Qual a diferença entre subir uma montanha popular como o Monte Titlis e subir a Fürenalp, ambas em Engelberg, Suíça? Enquanto no Titlis experimentamos uma babilônia, com gente de todo o mundo, minha vivência em Fürenalp foi completamente diferente. Do minúsculo teleférico, passando pela trilha panorâmica, até o grand finale no restaurante com uma das vistas mais fantásticas dos Alpes, não encontrei ninguém que não fosse suíço – ou alemão ou austríaco, afinal, não tenho conhecimento das diferenças linguísticas entre os tipos de alemão.
Veja como é a montanha que os suíços parecem guardar para eles. Afinal, Fürenalp não é divulgada e só a descobri porque pesquiso muito sobre a Suíça. Nas entrelinhas do relato, dicas diversas, aproveite e vá descobrir este segredo suíço.
Depois de dias cinzentos de chuvisco, o último dia da viagem surgiu lindo, perfeito para a trilha. Mas era dia de deixar Engelberg, e a cidadezinha estava ainda mais encantadora com o sol brilhando. A mala que eu empurrava antipaticamente insistia em me lembrar que apesar do lixo que eu retirava do apartamento do maravilhoso Titlis Resort, da preocupação em apagar luzes e fechar janelas, não, eu não morava ali. Deixei o cartão-chave na recepção do condomínio e caminhei até a estação de trem, onde deixei a mala me esperando para a aventura do dia. Bem feito pra ela! quem mandou me lembrar que eu era apenas turista naquele vale maravilhoso?!
Como chegar a Fürenalp
De Lucerna, o trem Luzern-Engelberg Express leva apenas 45 minutos para chegar à estação final de Engelberg, e a viagem está inclusa para portadores do Swiss Travel Pass ou do Tell Pass.
Na estação, comprei o bilhete Engelberg-Malpensa para a longa viagem, pois o passe que eu estava usando naqueles dias em Engelberg era o trekking pass, que dá direito a todos os teleféricos e gôndolas, mas não a trens. Sim, caro leitor, há vida além do Swiss Travel Pass:
Leia também: Passes Regionais na Suíça para economizar, Swiss Travel Pass vale a pena? Preços 2024 e outras dicas e Trem na Suíça
O ônibus para Fürenalp leva apenas 10 minutos e sai do ponto em frente à simpática estação de trem de Engelberg, o mesmo onde tomamos o ônibus para o Monte Titlis. Pelo caminho, avistei a abadia de Engelberg, fundadora da cidade que mais uma vez não tive tempo de visitar.
Como se vê na foto, o mesmo ônibus leva a outra montanha de Engelberg, a Brunni. Conhecida como o lado ensolarado de Engelberg, é ótima para quem está com crianças, tem até mountain coaster!
Ao chegar na estação do teleférico, uma surpresa: a cabine era tão pequena quanto um elevador, mas que vistas fantásticas (veja no Instagram). O Fürenalp é um dos poucos teleféricos que inicia a temporada de verão no final de abril, enquanto outros transportes de montanha ainda estão fechados.
O bilhete pode ser comprado na hora (CHF 15) e não há desconto para o Swiss Travel Pass, mas é grátis com o Tell Pass, passe regional da Suíça Central.
E este é um dos motivos para contratar uma consultoria ou roteiro personalizado de quem conhece bem o destino. Planejar uma viagem requer pesquisa, tempo, atenção – e principalmente conhecimento. Além da minha experiência em viagens na Suíça, sou certificada como Swiss Travel Expert e tenho contato frequente com fontes locais. Mande um email para mulhercasadaviaja@hotmail.com para saber mais.
O que fazer em Fürenalp
Num dia lindo como aquele, muita gente subiu a montanha Fürenalp. Senti que era uma despedida dos dias claros e quentes, pois o outono batia à porta na Suíça.
Além das vistas e caminhadas pelas trilhas, Fürenalp oferece atividades como parapente, ciclismo e escalada via ferrata um termo italiano comum nos Alpes, que identifica a escalada com cabos e outros trecos fixados na rocha das montanhas. Vi muitos ali naquele dia, e outro lugar popular para a prática é Mürren, no Vale de Lauterbrunnen.
Para os menos esportistas, um almoço em família após levar as crianças para brincar no playground com vista das montanhas também é ótima opção.
Restaurante com vista
Na estação do teleférico, o restaurante de montanha tem mesas externas e também no interior. Depois da trilha, precisei esperar um pouco para conseguir um lugar numa mesa de 6 lugares. Como eu estava sozinha, uma família de Zurique se juntou à mesa.
Eu estava tão cansada e atordoada pelo que tinha acontecido no final da trilha (vai lendo!), que mal tive ânimo para conversar. Mas foi curioso ter que responder o motivo de eu estar na Suíça, as montanhas. “Mas não tem montanha no Brasil?” perguntaram rsrsrs. Também conversamos sobre a similaridade dos picos com os da Patagônia, afinal, este é o apelido destas montanhas, uma alusão à região de El Chaltén, na Argentina.
Trilhas em Fürenalp
A trilha circular panorâmica (W21 no mapa abaixo) começa na saída do teleférico no nível da montanha, segue até a cachoeira Stauber, e desce até a estação do vale, com distância total de 9 km e perda de altitude de 772 metros. É possível descer antes, no teleférico Aebnet (veja foto abaixo) ou ir até a cachoeira e voltar. Veja quantas opções de trilhas:
A trilha é praticamente plana, havia pouca gente e só vi 2 ciclistas. Pela manhã, a montanha fica na sombra e fui acompanhando o sol subindo, fazendo vários registros.
Como você pode ver, é uma trilha belíssima e a neve que caiu nos dias anteriores em altitude perto dos 3 mil metros deixou os picos ainda mais bonitos.
Subindo a montanha fora da trilha!
Não fiz a trilha completa. Cheguei perto da cachoeira o suficiente para ouvir seu som e voltei, pois queria ficar nas alturas. Desci até o conjunto de cabanas onde fica o teleférico Aebnet e segui por uma trilha um pouco mais abaixo da original.
Percebi que estava sozinha ali, que a trilha descia demais – o que eu não queria. Além disso, o caminho ficou enlameado e a trilha desapareceu e seguia para a floresta de pinheiros, o que eu também não queria também por questão de segurança, apesar de estar em Fürenalp na Suíça,
Se havia pinheiros, eu já estava baixo demais, mas não quis voltar pelo mesmo caminho. Então olhei pra montanha e pensei: se eu subir aqui, vai dar na trilha original, pois são paralelas. Parecia simples, mas que sufoco! Pra piorar, não tinha sinal e eu ficava no Google Maps olhando a bolinha da minha localização para saber se faltava muito até a trilha. Sim, faltava muito!
Caminhei entre cocos de vaca e vegetação rasteira, lentamente. Lembrando de um post que li sobre cobras em trilhas, eu batia meu bastão de caminhada antes de pisar. Houve trechos de rocha pura, sem vegetação, e agradeci pelo dia estar seco para não escorregar. O sinal voltou e pensei em avisar meu marido no Brasil que eu estava fora de trilha, para ele ao menos pedir socorro caso eu não desse notícia, mas não quis preocupá-lo. “Não caia, não torça o pé, vai dar tudo certo”, eu repetia pra mim mesma.
A única foto que fiz deste trecho off-trail foi esta abaixo, quando parei para comer uma maçã para ganhar alguma energia, apoiada na inclinação do terreno e tentando manter a calma e recuperar o fôlego. E ainda pensando no trem que eu tinha que tomar em Engelberg!
Não registrei quanto tempo gastei ali. Quando finalmente ouvi gente conversando, fiquei aliviada por estar perto da trilha. Mas foi só quando cheguei ao restaurante que percebi o quanto eu tinha transpirado pelo esforço! Minha jaqueta estava ensopada até nas mangas e aproveitei o sol para secá-la enquanto tentava comer.
O que aprendemos hoje, amiguinhos? Se errar o caminho, volte por onde veio, não invente de subir uma montanha, ainda mais se você tem 54 anos e viaja sozinha! rsrs
Foi uma manhã linda em Fürenalp e os momentos bonitos superam o perrengue e escrevi este post com sorriso nos lábios e brilho nos olhos, com vontade de estar em Fürenalp ou outra montanha da Suíça.
Outros dois blogs escreveram do grupo Pequenos Grandes Viajantes compartilham dicas com o tema Destinos de Natureza:
- Cantinho de Ná – A cachoeira mais alta dos EUA – Ruby Falls
- Entre Mochilas e Malinhas – Guia da Ilha do Mel: como chegar, onde ficar, o que fazer.
