Visitar o Museu de Arte Sacra de São Paulo permite conhecer, além do acervo permanente e de um dos maiores representantes da arquitetura colonial paulista, vários presépios, entre eles o belíssimo napolitano do século 18. E que época melhor do que a natalina para isso?
Pai, vamos montar o presépio hoje? eu perguntava ansiosa a cada dia que ele atravessava a porta ao voltar do trabalho, até que ele se rendia e junto com meu irmão mais velho abríamos as caixas com figuras feitas de gesso, um espelhinho que servia como lago, palha para servir de cama para o menino Jesus, papel-pedra que meu pai moldava em forma de gruta. Lembro que ficava maravilhada quando tudo estava pronto, era como ter uma casa de bonecas especial, com que eu só podia brincar no mês de dezembro. Vacas, carneiros, galinhas, burro e um anjo que pendurávamos no galho mais baixo da árvore, para voar sobre a gruta-manjedoura, também compunham o cenário. Eu não me lembro dos presentes que ganhava naquela época, mas nunca esqueci do nosso presépio.
Talvez o símbolo mais conhecido do natal paulistano seja a árvore de Natal do Parque do Ibirapuera, mas na minha opinião nada é mais natalino do que o presépio. Mesmo que eu não seja lá muito religiosa (ou quase nada), tenho visto com tristeza que temos hoje, na decoração do comércio e casas, mais papai noel e boneco de neve do que imagens que simbolizam a data do mundo cristão. Aproveitei as férias de minha filha para arrancá-la dos eletrônicos e levei-a para conhecer o Museu de Arte Sacra de São Paulo, que desde o dia 2 de dezembro apresenta a exposição denominada Esperança, uma coletânea de presépios do acervo do museu, feitos em várias partes do Brasil e do mundo, com diferentes materiais. Mas meu objetivo principal era ver o presépio napolitano, parte do acervo permanente e a grande atração do museu.
A Origem dos Presépios
Na noite de Natal de 1223, São Francisco de Assis estava em Greccio, no Lácio, a contar a historia do nascimento de Cristo quando teve a ideia de representá-la em imagens feitas de argila para melhor compreensão das pessoas simples que o cercavam. Desde o século 18, a tradição de montar presépios nas casas se popularizou não só na Itália, mas em toda Europa, sendo espalhada aos outros continentes. A palavra presépio vem do latim “praesepe”, que significa estábulo.
Nossa visita ao Museu
No jardim do museu, você vai encontrar réplicas de algumas das imagens dos profetas de Aleijadinho.
Compramos os ingressos na bilheteria, que nos direcionou primeiro à sala onde se encontra o presépio napolitano, numa casa anexa ao prédio principal, restaurado especialmente para recebê-lo.
O Presépio Napolitano
Em 1949, Francisco Matarazzo Sobrinho trouxe o conjunto da Itália, que representava uma vila napolitana do século 17. As vestimentas foram refeitas no Brasil e em outubro de 1950 o presépio foi aberto a visitação na Galeria Prestes Maia, onde permaneceu por 11 meses. Só pôde ser visto novamente de 1956 a 1985 , no Parque do Ibirapuera. Em 1999, o presépio foi transferido para o MAS, teve o cenário substituído e está sob condições que garantem sua preservação.
Foi mais ou menos nessa época de transferência que vi o presépio pela primeira vez, e não deixei de me impressionar de novo com os detalhes e com o tamanho do conjunto: são 110m² com 1.600 peças do século 18! Cada “humano” tem em torno de 30cm, calculo. É impressionante a riqueza de detalhes dos rostos e dos movimentos das mãos, assim como do cenário.
O funcionário me explicou que naquela época era costume ser menos literal e dispor a família do menino Jesus em ruínas greco-romanas, simbolizando a supremacia do monoteísmo sobre o politeísmo. Também ouvi em uma visita guiada, que as telhas das casas mais próximas do público foram coladas uma a uma, enquanto as do fundo são uma placa moldada. Então não faça como eu e procure agendar a visita com um monitor.
Atenção: por motivos de conservação, o presépio napolitano só está aberto à visitação das 10h às 12h e das 14h às 15h. Os da exposição Esperança, no horário de funcionamento do museu.
Depois de visitar o presépio napolitano, estava voltando para a entrada do museu quando tive uma surpresa: vi a Roda dos Enjeitados. Lembrei das historias de mulheres que não podiam manter seus bebês e os deixavam aos cuidados de casas de caridade. Segundo a Wikipedia, a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa foi a primeira a oferecer esse ‘serviço’. Aqui no Brasil, Salvador e Rio de Janeiro foram pioneiros (1726-1738), e a Santa Casa de Misericórdia de SP manteve a roda funcionando até 1948. Mas a Roda do Mosteiro da Luz hoje, em vez de recolher, oferece. Oferece as pílulas do Frei Galvão. 5 mil ‘pílulas’ são confecionadas diariamente e distribuídas gratuitamente através da Roda a pessoas que buscam conforto espiritual para qualquer tipo de problema, mais tradicionalmente para problemas de saúde e relacionados à reprodução. O costume começou com o próprio Frei Galvão, que distribuía papeizinhos (enroladinhos do tamanho de pílulas, daí o nome) onde escrevia orações para pessoas que solicitavam sua ajuda. Frei Galvão foi quem conseguiu licença do governo para construir a capela e o claustro, em 1774, que hoje abrigam o Museu de Arte Sacra.
Também demos um pulo na capela, onde fiéis acendiam velas eletrônicas e faziam orações. Lá estão os restos mortais de Frei Galvão.
Para ser sincera, eu não gosto muito de Arte Sacra, acabo sempre passando muito rapidamente pelos relicários, trajes litúrgicos, pinturas e esculturas. Talvez uma visita guiada com especialista possa realçar o valor dos objetos que vi apressadamente.
Afinal, como eu disse no início, meu interesse era ver os presépios – tanto o napolitano quanto os da exposição Esperança, e foi onde mais me demorei, mesmo. A sala reúne presépios de artistas plásticos de várias nacionalidades e séculos. Confira algumas imagens:



O Museu de Arte Sacra de São Paulo
Desde 1970 o museu ocupa uma ala do Mosteiro de Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Luz, quase em frente à Pinacoteca do Estado. O Convento das Irmãs Concepcionistas ainda funciona ali. Passear pelos corredores é uma boa oportunidade para observar a arquitetura colonial em pleno centro de SP, e uma das salas expõe a grossa parede feita de taipa de pilão, sem acabamento.
Ingressos e outras informações
A entrada custa R$6,00 e pode ser comprada na hora, na bilheteria. Estudantes e professores da rede pública pagam meia. Idosos acima de 60 anos, crianças até 7 anos e policiais militares não pagam. Aos sábados a entrada é gratuita.
É permitido fotografar sem uso de flash.
Bolsas e mochilas devem ser deixadas no armário da bilheteria.
E pra você que leu até aqui, um brinde em forma de informação: o MAS oferece vários cursos livres nas áreas de Arte, Música, Religião, Historia e outros, além de palestras. Uma série delas é sobre o Renascimento em Florença, nem gostei!
E que o Papai Noel fique com o saco cheio de viagens pra você!

Este post faz parte da Blogagem Coletiva “Natal pelo Mundo #natalpelomundo” realizada por blogs de viagem do grupo Pequenos Grandes Viajantes, vamos ver que dica compartilharam?
- Destinos por onde andei… – Chegou o Natal em Belo Horizonte!
- Embarque neste blog – Roteiro de Natal em São Paulo
- Ligado em Viagem – 5 coisas que amamos no Natal na Alemanha
- Fui Ser Viajante – Árvores de Natal nos Shoppings do Rio de Janeiro
21 respostas
Adoro este museu, que é sempre esquecido pelos paulistanos! Me lembro até hoje da 1° vez que fui. Era adolescente (ainda no ginásio) e perdi o horário da excursão da escola (num sábado). Pedi autorização para meus pais e fui com meu irmão de metrô (também primeira vez sozinha – hhehehehe). Chegamos atrasados, todos tinham ido embora e resolvemos dar um pulo no Center Norte (e olha a memória! Me lembro que comprei uma camisa da Artmanha – marca da época – se eu disser que era a 1° da marca, você vai rir de mim, não?).
Mas voltando… eu gosto muito deste museu. Ele é pequeno e muito fotográfico. E apesar de meu lado ateu, gosto muito de arte sacra e fiquei surpresa ao conhecer o presépio. Não conhecia toda história, mas penso seriamente em levar o Leo (não para resgatar os símbolos do Natal, que ele ainda não tem, mas porque é muito lindo). Aliás, vi um lugar muito parecido com este na Italia…. Acho que na igreja de San Nicola da Tolentino…. Mas para isso me falha a memória!
Nossa, que lindo! Realmente, muito mais legal que a árvore do Ibira! Acho que realmente o sentido do Natal desvirtuou demais. Só fui resgatar isso e voltar a curtir a data de verdade agora que tô vivendo na Holanda. Então adorei saber que há opção bacana também na minha terra natal!
Abraços!
Que registros lindos! Adorei saber sobre a origem dos presépios. Um bom fim de ano pra você!
Sampa tem uma programação cultural fantástica né? E pensar que já tive na cidade muitas vezes e não havia escutado sobre o Museu de Arte sacra, foi pra minha lista.
Não é um museu muito conhecido mesmo. Eu conheço porque fui fazer um trabalho de escola lá quando era criança, e aí voltei pra ver o presépio acho que há uns 17 anos. Tava na hora de levar a filha!
aheuaheuah “Não colocar a cabeça na roda” olha as ideias dos visitantes hauehaeuha minha mae ia adorar esse museu, ela adora presepios
E quando eu estava lá, um cara colocou. Se tem aviso é porque o povo coloca, mesmo.
Que lindo esse post Marcia, aprendi um pouco mais com ele. Adoro presépios e tenho alguns em casa. Fiquei encantada com essa coleção, incrível os detalhes do napolitano e muito curioso o japonês.
Boas Festas.
O japonês chama mesmo à atenção, porque a gente esquece que há cristãos no Japão, embora uma parcela bem pequena devido ao grande massacre de cristãos no século 16.
Que interessante! Nunca tinha ouvido falar desse museu. Adorei saber dele! Você como sempre com ótimas dicas. Parabéns!
Não é um museu com acervo chamativo, mas vale pela historia. Obrigada pelo feedback e visita, Keul.
Márcia, que riqueza de post!
Como eu não sabia desse presépio napolitano ainda? Eu preciso muito voltar em SP, adoro a cidade mas ainda conheço tão pouco!
Eu achei uma riqueza de detalhes e beleza sem tamanho! Tambem quero levar meus filhos e netos um dia para ver essas delicadezas que simbolizam tanto pra gente (adorei a sua historia com presépios e família, acho que é isso mesmo que dá significado e importância para essa época – as memórias afetivas que carregamos).
Que nosso 2018 venha carregado de belezas, união e representatividade, como esses presépios da exposição Esperançå!
E cheio de descobertas e viagens pra gente!
Beijos e ótimas festas 🙂
Isso mesmo, Klécia, pensamentos positivos pra um 2018 melhor do que foi 2017. Boas festas pra vocês também. bjs
Oi Márcia, que linda a sua história com o presépio em sua infância, havia me esquecido deste papel que era usado como se fosse rocha, todo cheio de brilhinhos e que faziam a gruta onde Jesus nasceu. Hoje já não se usa mais, foi uma doce lembrança para mim também. Amei o Presépio Napolitano, adoraria conhecê-lo pessoalmente, quem sabe um dia? Feliz Natal, grande beijo!
Como é bom recordar tradições familiares, né? Obrigada pela visita, Gisele. Uma boa virada de ano pra você!
oi Márcia… que coisa mais linda da vida este presépio napolitano. Quantos detalhes, quanta beleza… Gostei ainda de saber sobre a origem deles e nome. Não tinha ideia. Eu também gostava muito de montar presépios de Natal quando era criança. rsrs
Gosto de arte sacra, não amo, mas gosto bastante. bj
Puxa, que interessante! Confesso que nunca tinha ouvido falar, deve ser uma ótima opção de passeio para fazer sozinho ou com a família. Obrigado por compartilhar a dica. Abs
Oi Marcia, que interessante, nunca fui nesse museu. Bastante coisa pra se ver, muita história. E um feliz natal para nós todos! 😀
Realmente Márcia, hoje em dia vemos mais Papai Noel e Boneco de Neve do que Presépios, que representam justamente o motivo da comemoração.
O Presépio Napolitano é impressionante, tem que visitá-lo com calma para ver os detalhes, não é mesmo?
bjs e ótimo Natal para você e sua família