Tão imponente quanto outros monumentos mais populares de Roma, o Castelo Sant’Angelo teve um percurso histórico que modificou seu uso e aparência radicalmente. Seu terraço é um dos lugares mais legais para ver Roma do Alto. Mas sem conhecer sua história e os pontos altos da visita, mesmo visitando o Castelo Sant’Angelo por dentro você verá apenas pátios, afrescos, escadarias e corredores, por isso continue a leitura, ou se preferir contrate um guia para acompanhar sua visita, que sugiro ao final deste post.
Veja o que você encontra neste post e, se preferir, vá direto ao assunto clicando no menu abaixo:
Breve Relato da Longa História do Castelo Sant’Angelo
Também conhecido como Mausoléu de Adriano, pois foi o imperador quem encomendou sua construção para ser usada como túmulo, obra construída na margem direita do rio Tibre, entre 134 e 139 DC. Assim como o Mausoléu de Augusto, tem forma cilíndrica, mas este ainda não conheço, pois foi reaberto ao público em 2021.
Tal qual outros monumentos de Roma, como o Pantheon, o Castelo devia ser incrível, todo revestido em mármore, com esculturas e ornamentos, que foram retirados e usados em outras partes da cidade.
Os restos mortais do imperador Adriano e de sua família foram enterrados no Castel Sant’Angelo, mas o mausoléu serviu a outros tantos imperadores, até a morte de Caracala, em 217 DC, quando deixou de servir como tumba imperial. O Castel Sant’Angelo foi convertido em fortaleza militar em 401 dC, e posteriormente, por ordem do imperador Flávio Honório, integrou-se às Muralhas Aurelianas.
Queda do império romano, invasões de outros povos, Roma passou por período conturbado, mas foi a praga no século 6 que trouxe ao mausoléu o nome de hoje. Durante uma procissão de 3 dias, o arcanjo Miguel teria aparecido sobre a estrutura do mausoléu, o que foi interpretado como sinal do fim da peste.
No século 14 o papado recebe as chaves do Castelo Sant’Angelo, quando a estrutura passa por várias reformas e transformações.
Depois de perder sua função residencial, teve um período em que serviu de prisão e no século 19, com a unificação da Itália e Roma como capital, o castelo perdeu seus fossos para dar lugar a avenidas. No início do século 20, virou um museu, e como parte do centro de Roma, tombado pela Unesco.
O Corredor Passetto di Borgo
Uma das surpresas ao visitar o Castel Sant’Angelo (ao menos para mim, que não conhecia sua história), é o Passetto di Borgo, um corredor de 800 metros construído em 1277 conectando o castelo ao Vaticano. Afinal, naquele século 14, o castel Sant’Angelo era residência papal, um forte que oferecia proteção, e o corredor, uma fuga segura caso estivesse em perigo.
Além disso, como muralhas medievais, possibilitava o controle da região graças à posição elevada, e ao longo dos séculos foi modificado com adição de torres de vigia e caminhos para patrulha.
E o corredor encontrou seu propósito várias vezes, como em 1527, quando Clemente VII Medici (1523-1534) se refugiou no Castel Sant’Angelo durante o Saque de Roma. “O papa foi salvo correndo ao longo da passagem estreita, enquanto os cortesões e os nobres que o acompanhavam o protegiam com um manto escuro, para evitar que a túnica branca se tornasse um alvo fácil. Os guardas suíços lutaram bravamente para favorecer a retirada do papa, mas foram assassinados. Ainda hoje, aquelas paredes estão marcadas pelos inúmeros tiros de arcabuz disparados por mercenários alemães.” fonte: Turismo Roma.
A ponte Sant’Angelo
A ponte sobre o Tibre, concluída em 134 dC, também foi construída pelo imperador Adriano, e acho que se a intenção foi conferir dramaticidade do caminho da ponte até o mausoléu, missão cumprida! Lembra a majestade das avenidas de esfinges dos Templos de Luxor e Karnak, e de outros templos mortuários do Egito.
Antes da aparição do anjo, o nome da ponte era São Pedro, pois era usada por pedestres em direção à Basílica de São Pedro, a 1 km dali. Mas foi apenas no século 16 que a ponte ganhou as primeiras esculturas: São Paulo e São Pedro.
A ponte como vemos hoje é projeto de Gian Lorenzo Bernini, que instalou as grades de ferro e balaústres, além de adicionar 12 estátuas angelicais simbolizando a Paixão de Cristo. Segundo o Post-Italy, duas delas foram esculpidas pessoalmente por Bernini e por isso hoje estão protegidas na igreja Sant’Andrea delle Fratte, na região da Piazza di Spagna.
Leia também 8 Igrejas de Roma para conhecer por seu valor histórico ou artístico
Na minha opinião é a ponte mais bonita de Roma, e o clima lá é o mesmo da Ponte das Artes de Paris, com artistas de rua e muitas poses para fotos. Não deixe de passar por lá de dia e principalmente à noite, quando fica mais vazia e linda com a iluminação do Castel Sant’Angelo. Veja mais abaixo sugestão de tour noturno por Roma.
O que ver no interior do Castelo Sant’Angelo
Comprando ingresso ou tour, você poderá conhecer o interior do castelo, o que recomendo, e passará pelos pontos que destaco abaixo. Há placas com informações escritas em italiano e inglês em vários pontos, mas ainda acho legal uma visita guiada ou com áudio tour. Fui sem elas porque depois acabo estudando para escrever aqui no blog.
Apesar da estrutura circular, o Castelo de Sant’Angelo tem internamente uma construção retangular, e várias escadas e rampas circulares ligam um plano a outro, achei bem confuso e não lembro de ter visto algumas salas. Se como eu você gosta de saber onde está exatamente, faça a visita de olho no site Castel Sant’Angelo, que traz a planta e informações de cada ponto visitado.
Rampa em espiral
No nível 1, com elevação de 12 metros, a rampa em espiral levava à sala da urna, local onde repousava a urna com cinzas do imperador. Projetada para ser percorrida pelo cortejo fúnebre do imperador, não tem aberturas para o exterior, exceto quatro entradas para passagem de ar e luz.
Soterrada para fins defensivos mo século 6, foi reaberta na primeira metade do século 19, restabelecendo a ligação original entre os vários níveis do monumento.
Hoje é tomada por multidões de turistas e iluminada com eletricidade, mas originalmente possuía apenas frestas que traziam luz natural.
Rampa diametral
A rampa diametrale fica no nível 2, onde também estão entre outros, os 4 bastiões batizados com os nomes dos apóstolos Mateus, Marcos, Lucas e João. O acesso ao passetto di borgo e a sala da urna. Repare na foto os dois cortes na parede que emoldura a porta, onde dois canhões estavam preparados para receber visitas indesejadas.
No nível 3 estão a prisão e a olaria. No 4, a decorada sala de Apolo, e outras salas menores como a de Clemente 7 e 8. E se quiser saber como era uma sala de banho papal, veja a de Clemente VII.
Pátio do Anjo
A estátua de São Miguel, com 3 metros com asas de cobre, é obra de Raffaello da Montelupo, aprendiz de Michelangelo. Foi substituída pela atual, executada pelo escultor Peter Anton von Verschaffelt em 1753, e está neste pátio no nível 4 desde 1910.
Apartamentos Papais
No nível 5, além do arsenal ficam os apartamentos papais, e a Loggia sul e norte. Nesta parte do Castel Sant’Angelo vemos seu lado renascentista, com belos afrescos, motivos clássicos e recursos tromp l’oeil.
A sala de Perseu foi escritório de Paulo III e o teto decorado traz pituras de 1545-46 com narrativa mitológica de Perseu. Tem um visual pesado e dá acesso à Sala Paolina. Um pouco mais leve é a vizinha sala do Cupido e Psique, quarto de Paulo III.
Uma das mais importantes do apartamento papal, a sala Paolina foi onde embaixadores e outros convidados estatais eram recebidos. O tema das pinturas escolhido foi das figuras de São Paulo e Alexandre Magno numa referência ao nome do pontífice que transformou os aposentos, Alessandro Farnese, ou papa Paulo III. Este post do Storia Viva Viaggi explica direitinho o significado das pinturas e sua intenção política.
E se o nome Farnese te parece familiar, é porque a coleção Farnese é o maior conjunto de esculturas clássicas da antiguidade greco-romana, e você pode conhecê-las no Museu Arqueológico de Nápoles. Eu fui, veja o post, que museu fantástico!
Uma das adições do tempo do castelo como residência, a loggia de Julio II dá acesso à Sala Paolina com vista para o rio Tibre é embelezada com afrescos. A loggia de Paulo III tem vista para o norte, o Vaticano, entrada dos aposentos privados de Paulo III, decorada com afrescos e mármore travertino. Porque naquela Itália, um terraço era mais que um terraço.
Corredor de Pompeia, Sala do Tesouro/Biblioteca
No nível 6, a passagem estreita que liga a Sala Paolina à sala della Biblioteca tem pinturas protegidas por vidros.
As janelas do último nível que vemos na fachada frontal foram adicionadas no século 18, para escritório e residência do responsável militar do castelo.
Terraço do anjo
A vista 180 graus de Roma a partir do terraço no nível 7 é um motivo a mais para a visita ao Castelo Sant’Angelo e foi onde mais me demorei. Sugiro que você suba depois de poder reconhecer cúpulas de igrejas principais de Roma, como o Pantheon, da Basílica de São Pedro e de outros marcos de Roma, como o Altar da Pátria. Clique sobre as imagens para ampliá-las.
A estátua de São Miguel no topo do Castel Sant’Angelo
A estátua original do século 18 que simboliza a aparição do Arcanjo Miguel sobre o Castelo, em movimento de embainhar a espada, significando o fim da peste/praga, foi substituída em 1986 por uma de aço e titânio. Acho lindo o contraste da estátua iluminada em cor fria e o amarelado do Castelo à noite.
Ingressos e tours para o Castelo Sant’Angelo
O Castelo Sant’Angelo é uma atração turística popular de Roma, por isso costuma ter grandes filas, principalmente na alta temporada (primavera e verão). Além de economizar tempo, comprando antecipadamente você programa seu roteiro, aproveitando melhor os dias. Afinal, estamos pagando quase 6 vezes mais para poder viajar à Europa, planejamento = economia.
Há vários tipos de ingressos e tours, e selecionei aqui alguns, mas pelos links você é direcionado a outras opções nos sites da Civitatis e Tiqets, que uso para minhas viagens e indico a leitores e clientes de roteiros personalizados. Os valores são os de abril de 2023 e podem ter alterações. Mesmo preço do site oficia do Castel Sant’Angelo, e você retribui a gentileza das dicas ao reservar pelos meus afiliados : )
- Bilhetes para Castel Sant’Angelo: Trilha Rápida & Visita Guiada – Tour guiado em inglês, em grupo de no máximo 20 pessoas, com duração de 2 horas. Inclui ingresso sem filas e fones de ouvido para escutar o guia. € 49
- Castel Sant’Angelo: Pular a Fila com Audio Guia – Eu gosto deste tipo de tour, mais barato e com guia de áudio (alemão, chinês, espanhol, francês, inglês, italiano, russo) baixado no nosso celular, o que permite conhecer o lugar no meu ritmo. Leve seus fones de ouvido! Inclui ingresso sem fila. € 24.
- Castel Sant’Angelo: Trilha Rápida – Ingresso sem áudio ou guia. € 19.
- E se você é fã dos livros de Dan Brown ou do filme Anjos e Demônios estrelado por Tom Hanks, este tipo de tour por Roma passando pelos pontos do filme e comercializado pela Civitatis pode ser divertido.
Tour noturno em Roma em português
- Guarde um pouco de fôlego para passear por Roma à noite, é um espetáculo! E se tiver receio de caminhar por Roma depois do pôr do sol, veja o Tour noturno por Roma iluminada da Civitatis. É feito em microônibus, com guia em português, e tem duração de 3 horas. R$ 207 (adultos) R$148 de 3 a 16 anos).
- Visita guiada pelo Castelo de Sant’Angelo com subida ao terraço – tour de 3 horas
Não perca dicas práticas para quem vai pela primeira vez a Roma: Guia para planejar sua Viagem
Mais dicas para ver o castelo sant’angelo por dentro
- acessibilidade – O Castelo Sant’Angelo tem muitas escadas, e o site oficial diz ser possível usar elevadores mediante reserva.
- ao lado da bilheteria tem um guarda volumes, o guardaroba.
- quando fui, uma placa informava que portadores do Roma Pass não tinham direito à fila rápida, ou como chamam, fura fila.
- vale a pena parar para um aperol spritz acompanhado de um prosciutto con melone na Caffetteria Le Terrazze Castel Sant’Angelo e sentir o privilégio de estar e ver do alto uma das cidades mais lindas e importantes da história do mundo.
Como chegar ao Castelo Sant’Angelo
A estação de metrô mais próxima é a Ottaviano, linha A. De lá são mais 20 minutos de caminhada.
De ônibus, as linhas que param perto do Castelo Sant’Angelo são 23, 280, 62, 64, 982, N70 e N904. Desça na Piazza Pia. E lá você já avista os arcos do Passetto e a estátua do Arcanjo Miguel.
Se tiver alguma dúvida ou só quiser mandar uma mensagem, deixe nos comentários. Boa Roma pra você!
Respostas de 3
Amei essas dicas para conhecer o Castelo Santangelo! Vou usar com certeza. Minha viagem a Roma está chegando e seu blog tá me ajudando muito. Obrigada 🙂
Eu nunca tinha ouvido falar do Castelo Sant´Angelo até ir pra Roma e ver de longe. É muito bonito mesmo, só aí é que fui saber o que era e conhecer a história, agora sei que é um ponto bem famoso
O Castelo Sant’Angelo parece ser maravilhoso, adoraria conhecer. Vou por na minha lista de desejos rs. Amei o relato!