e os pratos típicos paulistas encontrados nos restaurantes do mercado, fazem valer a visita.
Com certeza vale a visita, apesar dos problemas do entorno. Obrigada pela visita.
Como eu não comi morango recheado com tâmara?! Como assim?! Não sabia que isso existia! Preciso voltar ao Mercado Municipal de São Paulo! Fora esse pequeno detalhe, gostei da sua visão sincera sobre a região do entorno do mercado. Infelizmente, São Paulo como tantas cidades brasileiras sofre desses tipos de problemas. Independente disso o Mercadão é um lugar que ao menor uma vez se precisa visitar.
morango com tâmara é uma combinação incrível – e o bom é que não precisa esperar pra voltar a SP pra comer, mas se quiser, é só avisar e a gente vai!
Márcia, estive em São Paulo e não consegui visitar o Mercado Municipal. De antemão queria experimentar o Sanduíche de Mortadela tão famoso!!! Adorei o artigo, e da próxima vez não perco esse passeio! 😉
Quem vem a SP acaba focando muito na região da Paulista, o que é compreensível, mas eu gosto de centros históricos, também.
Acredita que fui para SP e não conheci o mercado? Vou te retorno que resolver isso…rs P.S: adorei saber mais sobre o mercado sob o seu ponto de vista
Quando vier aproveite uma ida ao Museu Catavento, Farol Santander, Centro Cultural Banco do Brasil e almoce no Mercadão. Abraços