“Todos os dias é um vai e vem, a vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar, Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar, Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar, Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir são só dois lados da mesma viagem
O trem que chega é o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
A plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar”
Ah, Milton, como não se lembrar de sua linda canção quando estamos em uma estação de trem, entre malas e expectativas!
E você, gosta de viajar de trem?
Meu marido tinha nas lembranças de infância as viagens de trem que o levavam ao interior de SP para vsitar os familiares – um pouquinho diferente, né? Mas eu nunca tinha usado um trem para viajar (além de SP-Mogi das Cruzes rsrsrs).
Minha primeira experiência foi ótima: nada menos do que a viagem no Eurostar, entre Paris e Londres. Saímos do hotel de Paris poucos minutos (não horas, como em aeroportos) antes do horário de embarque, mas como tinha trânsito acabamos por perder o trem. Nosso bilhete permitia mudanças sem custo, e fomos colocados no trem seguinte, com uma espera de 30 minutinhos.
Foi preciso passar pelo controle de passaportes, o que também nos atrasou, mas nada próximo da espera e dos trâmites de um aeroporto internacional. Após aguardar na plataforma, entramos em nosso vagão e a pergunta foi: onde vão nossas malas? Parece bobo, mas para quem nunca viajou de trem não é tão obvio assim. Não há nenhum funcionário para ajudar a embarcar suas malas e se elas estiverem muito pesadas, boa sorte!
Encontramos nossos lugares, com uma mesinha entre nossos assentos e de nossos vizinhos franceses de meia idade que não pareciam muito amigáveis para um papo. Bem, pelo menos se ofereceram para tirar uma foto nossa quando tentávamos fazer uma selfie com a câmera DSR, na era pré-selfies.
A pasisagem durante o trajeto decepcionou um pouco, sem grandes ou pequenos atrativos. O que mais me chamou à atenção (além da rapidez: 2h15 Paris-Londres) foi descobrir quantas poucas árvores há nos campos ingleses. Do lado francês, as pichações nos muros da Gare du Nord também foram surpresa. No mais, fica registrado que o trem é silencioso até mesmo no túnel sob o Canal da Mancha e corre sem solavancos apesar da alta velocidade.
St Pancras
Do outro lado do Canal da Mancha, Londres nos esperava e a estação St Pancras, que recebe os trens velocidade provenientes de Paris e Bruxelas, é um portal que faz jus à beleza da cidade. Construída em 1868, quando ostentava o título de maior vão coberto do mundo, foi ponto importante de partidas e chegadas nas duas grandes guerras.
A chegada a Londres, na estação St Pancras Escultura em homenagem a Sir John Betjeman, responsável por salvar a estação St Pancras e o hotel da demolição nos anos 1960
Guarda vários assuntos para fotografar, então não saia correndo, aprecie as esculturas, o contraste do aço azul e dos tijolos vermelhos, os janelões. Quando sair, tire mais fotinhos da fachada vitoriana. Se tiver sorte (e dinheiro sobrando), hospede-se no hotel anexo à estação, que permaneceu fechado por décadas, quando seus quartos viraram escritórios da companhia férrea.
Mas quando estiver na plataforma, feche os olhos e sinta o momento em que as crianças de Londres foram enviadas para o interior do país para fugir dos bombardeios; imagine quantas lágrimas de alegria e de tristeza esses tijolos testemunharam. Já é uma viagem, não?
Bon voyage!